Por dentro do variado novo disco solo de Robert Plant
David Fricke | Tr adução: J.M. Trevisan Publicado em 16/10/2014, às 16h34 - Atualizado em 17/10/2014, às 11h21
Não vou nem disfarçar – eu sei que é maravilhoso”, diz Robert Plant, de maneira direta e alegre, falando sobre o primeiro álbum solo de músicas originais que grava em quase uma década. “É bom pra caralho.”
Recém-lançado pelo novo selo de Plant, o Nonesuch, Lullaby and... the Ceaseless Roar é o primeiro trabalho em estúdio com a Sensational Space Shifters, banda de blues afro-psicodélico com quem ele vem excursionando nos últimos dois anos. Plant, de 66 anos, gravou em sua terra natal, a Inglaterra, depois de alguns anos morando e trabalhando nos Estados Unidos, predominantemente cantando covers de folk e blues em Raising Sand (2007), sucesso com a cantora Alison Krauss, e Band of Joy (2010). “A missão tinha menos a ver com compor e mais com mergulhar no verdadeiro repertório musical norte-americano”, afirma Plant sobre o período.
Para a Space Shifters, ele reuniu músicos britânicos com quem trabalhou em Mighty ReArranger (2005) – incluindo artistas como Justin Adams, Liam “Skin” Tyson e o tecladista John Baggott, que trabalhou com o Portishead – e acrescentou Juldeh Camara, um griot (tipo de contador de histórias africano) de Gâmbia que toca o ritti, uma espécie de rabeca de uma corda só. “Carregamos todas as facetas vindas do fato de sermos europeus, bebendo da África e do Delta [do Mississippi]”, diz Plant. “É uma coisa bem viril, e saiu de horas e horas trabalhando diligentemente enquanto rodávamos por estradas que não acabavam mais. Se tivéssemos apenas nos reunido em uma sala qualquer em algum lugar, nunca teríamos chegado a algo sequer parecido com isso.”
Quando diz “isso”, Plant se refere a uma mistura densa de riffs norte-africanos, blues e loops eletrônicos em faixas como “Turn It Up” e “Little Maggie”, uma versão da música que se tornou um marco do bluegrass em 1948, gravada pelo The Stanley Brothers. “Robert está aberto à espontaneidade”, diz Adams, que trabalha com o cantor desde 2001. “Ele gosta de deixar as coisas meio cruas, preferindo as primeiras tomadas, menos refinadas, por causa da energia e da simplicidade.”
No tom de folk celta de “Embrace Another Fall”, Plant reforça sua afeição eterna pelo País de Gales, onde passou férias na infância e, mais tarde, em uma cabana isolada, compôs músicas para o Led Zeppelin com o guitarrista Jimmy Page. Durante a conversa, Plant se refere à antiga banda com um cuidado elíptico, nunca mencionando- a pelo nome e habilmente desviando-se do inevitável assunto da reunião do grupo – o clamor público por uma turnê do show que o Zeppelin fez em 2007, em Londres (com o filho de John Bonham, Jason, na bateria), e a recusa irredutível de Plant. Mas ele apresenta uma alta porcentagem de canções do Zeppelin com o Sensational Space Shifters, e está envolvido na série de relançamentos de discos do grupo coordenada por Page. Foi sugestão de Plant redesenhar as capas originais como se fossem negativos.
“Essa propagação de mitos e antimitos continuará eternamente”, ele divaga sobre o Zeppelin. Ainda assim, uma pergunta sobre a relação dele com Page fora da banda arranca uma risada sincera do vocalista. “Vou perguntar a ele a respeito no jantar hoje à noite.”
Plant define que no futuro imediato com o Space Shifters irá tocar e viajar mais – especula-se, inclusive, que ele já esteja confirmado na edição brasileira do festival Lollapalooza, em 2015. “Juldeh quer que nos apresentemos em Gâmbia, o que é uma ideia bem legal”, conta. “Para mim, a questão toda é traçar uma rota para dois ou três idiomas diferentes e encarar como um sonho que se tornou realidade.”