Ryan Gosling está em Caça aos Gângsteres, homenagem moderna ao estilizado mundo do crime dos anos 40 e 50
Seria difícil saber o que esperar de um filme de gângsteres, livremente baseado em fatos reais, dirigido por um diretor pouco experiente, cujo único sucesso foi uma comédia sobre zumbis. Mas Ruben Fleischer, o cineasta em questão, fez, a seu modo, um filme do gênero para as novas gerações, como ele mesmo define. Com um grupo de mocinhos – nem tão bonzinhos assim – encabeçado por Josh Brolin e Ryan Gosling e um gângster interpretado por Sean Penn (na pele de Mickey Cohen, que realmente aterrorizou Los Angeles entre as décadas de 40 e 50), Caça aos Gângsteres usa a gravação digital sem se preocupar em fazer parecer com que o filme tivesse sido rodado no meio do século passado. As lutas, os efeitos nas cenas em que balas saem lentamente dos canos, tudo é mostrado como se fosse em um filme de ação atual, com um quê de história em quadrinhos. Foi esse fator, entre outros, que atraiu Ryan Gosling, um ator nem tão acostumado – ou afeito – a superproduções hollywoodianas. Mas, para Gosling, o que importa é manter-se envolvido com o cinema, qualquer que seja ele. “Os filmes são a minha vida, e a minha vida são os filmes”, ele afirma, em entrevista em Los Angeles.
Este não é um filme de gangster comum. Quais são seus aspectos favoritos nele?
Ainda não vi a versão final. Sei que está sendo comparado a grandes filmes do gênero, mas minha primeira experiência com gângsteres foi Dick Tracy. Era obcecado por ele quando criança. Quando li o roteiro, achei que não era tão cênico quanto Tracy, mas que tinha uma abordagem cênica em relação ao gênero. E amei Zumbilândia, achei que seria interessante ver a visão de Ruben desse universo.
Como foi o contato que vocês tiveram com as pessoas que fizeram parte da história real?
Algumas delas foram ao set, nos deram conselhos. Jerry Wooters, em quem meu personagem foi baseado, não está mais vivo, mas os filhos dele foram ao set. Eles foram ótimos, me contaram detalhes interessantes sobre o pai deles. É duro interpretar uma pessoa real. Eles entenderam que era um filme bem diferente da realidade.
Você se interessa por armas?
Na verdade, não. Quero dizer, sou do Canadá, então...
O glamour da Hollywood dos anos 40, 50, te atrai?
Eu amo aquele tempo. Quando era pequeno, morávamos perto de uma livraria, então todos os filmes que conseguíamos eram da livraria. Eram todos filmes meio velhos. Minha primeira paixão foram as Andrews Sisters, as três [risos]. Então, sempre foi um sonho trabalhar em algo assim.
Você sempre parece muito seguro nos papéis que interpreta. Isso é parte dos personagens ou você que transmite isso a eles?
Eu luto com a minha autoconfiança mesmo. Acho que isso que é ótimo em filmes independentes versus filmes de grandes estúdios. Filmes de grandes estúdios tendem a ser sobre pessoas confiantes e filmes independentes sobre pessoas inseguras. Quando eu estou confiante, vou lá e faço um filme grande. Mas nesse caso, quando você falha, falha em um nível muito maior – e aí perde a confiança e volta para o cinema independente, e tenta encontrá-la de novo. É meio que uma dança.
Você fala sobre seus papéis colocando personalidade neles, e acaba comentando mais sobre eles do que sobre si. Atuar é uma experiência muito pessoal?
