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Erykah Badu conta o que aprendeu com as avós e com o Pink Floyd e revela que sua crise de meia-idade foi basicamente uma festa

David Browne Publicado em 02/07/2018, às 17h52 - Atualizado às 17h59

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Erykah Badu - Ilustração: Mark Summers
Erykah Badu - Ilustração: Mark Summers

Quem são seus heróis?

Minhas avós, Thelma Gipson e Viola Wilson. Elas já passaram dos 90 anos e me mantêm com os pés no chão. A Thelma era diretora assistente em uma escola de ensino fundamental e sempre garantiu que eu e meus irmãos estivéssemos bem alimentados, mesmo quando estava muito cansada. A Viola era funcionária da Rockwell International, que construía ônibus espaciais. Eu e ela trabalhamos no quintal, pintamos, redecoramos constantemente. Ela me deu meu primeiro piano e sempre se certificou de que eu cantasse sobre o que sei.

Qual é o melhor conselho que já recebeu?

Thelma dizia “Não telefone para ele, deixe que ele telefone para você”. Isso dá a medida para tudo na vida. Não seja desesperado. Coloque as coisas para acontecer e depois deixe que elas se desenrolem.

Qual tipo de música mais te toca?

Fela Kuti, Bob Marley, Marvin Gaye, Nina Simone, Yoko Ono, John Lennon, Pink Floyd. The Dark Side of the Moon é uma música do começo ao fim. Amo a produção, a composição, a maneira como a bateria foi mixada, os vocais de “The Great Gig in the Sky”. Tudo é perfeito.

Já tentou tocar enquanto assistia a O Mágico de Oz no mudo?

Claro que sim. É uma loucura.

Você tem filhas de 9 e 13 anos. Que tipo de música elas ouvem?

Elas ouvem pop, gostam de Rihanna e Selena Gomez. [Conversa com a filha, Mars] Ah, desculpa, ela disse que odeia a Selena Gomez. Ela gosta de Ed Sheeran, Demi Lovato, Lil Uzi Vert.

Conhece esses artistas?

Conheço, sim, levo as crianças para a escola ouvindo isso. Eu gosto do que está acontecendo na música. Escuto uma banda de Toronto chamada BadBadNotGood. Quando vou a um show do Young Thug ou Uzi Vert ou Ugly God, o que vejo é uma geração com algo para comunicar.

Você passou por um período de rebeldia quando chegou aos 40 anos. Por que nessa fase?

Minha crise de meia-idade foi uma festa. Eu ainda estava me apresentando, gravando discos e criando meus filhos, mas abri mão do adorno de cabeça. Com as mudanças hormonais e todas as mudanças sociais e políticas no ar, eu tive que me soltar um pouco.

Qual foi a coisa mais maluca que fez nesse período?

Ih, caralho. Não posso te contar, mas certamente foi no ônibus de turnê. “Isso é ficar bêbada? Ok. Isso é ficar chapada? Ok. Isso é passar a noite fora? Ok.” Me adaptei naturalmente. Nunca fui festeira quando era jovem, estava sempre fazendo shows, estudando ou fazendo algo “responsável”. Então foi divertido, divertido de verdade.

Qual a regra mais importante pela qual pauta sua vida?

Eu sigo a minha intuição. Isso não vai me dar aquilo que eu quero, mas vai me dar aquilo de que preciso.

Você tem uma atividade que te ajude a lidar com tudo?

Ando muito, faço boxe, tae kwon do, hot yoga. Faço exercícios de respiração na sauna. Pulo na cama elástica com a caçula, faço aulas de dança com a do meio e levanto peso com meu filho adulto. Mantenho pessoas saudáveis perto de mim.

Você é pessimista ou otimista sobre a nossa era?

Sempre otimista. Eu vejo o que está acontecendo como um processo de renascimento, e partos são difíceis.

Uma vez você disse que gostaria de dirigir um daqueles vídeos de instruções que exibem antes de o avião decolar. Esse ainda é um sonho?

Eu não gosto de pensar no que tenho que fazer se aquele maldito cair. O meu vídeo seria mais realista: “Nada dessa merda vai te ajudar de verdade, mas, se você vir as máscaras de oxigênio caindo, comece a rezar e a fazer as pazes com Deus”. Eu ia querer que fosse engraçado. E no final diria: “Apenas pense positivo”, e aí faria uma oração pelo piloto.