Considerada a melhor escola pública do Brasil, o Ciep Guiomar Gonçalves Neves, em Trajano de Moraes (RJ), tem uma fórmula simples: integração e cidadania
Às vésperas do início das aulas, em 1994, professores trocaram as salas por caminhadas pelas ruas de Trajano de Moraes, município de pouco mais de 10 mil habitantes, cravado na Região Serrana e distante 250 km do Rio de Janeiro. O vai-e-vem era para tentar convencer pais e responsáveis a matricularem seus filhos no recém-inaugurado Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Professora Guiomar Gonçalves Neves, o primeiro Ciep da região.
"Éramos todos muito novos e a maioria estava em seu primeiro emprego. Os pais achavam que não daríamos conta e alguns professores de outras escolas, com ciúme, diziam que o risco de isso acontecer era grande. Daí, nós tínhamos uma escola enorme e sem alunos. Foi quando resolvemos bater de porta em porta para acabar com o medo que as pessoas tinham e também com o preconceito de que Ciep era escola para marginal ou apenas para crianças muito carentes", conta Andréa Danetra Mangia, professora da 1ª até a 4ª série do Ensino Fundamental.
Catorze anos depois, os professores se preparam para enfrentar um novo desafio: o aumento na procura por vagas. Tudo porque a escola foi eleita em 2007 a melhor do Brasil pelo Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação, que mede a qualidade do ensino no país. Concorrendo com outros 46 mil colégios públicos de ensino fundamental espalhados por todo o país, o Ciep teve nota 8,5. A média nacional dos colégios estaduais brasileiros não passou dos 3,3. Diretor da escola há pouco mais de três anos, Elieton Moreira Riguete, 32, atribui o sucesso ao trabalho coletivo.
"Trabalhamos de forma integrada e não vamos para a escola para bater ponto. A maioria dá aulas desde a inauguração e se acha meio dona do colégio, não está preocupada apenas em cumprir a carga horária", conta Elieton, lembrando um ponto que, para ele, foi fundamental para a conquista: o horário integral. "Há seis anos, conseguimos implementá-lo e isso faz toda a diferença." No Ciep de Trajano, ao contrário da maioria das escolas públicas do Brasil, os alunos entram às 8h e só voltam para casa quando o sinal bate às 16h. Durante essas oito horas, além de disciplinas como Português, Matemática, História e Ciências, as crianças e os adolescentes têm aulas de artes, participam de grupos de leitura, vêem vídeos - filmes nacionais, estrangeiros e documentários - e têm o que é ainda mais raro em todo o país: aulas de estudo dirigido com o professor da turma. Durante duas horas, de segunda a sexta-feira, os alunos podem tirar suas dúvidas sobre as matérias ensinadas naquela semana. Mas não são os únicos a ter tantos compromissos. "Os professores têm por dia duas horas dedicadas ao planejamento das aulas", diz Elieton. Além disso, a maioria dos 35 professores está cursando uma faculdade. "Não há acomodação e sim respeito pela profissão. Todos têm curso normal, alguns já concluíram o superior e muitos estão cursando agora, inclusive eu, que faço pedagogia. Além disso, com o resultado do Ideb, nós ganhamos credibilidade."
Outra diferença em relação às escolas do estado são os dados sobre evasão escolar. Segundo Elieton, no Ciep a evasão é quase zero. "Não chega a 3%. Se um aluno tem mais de dez faltas por bimestre, um grupo de professores vai até a casa dele para saber o que está havendo e como pode ajudar", conta. No estado do Rio, em uma turma do Ensino Fundamental com 30 alunos, em média dois abandonam os estudos. No Ensino Médio, a evasão é maior: três em cada 30 deixam a escola.
Você lê "Escola Nota 10" na íntegra na edição 17 da Rolling Stone Brasil