Eu não sei bem o que estou fazendo. Não sou um ator treinado, ainda estou descobrindo. Quando meu tio veio morar com a minha família, e eu tinha uns 6 anos, descobri que ele era imitador do Elvis. De repente ele está colocando um macacão, joias, cantando no espelho. Levou meses, mas ele estava aos poucos construindo esse personagem. E, então, enquanto ele estava no palco, aparecia um monte de gente gritando para o meu tio – e ele tinha um bigode, uma marca de nascença e nenhum cabelo. Nada parecido com o Elvis. Mas entrava lá e virava o Elvis. Quando o show acabava tudo esmorecia, todo mundo voltava pra vida normal. Para mim, é melhor quando sua vida se transforma naquilo em que você está trabalhando, é difícil separar. Eu nunca sinto que me tornei o personagem, como atores de método dizem, mas o personagem se torna, sim, parte da minha vida.
Você não aparece muito em tapetes vermelhos antes de premiações e estreias. Não gosta?
Eu só não quero que vocês fiquem enjoados de mim. Eu já fico enjoado de mim [risos].
Você está conseguindo ficar confortável com a fama, com o fato de que não dá para ter uma vida 100% normal com ela?
Não posso reclamar. As coisas mudaram muito, quando eu era criança não havia blogs, câmeras de celular. Mas, de um jeito é... [Pausa] A avó de uma amiga, quando faz lagosta, a mergulha em vodca antes de fervê-la. Deixa a lagosta bêbada e aumenta o fogo. Eu me sinto como essa lagosta. Sou a lagosta e a avó ao mesmo tempo, porque foi escolha minha, fiz isso comigo mesmo. Claro, tem coisas que parecem excitantes. A palavra “paparazzi”, por exemplo, evoca ideias divertidas, festas. Mas, na verdade, é só um monte de caras se escondendo em arbustos. Não é divertido.
Atuar em filmes independentes te ajuda a manter os pés no chão?
Sim. Porque mesmo que esteja tudo ótimo para você [em Hollywood], sempre acaba. Você tem que saber disso e tentar ter algo além, porque por mais excitante que seja, é uma experiência transitória. Não dura muito.
O que te traz felicidade, além de trabalhar com cinema?
Filmes são parte da minha vida. Quando era pequeno, era meio que um fetiche. Quando consegui filmes para maiores de 17 anos em uma loja, não tinha permissão para assistir. Tinha que escondê-los para que meus pais não vissem. Eles se tornaram meu segredo. Filmes são minha vida, e a minha vida são os filmes.
Você passa muito tempo malhando na academia?
Eu não frequento academia. Faço boxe e balé.
A versão clássica do balé?
Eu tento, mas não faço muito Gosto muito, fazia balé quando criança. Parei durante muito tempo, então é engraçado voltar agora, adulto. Riem muito de mim durante as aulas.
E o Dead Man’s Bones (projeto musical de Gosling com Zach Shields)? Há chance de vocês gravarem um novo disco?
Sim, em algum momento. Mas não agora, porque nós dois começamos a fazer muitos filmes. Foi ótimo fazer aquele disco, acho que me ajudou a fazer cinema. A música me ajudou a entender melhor o cinema.
Como?
Porque agora quando abordo uma cena, penso nela de um jeito mais musical. Tipo: “Aquele cara está na bateria. Aquele é o guitarrista solo”. Você tenta imaginar em que instrumento cada um está, e qual o seu lugar nisso. Neste filme, todo mundo tinha seu instrumento. Eu estava com o triângulo.
Em Caça aos Gângsteres, os personagens do “esquadrão” arriscam a vida para tentar salvar Los Angeles dos criminosos. Você também colocaria tudo de lado por uma causa?
Acho que é preciso estar na situação para saber. O negócio com essas situações é que às vezes você acha que é aquela pessoa e, de repente, aquilo acontece e você não é. Uma vez eu estava em um avião e por um minuto todos acharam que ele fosse cair. As máscaras de oxigênio caíram. Todo mundo estava agindo de um jeito muito bonito, se conectando, chorando. E eu só fiquei lá tentando terminar meu bife. Foi um negócio meio obsessivo, terminar a refeição, e muito embaraçoso. Eu esperava ser mais legal que isso, fiquei muito envergonhado. Então, não dá para saber