Encarnação do Demônio, novo filme do Zé do Caixão, é um clássico indigesto e autoral
Cult, trash e sanguinolento é o que vem à cabeça quando se está diante de Encarnação do Demônio, o fim da trilogia do Zé do Caixão - que chega à tela grande com 40 anos de atraso. Ambientado na favela, agora o assassino-coveiro (preso em um manicômio por 30 anos) segue sua busca pela mulher superior que lhe dará o filho perfeito e vive em uma terra sem lei - uma atualização da história que começou a ser escrita há décadas. No porão desse submundo, o Mestre do Mal, seu assistente Bruno - o corcunda - e um grupo de seguidores psicóticos protagonizam decapitações, mutilações e torturas à base de facas, cruzes e queijo quente. Seguindo a genialidade original da estética Mojica de tocar o terror, o roteiro de Dennison Ramalho (Amor Só de Mãe, 2003), escrito em parceria com o próprio Marins; a montagem de Paulo Sacramento (O Prisioneiro da Grade de Ferro, 2004); e a fotografia de José Roberto Eliezer são peças-chave para eternizar esse filme como um clássico do horror.
A arte de Mojica sempre primou pelo efeitos quase artesanais, pelo caráter declamatório dos diálogos, pelo exagero das interpretações, pela nudez das mulheres-objeto e pelo abuso da carnificina - uma saída para criar em um país que viveu épocas de pouco (ou nenhum) cinema. O que torna o "Unhas Compridas" um dos mais autorais criadores brasileiros também é sua principal fragilidade - a invenção de uma realidade fantástica que permite ser interpretada como experimentalismo puro ou tosquice. Encarnação do Demônio chega com ares de superprodução, mas mantém-se fiel ao seu caráter "Filme B" (baixo orçamento e muita coragem para inovar na forma de filmar o medo) celebrado no mundo inteiro. Josefel Zanatas volta para aterrorizar os de boa família e levantar as saias das mocinhas.