Banda FRANCISCO, EL HOMBRE muda de rumo ao falar de política no álbum de estreia
Sebastián Piracés-Ugarte está empolgado. Depois de passar meses em estúdio, o vocalista do Francisco, el Hombre vislumbra o disco de estreia da banda e não tem meias-palavras para determinar as intenções do trabalho: “Foda-se o que fizemos antes. Vamos enterrar La Pachanga! É agora que começa”. Sebastián se refere ao último EP, lançado no ano passado, que apresentou o quinteto ao público como uma das bandas mais animadas e contagiantes do cenário independente.
Com seis faixas, La Pachanga! destacou principalmente as origens do Francisco, el Hombre: uma banda multicultural, formada por dois mexicanos (os irmãos Sebastián e Mateo) e três brasileiros (Andrei Kozyre , Juliana Strassacapa e Rafael Gomes). O grupo, estabelecido em Campinas (SP), firmou-se tocando nas ruas, transmitindo a energia e a liberdade de estar na estrada, e incorporando o nome do lendário músico viajante popularizado no clássico livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Outro fator que ajudou a torná-los conhecidos – infelizmente – foi quando pipocaram manchetes sobre o assalto que a banda sofreu na cidade argentina de Mendoza, no começo de 2015. Na ocasião, eles estavam viajando pela América Latina para tocar e tiveram todos os pertences roubados.
Sebastián está se esforçando para deixar o passado para trás. “La Pachanga! pinta essa imagem de que somos uma banda bonitinha, dançante, quase inofensiva, sabe? E estamos longe disso. Na verdade, somos muito mais que isso.” Gravado no estúdio Navegantes, em São Paulo, o primeiro disco cheio do Francisco, el Hombre traz produção de Zé Nigro e tem como referências sonoras Metá Metá e Nação Zumbi, além da constante música latina, segundo Sebastián. “Estamos explorando a pluralidade do que somos e observamos na sociedade”, analisa. “Está intenso, agressivo, bravo e triste. Sinceramente, acho que ninguém espera que sigamos esse caminho.”
As músicas do trabalho foram quase todas feitas nos dois meses antes de a banda entrar em estúdio e refletem o turbulento momento político brasileiro (uma das faixas, com participação de Liniker, se chama “Bolsonada”). “Em vez de tentar dar uma cara atemporal, decidimos encarar o agora. E política faz parte de quem somos, mas no La Pachanga! isso ficou escondido”, explica o vocalista. “A gente se considera de esquerda e não concorda com muito do que o PT fez. Só que, frente às movimentações de direita, não tem como ser condescendente, principalmente com o impeachment.”