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Dentro do Groove

O soul coroou o North Sea Jazz Festival, que levou Lenny Kravitz, Charlie Wilson, Anthony Hamilton e outros a Curaçao

Paulo Cavalcanti Publicado em 13/10/2016, às 13h02 - Atualizado em 15/08/2018, às 14h31

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Tom Jones privilegiou um repertório de blues.
 - Wassef Sokkari
Tom Jones privilegiou um repertório de blues. - Wassef Sokkari

O North Sea Jazz Festival, evento que acontece anualmente na ilha de Curaçao, localizada na região do Caribe holandês, costumeiramente tem em seu line-up artistas de jazz, pop latino e soul music. Nesta sétima edição, os praticantes da black music foram destaque nos palcos do World Trade Center, na Baía de Piscadera. Foi uma junção de grandes astros do gênero com nomes que são cultuados, mas não costumam excursionar regularmente pelo mundo.

Tradicionalmente, começa com atrações latinas mais populares. Na abertura, realizada no dia 1º de setembro, o palco Sam Cooke teve a presença do pop dançante do dominicano Juan Luis Guerra e da lambada do Kassav’, de Guadalupe. No segundo dia, o festival teve início às 19h, com a presença da big band latina Cuban A air no palco Sam Cooke. Até então, o público era relativamente pequeno. Às 20h, os palcos Sir Duke e Celia receberam, respectivamente, o grupo Level 42 e a cantora Betty Wright. Os ingleses do Level 42, que tiveram o auge na década de 1980 e no começo dos anos 1990, mostraram seu azeitado pop com levada de jazz funk – o hit “Lessons in Love” foi bem festejado. Paralelamente, no palco Celia, localizado dentro do teatro de mesmo nome, a soulwoman Betty Wright, hoje conhecida como mentora de Joss Stone, recordou os hits que teve nos anos 1970. São canções que lidam com o universo feminino, como “Tonight Is the Night” e “Clean Up Woman”.

A partir das 21h30, Tom Jones foi a principal atração do Sam Cooke. Quem pensou que o galês de 76 anos iria levar Las Vegas para o Caribe se enganou. Já faz um tempo que o intérprete deixou de lado as canções bombásticas e espalhafatosas. Ainda com as cordas vocais funcionando em potência máxima, ele agora prefere cantar apenas o que gosta, ou seja, blues, gospel e country. Jones interpretou só dois hits do passado: “Delilah” e “It’s Not Unusual”, mas com arranjos totalmente diferentes dos que fazia em Vegas. Teve também “Kiss” (de Prince) e “Sex Bomb”, que introduziram o artista para as novas gerações.

Depois de Jones, foi a vez do polêmico Chris Brown. Dois dias antes da apresentação, ele havia sido preso por ter ameaçado uma mulher com uma arma. Pagou fiança e pôde viajar. Mas a performance de Brown foi irregular: em muitos momentos, ficou a impressão de que ele mais dublava do que cantava.

No dia seguinte (sábado, 3 de setembro), o festival começou desfalcado. O maestro e compositor Burt Bacharach havia quebrado o braço e, assim, nem se deslocou até a ilha para tocar no palco Celia. Ilan Chester, músico nascido em Israel e radicado na Venezuela, se apresentou no lugar dele e fez uma boa performance, mas é inegável que houve decepção com a troca repentina. Ao mesmo tempo, no palco Sir Duke, o norte-americano Anthony Hamilton, um dos mais importantes nomes do R&B contemporâneo, fez um show irrepreensível e mostrou o quanto foi influenciado

pelos vocais de Al Green, Marvin Gaye e outros mestres da soul music.

Na hora do show de Michael Bolton, que ocorreu no Celia, às 21h, houve um princípio de tumulto. Os organizadores subestimaram a popularidade do cantor e o local se mostrou muito pequeno para o número de pessoas que queriam vê-lo. O lugar ficou superlotado, abafado e algumas pessoas passaram mal. Por causa da situação, os seguranças não permitiram que ninguém mais entrasse. Um telão foi colocado do lado de fora para apaziguar a situação. Lá dentro, Bolton reviveu “When a Man Loves a Woman” e “Time, Love and Tenderness”, dentre outros hits.

A apresentação de Lenny Kravitz, que ocorreu a partir das 23h no palco Sam Cooke, também foi bastante concorrida, mas desta vez não houve problemas. Enquanto Kravitz concluía uma notável apresentação repleta de hits (“Fly Away”, “Are You Gonna Go My Way”), o palco Sir Duke recebia Charlie Wilson, antigo líder da Gap Band, formação funk de sucesso durante as décadas de 1970 e 1980. Em uma apresentação frenética, Wilson recordou “Oops Upside Your Head” e “Early in the Morning”. Cantando gospel, ele encerrou as festividades de maneira excelente pouco antes das 2h, deixando o público à espera da edição 2017 do festival.