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Em Som e Família

As unidas irmãs do Haim estrearam em 2013 com um disco matador, que conquistou Taylor Swift e U2. Será que elas conseguem se superar?

Jonah Weiner Publicado em 12/08/2017, às 16h08 - Atualizado às 16h10

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<b>Power Trio</b><br>
Danielle, Este e Alana Haim
 - Daria Kobayashi Ritch
<b>Power Trio</b><br> Danielle, Este e Alana Haim - Daria Kobayashi Ritch

Em uma noite recente, Danielle Haim parou diante do microfone, tocou um riff trêmulo de duas notas em sua Gibson SG e tentou não pensar em Liza Minnelli e no Pet Shop Boys, que a estavam encarando, extremamente próximos, de um pôster emoldurado na parede. O pôster era engraçado; a faixa que ela estava gravando, não. “Digo adeus ao amor de novo/ Na solidão, minha única amiga”, cantou, preenchendo as palavras com uma dor audível.

Danielle lidera a banda de rock Haim, que formou há 11 anos com as irmãs, Este (baixo, vocais e percussão) e Alana (guitarra, vocais, teclados e, às vezes, cowbell). No começo, o trio tocava na sala de estar da casa dos pais, em San Fernando Valley, na Califórnia; depois, passou a agendar shows na cidade para plateias cada vez maiores. O ótimo álbum de estreia, Days Are Gone (2013), transformou as irmãs em estrelas. Taylor Swift é amiga delas. O U2 recentemente as convidou para ir ao estúdio do grupo em Malibu para discutirem ideias para músicas novas.

No entanto, na noite de abril em que Danielle gravou “Night So Long”, o ansiosamente aguardado e majoritariamente elogiado segundo álbum, Something to Tell You, lançado em julho, ainda não estava finalizado. Ela estava na casa em que mora com o namorado, Ariel Rechtshaid, em Los Angeles, tentando acertar a canção. Rechtshaid é um produtor talentoso que ajudou a elaborar músicas para Usher, Vampire Weekend e Adele, entre outros, e trabalha com o Haim desde 2012. O casal estava no estúdio do andar térreo, um espaço aconchegante cheio de equipamentos e móveis da metade do século 20. Danielle compôs “Night So Long” quando o Haim estava em turnê. A letra lida com sentimentos paradoxais de solidão que podem surgir em meio ao frenesi de se apresentar toda noite para milhares de estranhos. “Essa música veio de estar completamente sozinha, com um violão em uma sala”, ela lembra uma semana depois. “Quando tocamos toda noite, nós nos sentimos sortudas pra caralho, mas também é isolador.”

As meninas do Haim são roqueiras de uma forma clássica em vários aspectos (tocam os próprios instrumentos, compõem as próprias músicas, mandam muito bem ao vivo), mas também ajudaram a redefinir o que o termo “banda de rock” pode significar atualmente: abrir show em estádios para Taylor Swift (elas dizem que o público as amou apesar, ou por causa, da jam bagunçada que fechava o set do trio toda noite); colaborar em um single de EDM com Calvin Harris; recrutar A$AP Ferg para um remix de uma faixa que compuseram sob a influência de Timbaland.

Elas levaram tempo para descobrir que poderiam trabalhar nesses termos. Grandes descobertas exigem paciência, e o Haim sabe bem disso – afinal, demorou sete anos para lançar o primeiro disco, refinando músicas, tocando ao vivo, medindo as reações das plateias, refinando mais um pouco. “Se outra pessoa escrevesse nossas canções e não nós, seria mais rápido”, afirma Alana. “Repassamos cada som, cada batida”, Este acrescenta. Pergunto se elas um dia se preocuparam, anos depois da estreia do Haim, em serem esquecidas pelas pessoas. Elas balançam a cabeça. “Talvez nos preocupássemos”, diz Alana, “se não achássemos que estamos fazendo coisas boas pra caramba”.

O prazer que elas têm na companhia umas das outras é abundante, desavergonhado e contagiante. Enquanto uma irmã fala, as outras observam, sorriem e assumem o controle da frase. Quando ouvem música, tocam bateria invisível elaboradamente. Danielle, de 28 anos, é um pouco mais reservada do que as irmãs. Este, de 31, tem a mente rápida e um senso de humor sarcástico. Já Alana, de 25, é a mais falante e efusiva. As três orgulhosamente rompem a fronteira entre boba e cool: quando estão tentando lembrar o nome de uma faixa de Cat Stevens que as inspirou, todas cantarolam a melodia e, quando Este finalmente grita “Peace Train!”, ela e Danielle tocam a ponta dos indicadores e dizem “bloop”. A certa altura, estamos sentados na sala de estar de Danielle quando Rechtshaid entra rapidamente pela porta e nos surpreende. “Você entrou igualzinho ao Kramer [da série de TV Seinfeld] agora, cara!”, Alana grita. “E aí, Kramer?”, diz Este. Rechtshaid balança a cabeça: é a casa dele, mas é como se tivesse entrado em um clube privado.

