Na década de 1950, a preconceituosa sociedade branca norte-americana foi sacudida por um ritmo que vinha da população negra. O jazz já havia feito um “estrago”, seguido pelo blues. O R&B veio na sequência e, para chegar ao rock and roll, foi um salto. Little Richard, Jerry Lee Lewis, Bill Haley e Chuck Berry fizeram história, mas foi Elvis, um garoto branco com rebolado de fazer inveja, que marcou o gênero para sempre – e se tornou o Rei.
Ouça “Hound Dog”, de Elvis Presley
O rock crescia e mostrava às gravadoras que era possível ganhar dinheiro com ele. A indústria do pop abraçou a guitarra e fez suas próprias versões de bandas formadas por garotos bonitinhos que cantavam sobre amores, carros e, obviamente, garotas. No início da década de 1960, a ebulição veio com um certo quarteto de Liverpool, na Inglaterra, com nome um tanto esquisito: os Beatles. No Brasil, a indústria pop formou aquilo que conhecemos como Jovem Guarda, com Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Na Inglaterra, contudo, não era só de pop que vivia a indústria. Roqueiros mais ousados como Rolling Stones, The Kinks e The Who já mostravam experimentação e atitude rebelde.
Ouça “I Want To Hold Your Hand”, dos Beatles
O blues rock veio com força, graças aos Rolling Stones, Eric Clapton e companhia. Logo, a experimentação do jazz foi incorporada ainda mais e, na mesma época, no fim da década de 1960, a sociedade norte-americana estava cansada de guerra e violência. Drogas como maconha e LSD se popularizavam e tudo que os jovens queriam era paz e amor. A psicodelia caiu como uma luva para aquela turma e o rock mudou, de novo. E, veja só, até os engomadinhos Beatles fizeram obras-primas - como esta aqui ao lado. As letras de protesto ficaram mais fortes com a chegada do folk de Bob Dylan. O músico, aliás, abraçou a guitarra, foi criticado pelos puristas do violão, e fez história. A psicodelia respingou no Brasil também. Os Mutantes ajudaram a fomentá-la e entraram para a Tropicália – mas isso já é outro papo.
Ouça “A Day in the Life”, dos Beatles
Um tal de Pink Floyd também trouxe psicodelia ao Reino Unido. A saída de Syd Barrett da banda deu ao baixista Roger Waters e ao guitarrista David Gilmour a chance de experimentar novos conceitos de rock. O disco Dark Side of the Moon, de 1973, marcou época e fincou a bandeira do rock progressivo.
Ouça “Us and Then”, do Pink Floyd
Na contramão dos discos conceituais e de certa leveza do progressivo, o rock ganhou peso e corpo. O Led Zeppelin, que nasceu de raízes do blues rock com Jimmy Page, fez história e deixou um rastro imortal. Já o Black Sabbath, vindo da pequena e cinzenta Birmingham, na Inglaterra, apresentou a harmonia modal, que também escurecia os arranjos do gênero. O hard Rock do Zeppelin e o metal do Sabbath poderiam estar aqui ao lado, mas como só podemos escolher um, vamos com o petardo que é a faixa que abre o disco homônimo do Sabbath, lançado em 1969.
Ouça “The Black Sabbath”, do Black Sabbath
A paz e o amor foram derrotados e os ídolos do movimento morreram de overdose. O final da década de 1970 foi sombrio nas grandes cidades. A heroína estava por toda parte, inclusive em misturas letais com cocaína, e o mundo já não parecia tão brilhante e iluminado como a música produzida pela psicodelia roqueira. Velvet Underground, Television, Iggy Pop e outros deram origem ao proto-punk. Com Ramones e companhia, contudo, as batidas aceleraram e o gênero tomou a forma que conhecemos hoje. Do Reino Unido, o Sex Pistols teve vida curta, mas explosiva. O grupo representa uma vertente mais agressiva do punk da época.
Ouça “Good Save the Queen”, do Sex Pistols
Ainda vindo daquela Nova York suja e rebelde, o New York Dolls uniu as apresentações viscerais ao visual controverso: todos eles se vestiam de mulher. David Bowie viu nesses personagens uma chance de se reinventar na cena. Criou o Ziggy Stardust, espalhafatoso e genial. Logo, as cabeleiras esvoaçantes acompanhavam o duvidoso gosto fashion dos anos 1980, com Twisted Sister e tantos outros que criaram o movimento hair rock. Mas vamos ficar aqui com o glam de Bowie, ok?
Ouça “Starman”, de David Bowie
O Brasil descobria o rock. Vinha de Brasília, com filhos de políticos entediados e recebendo uma boa coleção de discos de rock vindos do exterior; e assim veio também do Rio de Janeiro e de São Paulo. Aqui, tínhamos o BRock, que marcou a década na música nacional. Lá fora, contudo, o pós-punk trazia melancolia, ecos, teclados e uma bateria desacelerada. The Cure uniu a cultura gótica ao rock, assim como Morrissey e seu Smiths consolaram os corações mais destroçados. Mas aqui vamos de Joy Division, com um Ian Curtis impecável na união dos dois movimentos.
Ouça “Love Will Tear Us Apart”, de Joy Division
A juventude novamente estava descontente – e, como você deve ter percebido, esse é o combustível para as mutações do rock. Mais guitarras, gritos e camisas de flanela ganharam espaço. O grunge levou a música alternativa ao mainstream. Pearl Jam, Soundgarden e, é claro, o Nirvana, fizeram história no início da década de 1990. A morte de Kurt Cobain e Layne Staley, do Alice in Chains, combaliram o movimento e até abriram espaço, mercadologicamente falando, para o britpop que acontecia do outro lado do Atlântico, no Reino Unido. Mas o alcance dele não foi tão grande quanto o do grunge.
Ouça “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana
O pós-grunge trouxe surpresas desagradáveis – alguém se lembra de Creed? Mas com a aproximação das guitarras velozes do hardcore (dissidente do punk, mas mais melódico) e letras tristonhas, o rock conheceu o emo – inclusive no Brasil. Em termos de mercado, ele trouxe um novo vigor às guitarras.
Ouça “Honey, This Mirror Isn't Big Enough for the Two of Us”, de My Chemical Romance
Por sorte, os anos 2000 representaram uma nova fase para as guitarras. O rock de garagem, direto e cheio de distorção, também ganhou forma. Strokes, em Nova York, e Libertines, em Londres, mostraram novamente que os jovens de saco cheio, bêbados e com os hormônios aflorados poderiam fazer o rock ressurgir. Já nos anos 2010, o gênero flerta novamente com a música eletrônica. Mas ainda faltam seis anos até o fim da década e, convenhamos, aprendemos aqui que o rock certamente vai nos surpreender até lá.
Ouça “Hard to Explain”, de The Stokes