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Danilo Gentili

Polêmico, humorista rebate pecha de racista e fala sobre juventude religiosa

Anna Virginia Balloussier Publicado em 09/10/2009, às 09h56 - Atualizado em 05/09/2012, às 19h21

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Piada pegou mal para Gentili: "É pesado ser chamado de nazista" - ROBERT ASTLEY SPARKE
Piada pegou mal para Gentili: "É pesado ser chamado de nazista" - ROBERT ASTLEY SPARKE

Era como aquela clássica em que o português vê uma casca de banana a dez metros e pensa: "Ó pá, lá vou eu me estropiar de novo". Danilo Gentili, 29 anos, um dos engravatados do CQC, sabia que o tombo ia ser feio quando pôs em seu Twitter piada envolvendo "macaco" e "jogador de futebol". E mesmo assim seguiu em frente. Pronto: choveram acusações de racismo. Ele concedeu a entrevista em seu apartamento em São Paulo, com armário só de camisetas brancas e pretas - para falar sobre esse caso e outros. Como a vontade de ser pastor na juventude, quando "sentia um vazio", e a vez em que foi derrubado como boliche por seguranças do Sarney.

Seu contrato com o CQC é anual. Até quando vai renovar com a Band?

Tudo tem ápice e queda. Com qualquer programa é assim. Já recebi propostas de lugares grandes e pequenos. Mas ainda não dão a liberdade que tenho no CQC. Lá não preciso ser pop, pagar de gatinho. É subversivo.

Se vê no CQC até 2027?

Minha prioridade é o programa mais autoral [direcionado] para mais gente.

Não dá para ser 100% autoral na TV. Sempre tem alguma limitação, não?

TV é concessão do governo, né? CQC é produção independente; lá não deixam chegar à equipe criativa problemas [de censura]. Lembrei de uma! O negócio da Gillete com o Dunga [em coletiva, o técnico da seleção se irritou com perguntas de Gentili]. Segundo a direção, o programa já estava completo - a matéria ficou fria. E nem era tão engraçada.

Mas essa é a versão oficial. Qual é a sua versão?

Minha versão oficial é a deles.

O que aconteceu, afinal, com os seguranças do Sarney?

Eram vários repórteres, mas eu era o único que os seguranças tentavam afastar. Insisti, e aí um deles me segurou e derrubou. Foi para me tirar da jogada.

Dizem que você pode ter exagerado - como o jogador que finge a dor para provocar falta no adversário.

Não teria como eu ter me jogado! Ele era muito grande [Gentili tem 1,92 m]. Não machucou. Tem porrada muito pior, que a câmera quase nunca grava - principalmente abaixo da cintura. Chute no saco, dedada no cu...

Você tem mais de 220 mil seguidores no Twitter. Dá para mudar o país assim?

Lógico que não! Sento na cadeira e finjo que levo a sério. Aquilo é uma comodidade, faz parecer que você é engajado.

Você planejava ser pastor da Igreja Batista, mas foi expulso. Confere?

É verdade! Eu era adolescente, de família católica. Com 14 anos, comecei a sentir um vazio. Procurei religião em vários lugares. Achava missa chato. Foi quando tomei a Bíblia como regra de fé.Aí encontrei a Igreja Batista. Até hoje, meus melhores amigos são de lá. Cogitei muito ser pastor. Naquela época, a molecada ia pra casa um do outro, se divertia, tocava violão

Nada de birita?

Rolava vinhozinho [risos].

E como rolou a expulsão?

O bispo estava envolvido em esquemas. Fizemos uma faixa, eu e um cara da Gaviões da Fiel, trocando o "S.O.S. da vida" por "$.O.$. da vida?". Lá do palco, o bispo mandou abaixarmos aquilo. Até papo de apedrejar rolou.

Você ainda é crente?

Costumo falar que cansei de palhaçada e virei humorista.

Lembra da primeira piada?

Falei que, se a primeira vez [no stand-up] fosse que nem minha primeira vez na cama, para relaxarem - acabaria rápido.

Isso foi quando?

Tinha 25, 26 anos. Sempre persegui o gênero. Na igreja, tentava pregar contando piada. E, antes disso, nos trabalhos de escola. Meu pai morreu de infarto, quando eu tinha 24. Em seis meses, minha irmã morreu. Roubaram o carro uma semana depois. Por essa época, descobri o que era stand-up - já sabia o que era, mas não o nome. Aí os caras começaram a fazer isso em São Paulo. [A comediante] Marcela Leal viu meu blog e me chamou.

Existe tabu na comédia?

Comediante vive de tentativa e erro. Meu juiz é o público. Outro dia fiz piada no Twitter com um macaco... Foi só alguma coisa que eu joguei na madrugada. Isso não entra em "tentativa e erro". Foi acidente.

Você falou que não levava o Twitter a sério... Mas usou 6.472 caracteres no seu blog para se defender por algo dito em menos de 140. O comediante deve se conter em certos assuntos?

Acho que não.

Faria piada sobre o Holocausto?

Se achasse engraçado, sim.

Você não se arrepende de ter postado aquilo?

Se eu não gostasse de preto, não faria piada. Se essa fosse a minha opinião. Cresci num lugar [Santo André, SP] onde todos faziam piada de preto, de japonês. Uma vez ouvi alguém dizer que, se Hitler tivesse vencido a guerra, eliminaria judeus, homossexuais... e depois comediantes. Muita gente crucificando. É pesado ser xingado de nazista. Ouvir que eu devia morrer de câncer, que era um playboy de classe média.

É verdade que você pediu para tirar do ar um rap que te chamava de racista?

Não! Achei bem feito e ri! Só penso que ele pecou em três áreas. 1) Não se identificou. Falei o que falei e dei a cara a tapa. 2) Apagar comentários contra. No meu blog, você encontra várias críticas. 3) Não devia ter mentido dizendo que acionei a Justiça para tirar o vídeo.

Hélio de la Peña escreveu sobre o caso. Chegou a conversar com ele?

Hélio falou para não saírem me empalando por uma piada sem graça. Pus no Twitter trecho do Almanaque Casseta Popular que trazia umas 20 piadas de preto. Coisas do tipo, "qual a diferença entre preto e câncer? Câncer evolui". No cantinho: "No próximo número, os judeus"! Não quis esfregar na cara. Mas o Hélio era único num conselho de brancos.

Você perde o público, mas não perde a piada?

Acho que todo comediante tem essa inclinação.