Demorou, mas querer ser famoso e rico deixou de ser pecado no Brasil. Não há muitos adolescentes que não façam autoretratos exibindo bicos e buscando alguma exposição. E é simbólico que a imagem que abre a página oficial da cantora Anitta seja exatamente a tal “duckface”: a artista de 20 anos não apenas representa as adolescentes exibidas da internet, mas também já foi uma delas. E esse nível de identificação é algo que ajuda na construção de uma estrela pop – outra coisa que, aparentemente, enfim deixa de ser tabu no país.
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Anitta escolheu o nome na TV, foi descoberta postando vídeos de si mesma no YouTube e trocou a aparência do nariz e dos seios em uma mesa de operação antes mesmo do fim da adolescência. Ela é a cara de uma geração inteira. Contratada em 2009 pela produtora Furacão 2000 após postar um vídeo na web, Larissa de Macedo Machado usava o prefixo “MC” antes de ser simplesmente Anitta. Mas assumiu o nome atual quando, há um ano, a empresária Kamilla Fialho achou que o potencial da garota merecia mais. Rapidamente, pagou uma multa e levou a cantora para seu escritório – o mesmo que também tirou o “MC” e deu sucesso a Naldo. A partir daí, veio o contrato com a Warner, o “Show das Poderosas” e uma agenda com pelo menos 25 shows por mês, algumas vezes três no mesmo dia.
“Tudo mudou quando a Kamilla chegou. Até o contrato com a Warner foi ela quem conseguiu. Tudo que está acontecendo ela já tinha me dito um ano atrás como seria”, conta Anitta, cansada, mas “vivendo um sonho”. O primeiro disco está pronto e deve ser lançado em julho. “Vai ser bem eclético”, diz ela, que rejeita a ideia de perseguir qualquer estilo e adianta que o trabalho terá reggaeton e algumas faixas menos dançantes. Mas não muitas, já que Anitta tem força no rebolado. Afinal, emplacou o passinho do “ba-ban-do” na noite e reivindica a autoria do “quadradinho” original do funk – antes de ele virar “de 8” e começar a ser feito de ponta cabeça pelo Bonde das Maravilhas.
Como o álbum ainda não saiu, os três hits atuais ainda se misturam a covers que recheiam a maratona de shows. As apresentações, que têm um mínimo de 1h30, trazem sucessos do pop nacional dos anos 90 – Claudinho e Buchecha, Kelly Key, Sandy & Junior –, além de uma pitada de divas claramente inspiracionais, como Katy Perry e Beyoncé. As comparações (depreciativas) com as últimas, principalmente por causa do estilo dos vídeos e das coreografias, provocam desdém em Anitta. “É muito preconceito”, dispara. “Se só quer ouvir coisa de fora, que mude do Brasil”. A resposta mostra que artista com estratégia não significa artista domado – Anitta está menos para meiga e muito mais para abusada.