O fotógrafo Domenico Pugliese registra os últimos dias de uma ilha que está prestes a fi car no passado
Em dezembro de 2014, um acordo histórico entre Estados Unidos e Cuba deu início ao reestabelecimento das relações entre os dois países, mais de 50 anos após a instauração do embargo econômico imposto pelo governo norte-americano à ilha da América Central. Ambos os lados concordaram em libertar prisioneiros políticos,
enquanto o presidente Barack Obama começou o processo de criar uma embaixada na capital, Havana. Desde então, algumas atitudes simbólicas já levaram a proposta adiante, como o anúncio da retirada de Cuba da lista dos Estados Unidos de nações que apoiam o terrorismo.
Em janeiro de 2015, Domenico Pugliese, fotógrafo italiano que atualmente se divide entre Londres e São Paulo, esteve em Cuba para registrar “os últimos dias da ilha antes da abertura” – não é, de fato, uma ampla abertura econômica, mas o aumento do turismo e a permissão de maiores importações de rum e charuto, por exemplo, para os Estados Unidos, devem mudar sensivelmente a cara do lugar. Em alguns anos, inúmeras nuances retratadas por ele muito provavelmente poderão ser sentidas apenas nos registros fotográficos do passado.
Com trabalhos publicados em veículos de prestígio de diferentes partes do globo – entre eles o jornal britânico The Guardian e o francês Le Monde –, Pugliese fez uma extensa “road trip” por Cuba, durante um mês. Ele viajou de carro de ponta a ponta do país e experimentou dos charutos e açúcar ao comunismo e falta de determinados alimentos – e tudo o que há entre esses dois extremos, como a paixão dos cubanos pelo besebol, a idolatria a ícones socialistas e os carros da década de
1960 (alguns, extremamente bem conservados; outros, longe disso).
“Os cubanos são um povo muito especial, de tal maneira que os chamaria de heróis”, declara Pugliese. “Lá, encontrei valores que não existem mais na sociedade
ocidental. Sei que a mudança é inevitável. Tentar prever o que vai acontecer agora não passaria de especulação. Contudo, minha experiência em Cuba foi estarrecedora.”
Desde o início um amante da fotografia documental e de colocar o pé na estrada, Pugliese focou o olhar e as lentes no povo cubano e no estilo de vida dele nesse período, que, acredita-se, será um retrato de uma era que ficará para trás.