Esta pérola da psicodelia pop conta a estranha saga de Arnold Layne, um sujeito que tem a como hobby roubar roupas femininas (especialmente peças intimas) dos varais de roupa. Layne é pego com a mão na massa (“ele está cumprindo pena, e ele odeia”). Depois, fica implícito que ele é solto, mas o compulsivo Layne começa a roubar de novo (“Arnold Layne, não faça isso novamente”). Na faixa, Barrett já mostra uma imaginação febril e a canção, apesar do tema pouco convencional, fez um grande sucesso como single. Com a também polêmica “Candy and a Currant Bun" no lado B, “Arnold Layne” chegou ao 20º posto da parada inglesa e foi uma sensação na Europa.
Com uma melodia capaz de deixar os Beatles com inveja, esta criação de Syd Barrett foi lançada como single em 1967 e também obteve grande sucesso. Barrett dizia que a canção foi inspirada em uma garota que ele viu dormindo na floresta. Mas na verdade existia sim uma Emily. A personagem por trás da canção era Emily Young, que frequentava o clube psicodélico UFO. Por causa do sucesso do single, a banda foi ao popular programa Top of The Pops para dublá-la. Foi o momento máximo de Barrett como astro pop – e ele detestou tudo aquilo intensamente. David Bowie falou que Barrett era uma “influência enorme no meu trabalho”; o cantor fez uma cover de “Emily” no álbum Pin Ups (1973). “See Emily Play” foi lançada no Brasil em compacto pela gravadora Fermata e não teve nenhuma repercussão. Hoje, é um item raro e cobiçado pelos colecionadores do mundo todo.
O Pink Floyd já havia lançado dois singles com êxito. Assim, "Apples and Oranges" foi bastante aguardada. Mas as expectativas não foram cumpridas; a canção nem sequer chegou a entrar nas paradas da Inglaterra. Apesar de extremamente intrigante, a faixa não tinha o mesmo apelo comercial de “Arnold Layne” e “See Emily Play”. Os ganchos não eram fortes e as mudanças de tempo presentes na melodia também não agradaram. Mesmo assim, a banda promoveu a canção em sua tumultuada passagem pelos Estados Unidos no verão de 1967. Eles mostraram a faixa no lendário American Bandstand, programa de TV apresentado por Dick Clark. A letra fala de um encontro do narrador da canção com uma garota em um supermercado (daí as maçãs e laranjas do título).
A faixa que abre The Piper at the Gates of Dawn já mostrava o interesse do quarteto pelo nascente rock espacial. "Astronomy Domine", escrita por Barrett com o tecladista Rick Wright, logo se tornou um das faixas mais icônicas do estilo. Aqui, a sensação de uma viagem espacial é completa – Barrett toca a sua Fender Esquire usando um efeito de eco e o inquietante baixo de Roger Waters mantém a tensão. Os instrumentos deles se juntam ao viajante órgão Farfisa tocado por Wright e à percussão de Dave Mason. O clima sonoro se torna hipnótico e em pouco tempo estamos transitando por Júpiter, Saturno e outros planetas, como relata a letra.
As bicicletas eram uma fonte de interesse para Syd Barrett e ele mostrou isso em The Piper at the Gates of Dawn. Os músicos do Pink Floyd literalmente montaram uma bicicleta dentro do estúdio para extrair o som das correntes, buzinas e sinos. A melodia de piano dá aos versos de Barrett um tom de ameaça. Apesar dos toques de música concreta, “Bike” tem uma melodia contagiante.
Uma das canções mais polêmicas de toda a história do Pink Floyd, "Vegetable Man” ainda incomoda a banda. Ela foi gravada em 1967 e, mesmo sendo totalmente anticomercial, até foi cogitada para se lançada como single. Mas foi vetada e até hoje a versão original segue nos arquivos. O estranho é que o Pink Floyd a tocou na rádio BBC em dezembro de 1967 e esta é única versão disponível. "Vegetable Man” é uma espécie de autorretrato de Barrett, que se descrevia como um “homem vegetal”, algo que realmente iria acontecer em alguns anos. Mas a banda se recusa a lançar a versão de estúdio – talvez por não gostarem de ouvir do amigo se desintegrando.
Quando o Pink Floyd lançou o segundo álbum, Saucerful of Secrets, em junho de 1968, Syd Barrett já não reunia condições de funcionar adequadamente do contexto da banda. O amigo David Gilmour entrou no lugar dele e, com o novo guitarrista, o trabalho foi concluído. Mas "Jugband Blues", uma das últimas coisas que Barrett gravou com os companheiros, acabou sendo incluída no trabalho. A canção pode ser interpretada como uma despedida. Barrett, que àquela altura já avançava pela esquizofrenia, não escondia sua alienação em relação ao resto do mundo. Ele cantava: “É muita consideração de vocês pensarem em mim aqui/ E eu me sinto no dever de deixar claro/ Que eu não estou aqui”.
A faixa que abre o álbum The Madcap Laughs mostra o interesse do artista pelo blues. “Terrapin” foi gravada em abril de 1969. Sobre uma base de violão ampliada por overdubs elétricos, Barrett convida a namorada para um passeio em um paraíso submarino que só poderia existir na mente dele. A faixa se tornou icônica e batizou um fanzine sobre Barrett editado na década de 1970. David Gilmour costumava cantá-la ao vivo e o registro pode ser visto no DVD David Gilmour in Concert.
A faixa abre Barrett, segundo disco solo do músico. Se a composição com levada folk lembra muito o Pink Floyd, existe um bom motivo. A melodia foi inspirada em "Scream Thy Last Scream", faixa que ele gravou com a antiga banda, mas que segue inédita até hoje. Barrett também preparou uma versão para a rádio BBC e ela integra o álbum The Peel Session, com gravações feitas para o programa do radialista John Peel. Anos depois, a faixa deu nome a uma banda de revivalistas psicodélicos que acompanharam Arthur Lee, o frontman do Love.
Lançado em 1988, Opel era um apanhado de raridades e sobras de estúdio dos dois discos solo lançados por Barrett. Um dos destaques era “Wouldn’t You Miss Me (Dark Globe)”, um perturbador pedido de ajuda. Ele gravou a canção em 1969 e ela se tornou cultuada – Soundgarden e R.E.M são algumas das bandas que a executaram ao vivo.