O artista californiano Jim Phillips ajudou a criar a identidade visual do esporte
Paulo Cavalcanti | Tipografia: Raphael Galassi Publicado em 15/08/2014, às 16h46 - Atualizado em 19/08/2014, às 16h42
Na califórnia da década de 1960, o universo do surfe foi primordial para o surgimento da cultura do skate. O ilustrador Jim Phillips ainda é um dos mais importantes personagens dessa transmutação. A marca visual dele é inconfundível: as criações do artista para pranchas de surfe e shapes de skate misturam surrealismo e psicodelia, com traços amalucados, coloridos e bem-humorados. Nascido em 1944 na cidade de San Jose, Califórnia, Phillips desde cedo teve inclinação para o desenho. “Meu pai era militar e por isso eu estava sempre me mudando. Passei por oito escolas diferentes. Em casa, me davam caneta e papel para eu ficar quieto”, ele conta. Como boa parte dos adolescentes californianos, Phillips se apaixonou
pelo surfe e por tudo relacionado ao esporte. “As únicas coisas nas quais eu era bom eram surfar e desenhar”, afirma. “A surf music, com os Beach Boys e Jan and Dean fazendo a trilha sonora, foi uma coisa gigantesca. Surgiram lojas, revistas, linhas de roupa, tudo relacionado ao gênero. Eu estava mergulhado nesse ambiente.” O amor pela prancha na água logo se transferiu para os shapes sobre o asfalto. “Os primeiros skatistas usavam pranchas de surfe adaptadas para praticar o chamado ‘surfe de calçada’. Eu era um deles”, explica Phillips. “Comecei a rodar no final da década de 1950. Naqueles tempos idílicos, o skate representava para mim emoção e liberdade. Arriscávamos a vida nas colinas com o equipamento mais tosco possível. Na época, era só um passatempo. Mas nos anos 1970 se tornou um esporte de verdade depois que as rodas e os shapes foram refinados. Em retrospecto, eu vejo que o skate se fundiu com a minha vida.” Phillips passava o tempo na sala de aula desenhando pranchas e shapes. Ele acredita que os anos de formação da personalidade são importantíssimos para o que o artista se tornará quando adulto. Na época em que ainda era estudante, o traço do cartunista George Herriman, criador do Krazy Kat, foi um dos primeiros que o marcaram, fora os desenhos animados dos irmãos Fleischer e de Tex Avery. Outra grande inspiração foi a revista Mad. “Quando eu tinha 14 anos, minha irmã me mostrou um exemplar e eu não acreditei como aquilo era engraçado”, ele se recorda. “Nomes como [dos desenhistas] Will Elder e Wally Wood tiveram uma grande influência em meu estilo e conteúdo. Comecei a desenhar cada vez mais.”
Em 1961, Phillips deixou de criar apenas para si e para os amigos e teve seu primeiro trabalho publicado: uma ilustração que fez de uma woody (caminhonete usada pelos surfistas) na revista The Surfer Quarterly. A partir daí, o trabalho dele logo rodou a comunidade do surfe – e, mais tarde, também passou a aparecer em pôsteres de shows, fanzines e, claro, skates. “Eu também gostava de desenhar meus heróis da prancha. Um deles era Rich Novak, que adorava a arte que eu fazia” relembra o artista. “Ele me chamou para criar logotipos para uma loja de produtos de surfe e skate. Logo depois, a Santa Cruz Skateboards nasceu. O resto é história.” O envolvimento de Phillips com a Santa Cruz, principal fabricante e distribuidora de shapes e acessórios dos Estados Unidos, garantiu a ele a imortalidade no mundo do skate. Por décadas Phillips se manteve ocupado e requisitado. Hoje, às vésperas de completar 70 anos, ele se encontra aposentado na cidade de Santa Cruz. Não pode mais praticar esportes como antigamente, e se mantém longe da praia – ele luta contra um câncer ósseo incurável e o tratamento o faz permanecer em casa.
Mesmo com os problemas de saúde, a cabeça de Phillips continua em paz. “Para a minha grande satisfação, muitas pessoas dizem que eu as inspirei a se tornarem artistas. Meu filho Jimbo continua a dar vida ao trabalho que faço e muitos que trabalharam em meu estúdio seguem enfrentando novos desafios”, ele conta. Além dos ensinamentos passados a Jimbo, Phillips também tem atuado como uma espécie de “tutor” do ilustrador inglês Zak Trevett, de apenas 13 anos. “Ele já está sendo bem notado”, diz Phillips. “Então, podemos esperar mais coisas legais pela frente.”
Talento em família
O filho e o neto de Jim Phillips dão continuidade ao legado do pioneiro
Jimbo, filho de Jim Phillips, também é um artista muito conhecido e respeitado na área das artes visuais. Ele não atua apenas criando material para o surfe e o skate, mas também tem deixado a marca dele na publicidade e em videogames. “Eu fico muito contente que Jimbo siga a tradição do meu trabalho. Ele também se destacou na Santa Cruz”, diz Phillips. Colby, filho de Jimbo, está seguindo os mesmos passos do pai e do avô. “Ele tem apenas 12 anos e já está se tornando um profissional”, conta Jim Phillips. “Colby fez design de camisetas para a Santa Cruz. Depois, me mostrou as fotos dele recebendo o pagamento e disse: ‘Já estou sentindo a pressão, vô’