Em seu terceiro disco, Céu renega a introspecção e escolhe como base a vida fora de casa
Céu estava decidida: seu terceiro álbum, sucessor de Vagarosa (2009), seria o que ela chama de “road disco”. A estrada serviu de recanto para a criação, e por isso foi escolhida como tema de Caravana Sereia Bloom, que chega às lojas neste mês. “Nos outros discos, eu ia fazendo. No final, pensava: ‘Ah, era isso que eu queria dizer’. Com esse, não – eu já sabia”, explica a cantora de 32 anos que, surpreendentemente, mantém o ar juvenil dos tempos de Céu (2005), sua estreia fonográfica.
“Você começa a entrar nesse ritmo, está sempre com uma mala pronta. É muito ambíguo: é legal, mas também não é”, ela define. “O que a gente tem é um ao outro, a banda fica muito junta. É muito prazeroso, mas muito intenso. E eu senti que precisava falar disso.” Como suporte, Céu passou a imaginar/ registrar imagens durante as turnês: para ela, o resultado é como “se fizesse músicas baseadas em cenas”.
A primeira surpresa é o andamento do disco. Enquanto Vagarosa vinha embebido das referências à música jamaicana – de um jeito lento, como diz o nome –, Caravana... chega mais rápido, até mais festivo. Há referências ao rock (“Falta de Ar”), à música brega (“Baile de Ilusão”) e até faixas feitas inteiramente por ela no software GarageBand (“Sereia” e “FFFree”).
“A gravação foi muito rápida”, garante Céu, que, no entanto, passa muitas vezes a impressão de um espírito “deixo a vida me levar, sem pressa”. Até nisso, o processo de captação das vozes foi diferente. “Eu tinha uma semana para gravar a voz, de segunda a domingo, no final de 2011. E fiquei gripada. Era quinta-feira e ainda estava gripada.” Contrariando a preconcepção geral, ela registrou os vocais na metade do tempo previsto, em quatro dias.
“Sereia” é dedicada à filha de 3 anos e meio, Rosa Morena (ou Rosa Nena, como abrevia o encarte do CD). “Quando dou banho nela, eu canto essa música e ela canta junto”, conta. É dessa faixa que vem uma das palavras que compõem o curioso nome do disco; “Bloom” vem de “Streets Boom”, escrita por encomenda por Lucas Santtana. “Caravana” tem um sentido mais amplo: não só é uma homenagem à Caravana Rolidei, do filme Bye Bye Brasil (“que, esteticamente, tem tudo a ver com o disco”, ela indica), como serve de referência ao grupo de pessoas que tem trabalhado com Céu ao longo dos anos. Fazem parte dele o marido, Gui Amabis, o guitarrista Fernando Catatau (Cidadão Instigado), Jorge Du Peixe (Nação Zumbi) e as Negresko Sis, trio que ela integra ao lado de Thalma de Freitas e Anelis Assumpção, entre outros parceiros.
“É muito honesto falar que se trata de uma caravana, porque eu tenho o dom de me cercar de gente boa. Bons músicos, boas pessoas, gente que está na música por gostar de tocar mesmo”, afirma Céu. “Mas eu sei que é um trabalho muito autoral. Não tenho dúvida.” Essa frase exemplifica também o fato de ela ser, hoje, uma mulher mais segura. “No começo, para mim, era tudo muito como um tiro no escuro, um negócio que eu não sabia no que ia dar. Eu, compor? Agora, eu sou isso”, diz.
Rosa Nena acompanha a mãe na maioria das turnês. Mas, se a maternidade pautou Vagarosa, não foi capaz de mudar a visão de Céu sobre como ganhar seu sustento da música. “Não tenho mais a ingenuidade de quem nunca fez um disco. Aprendi muito, aprendi o que significa cancelar uma turnê [do ponto de vista financeiro]”, lembra, rindo. “Mas esse é meu jeito, e tem dado certo. Não vou mudar. Estou fazendo de acordo com o que acho que faz sentido.”
A estrada continuará fazendo parte da rotina, já que Céu tem datas marcadas, principalmente fora do Brasil, até outubro. Shows em território nacional devem ser adicionados à agenda no decorrer dos meses. E, quem a vir no palco, talvez perceba um pouco das mudanças ocorridas na vida de Céu nos últimos anos: “Estou mais para fora”, ela admite. “Para o mundo.”