Marina Silva caiu diante da política desenvolvimentista do governo Lula, que cada vez mais se distancia das questões ambientais fundamentais no Brasil
No ano em que se completam duas décadas da morte do líder seringueiro Chico Mendes, a senadora acreana que estava à frente da política ambiental brasileira e que, ao lado do mártir da Amazônia, construiu uma sólida carreira em defesa do Meio Ambiente, desistiu de dar murro em ponta de faca. Marina Silva representou o que existia de melhor no governo Lula. E, mesmo sem o total apoio do presidente, conseguiu barrar a predatória ganância empresarial. Em sua gestão, a Lei da Mata Atlântica foi finalmente aprovada e foram criadas diversas unidades de conservação além do Plano Nacional de Combate à Desertificação. Também teve início a discussão sobre o Plano Nacional de Mudanças Climáticas e o Plano Nacional de Recursos Hídricos. Ela intensificou a luta contra o desmatamento e teve papel fundamental na proposição do Plano de Prevenção e Combate aos Desmatamentos na Amazônia e no recém-lançado Plano Amazônia Sustentável. Vários espaços de participação social foram implantados, incluindo a realização das Conferências Nacionais do Meio Ambiente, envolvendo milhares de pessoas e contribuindo para popularizar cada vez mais a temática ambiental no país e incorporar atores relevantes que historicamente têm sido excluídos dos processos decisórios.
Grife ambiental reconhecida mundialmente, sem Marina Silva o governo arrisca não só o prestígio internacional, mas a confiança dos países que desejam a preservação da Amazônia. No cenário internacional, de um modo geral, a saída de Marina é descrita como uma catástrofe para a região. O tom do jornal El País, de Madri, foi sintomático: "Lula dá as costas à ministra defensora da Amazônia". A demissão, associada à notícia da absolvição em segundo julgamento de um dos acusados pela morte da missionária Dorothy Stang, mesmo com todas as evidências em contrário, não fizeram nenhum bem ao Brasil.
Durante a gestão de Marina Silva na pasta do Meio Ambiente, houve indícios claros de que o presidente não absorveu completamente as preo-cupações sócioambientais em suas políticas de governo - a liberação dos transgênicos; o licenciamento da transposição do Rio São Francisco; a retomada de grandes obras de infra-estrutura na Amazônia sem planejamento integrado; o licenciamento das usinas hidrelétricas no Rio Madeira; a expansão desordenada dos agro-combustíveis; a expansão de monoculturas de eucalipto para a produção de papel e celulose em imensas áreas; o apoio incondicional ao agronegócio exportador, o principal vetor do desmatamento. E, agora, a retomada do Programa Nuclear.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 21 da Rolling Stone Brasil, junho/2008