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Espelho do Real

No primeiro disco solo, Marcelo Yuka mergulha em um processo de autoanálise, enquanto paralelamente fala sobre o mundo

Gabriel Nunes Publicado em 12/01/2017, às 04h39 - Atualizado em 13/01/2017, às 06h25

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<b>Colaborativo</b><br>
Yuka contou com a ajuda de Céu, Cibelle e Seu Jorge em <i>Canções para Depois do Ódio</i> - Daniela Hallack Dacorso/Divulgação
<b>Colaborativo</b><br> Yuka contou com a ajuda de Céu, Cibelle e Seu Jorge em <i>Canções para Depois do Ódio</i> - Daniela Hallack Dacorso/Divulgação

Marcelo Yuka quer extravasar o sentimento de indignação, uma consternação por enxergar a sociedade de hoje como um espaço cada vez mais conservador e menos tolerante. “Parece que estamos vivendo um nada muito grande”, crava. “Esse presidente é um nada, o ministério dele é um nada, a esquerda virou um nada. Hoje em dia tem muito ódio no ar, muita intolerância. Parece que o fascismo ganhou.” Buscando dar vazão a essas constatações, o carioca acaba de lançar o aguardado Canções para Depois do Ódio, primeiro disco dele desde Sangueaudiência (2005) – único trabalho gravado junto ao grupo F.U.R.T.O. – e também o primeiro como cantor e compositor solo.

Arquitetado ao longo de quase uma década, o debute do ex-baterista e letrista d’O Rappa passou por diversas reformulações antes que o conceito final fosse alcançado algo que, conforme Yuka relembra, ocorreu somente há cerca de dois anos. “Enchi um monte de HDs com músicas antes de saber qual seria a cara do Canções...”, revela. “Muita gente queria que fosse um ‘O Rappa 2’, mas eu não estava a fim disso. Queria um disco com músicas melódicas que me prendessem e que promovessem, ao mesmo tempo, um encontro com ritmos afro-brasileiros.”

O músico escreveu Canções para Depois do Ódio como uma espécie de autoanálise, na qual se debruçou sobre os próprios demônios. A partir daí, também buscou criar uma “terceira margem” para repensar os tempos sombrios em que vivemos – o que se deu, segundo ele, “pelo amor”. “Tenho desenvolvido novas armas para lutar, e o amor tem sido uma delas”, afirma Yuka. “Não o amor convencional, mas o amor como fato em si, como uma potência renovadora e revolucionária. Estamos em um momento de respirar fundo, e esse disco é uma maneira de rever nosso ódio, uma forma de manter a esperança viva. Nem que seja por um momento, porque a esperança é também uma forma de luta.”

Ele ainda vê a estreia solo (que traz na ficha técnica um leque diversificado de parceiros, como Céu, Cibelle e Seu Jorge) como uma forma de se contrapor à indústria do entretenimento. Para Yuka, isso se evidencia na vagarosidade em que o LP foi concebido, já que a rapidez com que os conteúdos são transmitidos e sua efemeridade são coisas inerentes ao mercado de hoje. “É claro que teve uma cobrança muito grande das pessoas para que eu lançasse logo um álbum – e eu até acho carinhosa essa pressão do público, mas eu não estou procurando criar entretenimento”, ele afirma incisivamente.

“Eu quero entreter, mas acho que a verdadeira função do artista é ser um espelho da sociedade, e muitas vezes ele tem que jogar uma pedra nessa porra. Hoje em dia tudo vira entretenimento, tudo é um grande show. O que eu quero fazer é arte.”