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Extraordinário e Estratégico

Ministro de Harvard, ministro da Igreja Universal. O que pensa Roberto Mangabeira Unger, Ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos?

Maurício Monteiro Filho Publicado em 08/07/2008, às 16h59

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Roberto Mangabeira Unger usa óculos assimétricos. Nos raros momentos em que se demora em uma mesma posição encarando alguém, o faz detrás de lentes grossas, a direita notoriamente mais espessa. Em sua inquietude, descreve semicírculos na cadeira giratória, tira os óculos, deixa-os sobre a mesa, olha o vazio, silencia, constrói grandes pontes lógicas entre raciocínios que pareceriam impossíveis de se conectar numa mesma sentença, revela a corrente de um relógio de bolso, fita o mostrador, coloca novamente os óculos, pousa o relógio de ponteiros austeros e mostrador deserto sobre a mesa.

Mangabeira despacha numa sala imensa, que a mesa de trabalho, a de reunião e um conjunto de sofás não chegam perto de preencher. Seu gabinete fica no 8º andar do bloco O da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. É nesse prédio que está o Comando do Exército. Soldados rigorosamente fardados guardam a entrada, fuzis à mostra, mas relaxam quando o edifício se esvazia e podem assistir em paz à novela que passa em uma televisão no saguão.

O Ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos, empossado em outubro de 2007, se orgulha de estar ali. "Sou o primeiro civil a quem o exército entrega um espaço como este", gaba-se. E emenda: "Os grupos mais entusiasmados com o início de minha gestão eram justamente as Forças Armadas, os cientistas e a Igreja". Em sua análise, uma característica principal une esses grupos: "Os três estão fora do mundo do dinheiro".

Quer dizer que nem todas as Igrejas estão fora desse mundo, certo?

[Silêncio do ministro] ... Eu falo da Igreja Católica...

Mas o sr. é filiado ao PRB (Partido Republicano Brasileiro, fortemente ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e ao bispo Edir Macedo)?

Sim.

Alguma relação entre o PRB e o Partido Republicano norte-americano?

[Risos] Nenhuma, nenhuma...

Aquele relógio de bolso, que agora repousa ao lado do copo de água com gás, é o mais paradoxal de seus acessórios: cada escala dos ponteiros significa que seu longo prazo está encurtando.

Mas, enquanto o tempo para que as mudanças que ele preconiza sejam aplicadas vai escasseando, ele continua colecionando novos cargos. Já acumula a chefia da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo da Presidência da República, que reúne o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE).

Para o filósofo e jurista, o quadro é um velho conhecido: ele fez de sua vida um sistemático encurtamento de prazos. Ainda na infância, se apaixonou pela filosofia e pela política. Em 1971, com 24 anos, começou a lecionar na mais prestigiada universidade do mundo, Harvard, em Boston, Estados Unidos. Aos 29, já era titular de uma cadeira na escola de Direito na instituição. Vinte anos depois de suas primeiras aulas, tornou-se professor de Barack Obama, atual candidato democrata ao governo dos EUA. "Desenvolvi uma relação cordial com ele. Tenho grande admiração não só pelas qualidades intelectuais dele, mas sobretudo pelas morais. Ele demonstrou grande capacidade de sacrifício. Mas acho que a relação entre estados não é muito influenciada pelo acidente das relações entre pessoas. De qualquer forma, é um homem que tem um grande interesse pela América Latina, inclusive pelo Brasil."

Seria eleitor de Obama?

Eu nunca poderia falar sobre isso. Sou ministro do Governo do Brasil e tenho que obedecer ao mínimo de propriedades diplomáticas.