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Entre Palcos e Prisões

HQ jornalística conta história real de músico preso por dar o “golpe do cartão de crédito”

Ramon Vitral Publicado em 19/03/2018, às 09h25 - Atualizado às 09h26

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<b>Quadrinhos Verídicos</b><br>
Algumas páginas da HQ <i>Raul</i>, de Alexandre De Maio

 - Divulgação
<b>Quadrinhos Verídicos</b><br> Algumas páginas da HQ <i>Raul</i>, de Alexandre De Maio - Divulgação

A carreira musical de sucesso do protagonista da HQ Raul é deixada de lado quando os ganhos crescentes do artista com shows, discos e clipes mostram-se abaixo do retorno obtido por ele dando o “golpe do cartão de crédito”. A trama do primeiro álbum solo do quadrinista e jornalista Alexandre De Maio soa como ficção, mas é baseada em uma história real. Sem nunca revelar o nome verdadeiro de seu protagonista, o autor cria uma reportagem de 180 páginas em formato de quadrinhos sobre a vida de um jovem criado na Baixada do Glicério, no centro de São Paulo, com talentos equiparáveis tanto para a música quanto para os crimes bancários.

O preto e branco e as formas caricatas da arte de De Maio fazem um contraponto ao conteúdo factual da HQ. São mostradas as várias passagens do personagem principal por prisões durante diversos momentos de sua vida, as múltiplas técnicas possíveis para um golpe envolvendo o uso de cartões dentro de uma agência bancária, o despertar da carreira musical do rapper e seu posterior retorno ao crime. “Resolvi fazer o livro enquanto via fotos dele no Instagram em Cancún, logo depois de ter conversado com ele, pelo Facebook, enquanto ainda estava preso em uma cadeia em Brasília”, conta o autor.

De acordo com o quadrinista, ele acompanha a vida de seu protagonista há mais de dez anos e passou todo esse período construindo uma relação de confiança que permitisse a apresentação da história que chega às livrarias. Ao longo da obra, o próprio De Maio aparece mais de uma vez, seja no presente, colhendo os depoimentos de seu protagonista, seja então em um passado distante, atuando como jornalista na cobertura de shows daquele que viria a ser seu personagem. No início do quadrinho, por exemplo, dentro de um quarto de hotel na Avenida Paulista, em São Paulo, o autor ouve da fonte, foragida da Justiça na época, como Raul é o nome dado aos responsáveis por crimes envolvendo cartões de crédito.

As obras de De Maio são algumas das principais representantes no Brasil do jornalismo em quadrinhos, que tem o maltês-americano Joe Sacco como figura-chave. Com trabalhos assinados em parceria com o escritor Ferréz e coautor de obras premiadas de jornalismo investigativo em formato de HQ, De Maio está habituado a narrar histórias reais por meio dessa linguagem. Segundo o quadrinista, assim como em suas obras prévias, em Raul ele fez uso das mesmas técnicas esperadas de qualquer matéria jornalística: entrevistas, apurações, checagens, transcrições e, só depois, a construção do roteiro e das ilustrações.

O autor diz que sua maior dificuldade nessa estreia solo foi administrar a objetividade jornalística de seu trabalho com a proximidade que desenvolveu com a fonte que viria a ser o protagonista. “Quanto mais próximo você é de uma fonte, mais difícil é manter a objetividade, porém quanto mais próximo você é de uma fonte, mais informações exclusivas você consegue. É uma linha tênue em que você tem que andar para chegar próximo de um fato novo. Jornalismo é lidar com isso diariamente.”