Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Especialista enumera referências africanas na moda carioca

Paula Acioli é mestre em Moda, Cultura e Artes e coordena o curso de Gestão de Negócios em Moda da Fundação Getulio Vargas

Redação Publicado em 21/06/2015, às 15h08

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Foto de campanha da Farm - Reprodução
Foto de campanha da Farm - Reprodução

Uma imagem da filha publicada em uma revista fez a mestre em Moda, Cultura e Artes Paula Acioli ter um insight revelador a respeito dos costumes da vestimenta da mulher carioca no século XXI. Passados quase 150 anos do fim de uma mácula da história brasileira, a escravidão, é possível notar que a influência cultural dos povos africanos trazidos forçosamente para essa parte da América segue muito viva.

Em colaboração com a Alife., Puma lança coleção inspirada nas ruas de Nova York.

“Minha filha foi fotografada para o editorial de moda de uma revista nacional. Assim que a publicação chegou às bancas, comprei um exemplar para ver o resultado. Lá estava ela, cabelos longos, loiríssimos, e cara de gringa, mas vestida como a típica carioca que é: shorts jeans, canga amarrada na cintura, lenço preso no pescoço e nas costas, como frente única, sandálias Havaianas e incontável número de cordinhas e pulseiras nos pulsos”, relata Paula, que também é coordenadora do curso de Gestão de Negócios em Moda da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Adidas lança linha de tênis em homenagem a pioneiros do skate.

A especialista conta que se lembrou de ter visto algo semelhante àquela imagem anteriormente em algum dos livros lidos por ela para uma tese de mestrado sobre a moda carioca, tese que será publicada em breve. Folheando uma das obras de Johann Moritz Rugendas, pintor alemão que integrou uma das várias missões artísticas que registraram hábitos e costumes no Brasil do século XIX, ela percebeu.

Tyler, The Creator se apropria de símbolo nazista para discutir homofobia em camiseta.

“Havia encontrado a tal imagem que tinha cismado já ter visto antes e que tanto se parecia com a foto na revista. Fiquei surpresa ao constatar que não apenas a pose descontraída de minha filha, mas todas as peças de roupas usadas por ela em pleno século XXI – exceto o shorts jeans – eram exatamente iguais às da escrava retratada na gravura de Rugendas, do século XIX".

"Estavam no corpo da bela negra africana o pano amarrado na cintura, como uma canga e um lenço amarrado no pescoço e no torso, exatamente como o lenço que minha filha transformara em frente única. No pulso da escrava, como no da minha filha, muitas pulseiras e cordinhas. Sinais de vaidade da mulher carioca de hoje, que já eram marca registrada da mulher, sobretudo a negra, no Rio de Janeiro de séculos atrás”.

Os estudos na área e uma viagem recente à África reforçaram em Paula a noção de que as referências africanas de fato se arraigaram ao longo dos anos no Brasil, a despeito do preconceito e de todas as dificuldades impostas aos escravos e aos seus descendentes. Não só na moda, mas também na música, na gastronomia e no estilo de vida.