Criolo viajou o Brasil e o mundo com Nó na Orelha, mas planeja com cuidado seus próximos passos
As coisas definitivamente mudaram para Criolo desde que, há mais de um ano, “Não Existe Amor em SP” foi divulgada na internet durante o processo de produção do álbum Nó na Orelha. Shows lotados são cada vez mais frequentes para o rapper, mas, junto à popularidade, cresce a expectativa de que um novo trabalho revele mais do mistério que é o cantor. “Eu enxergo essa expectativa com carinho, mas não sinto pressão para compor”, ele diz. “Se eu fizer canções para um disco, vou estar me assassinando, vou restringir o porquê da canção. Sou grato às pessoas que me dão uma boa energia e que gostariam de ver outras canções neste formato, mas enxergo de outra forma.” Embora não revele quais são seus próximos projetos, Criolo afirma que um próximo lançamento poderia ser um registro ao vivo, “se for um convite pautado em coisas bacanas”. Mas ele dá poucas dicas do que seria a “outra forma”. “O que eu tenho mesmo é uma fome absurda de cantar para celebrar.”
Criolo foi tema de perfil na edição 59. Leia aqui.
A vontade nasce também do bom momento pessoal pelo qual ele passa. “Estou vivendo coisas que eu nunca vivi na minha vida”, diz o rapper, que com Nó na Orelha, seu segundo disco, viajou pelo Brasil e pelo mundo, incluindo apresentações na Europa e nos Estados Unidos. Mas ele afirma que uma mudança semelhante em sua música só poderia ocorrer caso antes haja “uma melhora palpável para nosso país e nossos cidadãos”. “Todo mundo tem motivos para comemorar, que seja pelo menos o dia seguinte. Mas quando a gente pensa de uma forma mais ampla a história é outra”, explica. “Não adianta ficar bom só para um.”
A celebração é, por enquanto, reservada a composições que Criolo continua fazendo da mesma forma, e a correria da estrada não alterou em nada esse processo. “Eu já vendi cocada na rua, já vendi roupa de porta em porta, já fui faxineiro, já fui empacotador, e sempre compus”, ele lembra. “Agora que tem um pessoal cuidando de mim...”
Um exemplo disso é que, durante a passagem por Londres, Criolo fez apresentações com a participação de um de seus maiores ídolos, o músico etíope Mulatu Astatke, exaltado na letra de “Mariô”: “Atitudes de amor devemos samplear / Mulatu Astatke e Fela Kuti escutar”. E a parceria não se restringiu ao palco, sendo que os dois compartilharam o processo de criação em cinco músicas, deixando no cantor a vontade de que a parceria se repita no Brasil.
E a jornada estrangeira de Nó na Orelha não ficou só nos palcos, trazendo surpresas que acompanharam o músico nas viagens, como em Roma. “O pessoal do consulado foi me procurar para falar que ali havia duas professoras que trouxeram alguns alunos, porque tinham trabalhado em sala de aula o conteúdo das letras [do álbum].” Foram feitas apresentações ainda em Paris, Milão e um festival na Dinamarca, além de Los Angeles e Nova York. O sucesso, explica Criolo modestamente, é resposta à entrega e talento dos músicos que o acompanham. “A barreira da língua é quebrada pela música”, diz.
Embora não confirme, uma nova e ainda maior turnê pela Europa deve ocorrer entre novembro e Dezembro deste ano. “A gente vai para onde nos convidam”, diz Criolo, que, contudo, parece consciente da frase que solta mais de uma vez durante a entrevista: “A gente só é novidade uma vez”.