Trio Elo da Corrente colocou mais melodia no rap paulistano, e agora soma músicos aos samples
Por puro preconceito ou falta de informação, muitas pessoas torcem o nariz para a união entre o ritmo e a poesia. O argumento: falta complexidade nas melodias. Mas o próprio rap apresenta o contra-argumento há alguns anos. E um dos grandes exemplos da riqueza melódica que o estilo pode ter é o trio paulistano Elo da Corrente. Os MCs Caio e Pitzan, ambos hoje com 28 anos, se conheceram no 1o ano do ensino médio, no bairro da Aclimação, em São Paulo. “A gente curtia o rap, mas sentia falta de um som mais melódico. Na época, poucos grupos faziam isso”, diz MC Caio. O rapper norte-americano Tupac Shakur, com suas batidas secas e vocal carrancudo, era uma das principais referências para o rap feito no Brasil. Os dois começaram, com a ajuda de um amigo em comum, uma extensa pesquisa em discos brasileiros dos anos 60 e 70 atrás de bases, samples e beats que tivessem relação com o Brasil. Assim em 2000, nasceu o Elo da Corrente.
“Até existia internet, mas o alcance era pequeno. Então gravamos para diversas coletâneas encartadas em revistas, junto com um coletivo chamado Rhima Rhara”, explica MC Caio. Além da diversidade musical, as letras também buscam outros caminhos que não o protesto social. Em 2004, o DJ PG, 34 anos, entrou para o grupo e completou a formação como ela é hoje. Com ele vieram beats de bateria eletrônica, uma grande coleção de vinis brasileiros e mais elementos para o primeiro disco, Após Algumas Estações (2007). “Ficamos dois anos preparando esse disco e é assim que trabalhamos, com bastante calma e pensando nos detalhes”, conta MC Caio.
O próximo trabalho está em produção e deve sair até outubro deste ano. Chamado Cruz, é uma evolução no trabalho do Elo. “Agora, além dos samples, chamamos algumas pessoas que admiramos para participar”, diz o MC Pitzan. “Resolvemos somar o eletrônico com o [instrumental] orgânico, tocado.” Um convidado que antes era objeto de pesquisa é o compositor e violonista Arthur Verocai, que compôs sucessos para Elis Regina e Maysa, e assina o arranjo de duas faixas do disco. Outras participações vão de Hurtmold a Nação Zumbi, passando pelo Bixiga70.