O apelido de Camaleão do Rock não veio de graça para ele. Ao longo de cinco décadas de carreira, David Bowie – morto no último domingo, 10, aos 69 anos – foi o poeta, o músico, o escritor, o compositor, o pintor, o astronauta, o extraterrestre, o crooner.
Escolhemos dez faces desse Bowie tão eclético e diverso. Algumas são pouco usuais, já vamos avisando, mas trata-se de uma interessante viagem por essas muitas pessoas dentro de uma só.
David Bowie aproveitou a humanidade conseguir chegar à Lua para lançar "Space Oddity", no disco David Bowie. Foi a odisseia espacial que apresentou o músico para um público maior – seu primeiro single a chegar aos cinco mais tocados da Inglaterra.
Em "The Man Who Sold The World", do disco de mesmo nome, o músico assume a persona de narrador de contos de terror que fariam Stephen King se arrepiar. Ele mostra sua capacidade de escrever canções em forma de narrativa, com diálogos tensos entre personagens cujas identidades são duvidosas. Na música, a ficção-científica encontra o horror. Foi regravada por Nirvana e Lulu.
O papel de escritor é ampliado e a obra "Life On Mars?", psicodélica a ponto de se tornar surrealista, é a prova maior disso. As palavras funcionam como pinceladas nessa tela gravada no disco Hunky Dory. Não é por acaso que dizem que esta canção transforma Bowie em uma espécie de Salvador Dalí.
Com "Changes", um grande clássico que traz a assinatura de Bowie, o músico assume a figura do glam: o grande Camaleão do Rock.
O apocalipse também chega com Bowie, o profeta. No quarentão genial The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, ele assume a forma de Ziggy Stardust, um alienígena roqueiro que chega para nos avisar do fim do mundo e, claro, viver todos os extremos do rock and roll. Em "Five Years", ele avisa que o mundo chegará ao fim em cinco anos.
Mas Bowie também pode trazer esperanças, ora! É “Starman”, um funk acústico, que traz alegria para a população da Terra. Entre as várias interpretações para esse homem das estrelas que viria nos socorrer, uma diz que seria Jesus Cristo. Mas é difícil saber exatamente o que Bowie queria dizer com isso, certo?
O termo Plastic Soul é cunhado para denominar músicos de pele branca que tocavam soul music, nos anos 1960. O primeiro a entrar no rótulo foi Mick Jagger, mas Bowie, o Camaleão, não poderia ficar longe disso também. Pois ele passeou bastante pelo soul e pelo funk e mostrou, inclusive, um excelente requebrado. Um exemplo disso é "Young Americans", cheíssima de suingue.
Impensável, mas previsível. Bowie, músico que costumeiramente olha para frente, para a vanguarda, também deu uma espiadela para trás. E chegou nos crooners, mas o fez do seu próprio jeito. Em "Wild Is The Wind", ele surge galanteador, soltando o vozeirão grave e sem chegar nos falsetes. Trata-se de uma cover de Dimitri Tiomkin e Ned Washington. O cantor Johnny Mathis já havia gravado a música para o filme de mesmo nome e, com isso, foi até indicado ao Oscar.
A fase de Berlim de é uma das mais famosas de Bowie, que lançou o que ficou convencionado como a Trilogia de Berlim, ou a Trilogia Eletrônica, gravada enquanto ele morava na Alemanha. Os três discos foram lançados em parceria com Brian Eno, entre 1977 a 1979: Low, Heroes e Lodger. Selecionamos "Heroes", grande clássico no qual o músico se aventura pelo Krautrock (gênero de rock e música eletrônica alemão).
Nessa ponta vanguardista, Bowie liderou um movimento conhecido como os Novos Românticos. Em “Ashes To Ashes”, ele surge na tela do clipe como Pierrô, e, nas letras, ressuscita o personagem Major Tom, que era citado em "Space Oddity" (lembra do começo da lista?). Na faixa, Bowie se transforma em melancólico e introspectivo.