As raízes do Haim são essenciais para sua autoconcepção. A mãe delas, Donna, mudou da Pensilvânia para a Califórnia aos 20 e poucos anos, conseguindo emprego como professora e se apaixonando por Mordechai, um jogador profissional de futebol em sua Israel natal que agora trabalha no mercado imobiliário. Os pais recrutaram as meninas para tocar em uma banda familiar chamada Rockinhaim – em feiras de rua, tocando covers de rock clássico – e as ensinando a tocar bateria antes de qualquer coisa, o que ajuda a explicar a ênfase do Haim em ritmo e grooves. Apesar do sucesso, elas descrevem a vida em Los Angeles como incrivelmente discreta. Alana acabou de abrir uma conta na Amazon Prime e tem feito maratonas de documentários. Danielle gosta de ficar em casa e cozinhar. O passatempo preferido de Este é ver filmes de terror sozinha no cinema ou “assistir MasterChef Junior e chorar com aquelas crianças”.

Na manhã seguinte, as três sentam em uma cabine na Dupar’s, uma lanchonete em Studio City que frequentam desde a infância. “Eu me sinto em casa neste lugar”, conta Alana, apontando para o carpete de estampa floral. Elas recomendam as panquecas, mas pedem ovos – é a Páscoa judaica e, como praticantes da religião, não podem comer alimentos com fermento. Daqui a algumas horas, deverão estar em um espaço de ensaio ali perto – semanas mais tarde, sairiam em turnê.

As três estão animadas em voltar a tocar ao vivo. Days Are Gone vendeu 90 mil cópias na primeira semana e o Haim ficou na estrada durante quase dois anos. Em outubro de 2014, em uma pausa da turnê, “voltamos a compor para o álbum seguinte”, conta Danielle. “Não queríamos uma folga, mas nada realmente pegou.” Alana explica a dificuldade da seguinte forma: “Tudo o que soubemos durante dois anos foi acordar, passar o som, fazer o show, dormir e comer uma fatia de pizza em algum momento. Precisamos tirar a cabeça da turnê e voltar a escrever. Quando chegamos em casa, literalmente saímos do ônibus, tiramos um cochilo e voltamos ao estúdio”.

“Que era a sala de estar dos nossos pais”, Danielle esclarece. “Durante quatro meses, tentamos criar músicas, escrever algo todo dia...”

“Só que fomos realmente duras com a gente”, intervém Alana. Danielle continua: “Compúnhamos coisas, mas sempre ficávamos...” Alana acrescenta: “Você fica com medo. Tipo ‘vamos conseguir fazer isso de novo?’”

A revelação delas foi o que Danielle chama de “lição de casa. Recebemos uma ligação para compor uma música para Descompensada” – o filme de Amy Schumer – “e dissemos: ‘Vamos ver se podemos fazer isso’. De repente, não havia esse peso assustador e abstrato do segundo disco pairando sobre nós”, lembra Alana. Elas escreveram uma música animada e dançante chamada “Little of Your Love” e, embora o pessoal do filme não a tenha escolhido, o Haim ficou animado. “Voltamos a simplesmente ‘escrever o sentimento’”, afirma Alana. “Depois disso, compusemos centenas de músicas. Foi como vomitar.”

Em várias letras de Something to Tell You, Danielle oscila entre o arrependimento e a recriminação. “Fui orgulhosa demais para dizer que estava errada”, pede desculpa no primeiro single, “I Want You Back”, acrescentando mais tarde: “Vou te dar todo o amor que não dei antes de te deixar”. Em “Right Now”, no entanto, canta: “Você fez eu me agarrar a um sonho no qual nunca acreditou”. Quando pergunto em que experiências as letras se baseiam, ela diz que a ligação com relações reais suas nem sempre é direta e que fica “um pouco desconfortável” em falar da vida pessoal publicamente. “Se estou me sentindo de um certo jeito e começamos a compor”, acrescenta, “não entendo totalmente meus sentimentos até a canção estar pronta e solta no mundo. Foi assim com o último álbum. Acho que vou começar a descobrir o que muitas dessas novas faixas significam daqui a dois meses ou algo assim.”

Só que, no caso de “Right Now”, Alana diz que não há ambiguidade: ela a vê como uma ode à força e ao poder. “Cresci ouvindo ‘You Got Lucky’, do Tom Petty, em que o tema é ‘você tem sorte de estar comigo’”, conta Alana. “Nunca ouvi uma música que dissesse isso do ponto de vista feminino. Ser uma mulher em posição de poder e namorar alguém, na minha experiência, é difícil. Você precisa de um homem suficientemente forte, parafraseando a Sheryl Crow.”

Danielle acrescenta: “Lidamos muito com isso – não no namoro, mas simplesmente sendo as presidentes de nossa empresa. Afirmar nosso poder – isso às vezes é difícil”.

“Fui chamada de ‘parte da comitiva’ nos festivais”, conta Alana, enchendo os ovos de molho de pimenta. “Subi em um carrinho de golfe uma vez e o cara disse: ‘Senhorita, saia’. Falei: ‘Toco no Haim’. Ele retrucou: ‘Nunca ouvi falar, por favor, saia’.” Ela balança a cabeça, ainda irritada com a lembrança. “É assim que você olha para mim, de verdade? Não é possível que eu toque – devo ser a namorada de alguém.”

Então, sorri. “Falei: ‘Estou usando meu pijama de bichinhos, mano, você não vai querer mexer comigo!’”