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Fábio Porchat

Humorista exercita a hiperatividade fazendo cinema, TV, internet e teatro

André Rodrigues Publicado em 11/02/2015, às 14h04 - Atualizado em 13/05/2015, às 11h55

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<b>INQUIETO</b><br>
Para Porchat, até ler o jornal é sinônimo de trabalho.
<b>INQUIETO</b><br> Para Porchat, até ler o jornal é sinônimo de trabalho.

Fábio Porchat trabalha as teorias do físico Albert Einstein diariamente. Para ele, o tempo é (muito) relativo e pode ser dilatado de maneira infinita. “Eu estou sempre trabalhando. Assistir a um filme, para mim, é trabalho. Assistir a uma peça é trabalho. Ler jornal é trabalho”, diz, enquanto escreve o roteiro do primeiro longa-metragem do grupo humorístico Porta dos Fundos em um dos intervalos da gravação do filme Vai que Dá Certo 2. Além de encontrar horas e horas para se dedicar a criar piadas, Porchat também ocupa diversos lugares ao mesmo tempo. Neste ano lança pelo menos quatro filmes, incluindo Entre Abelhas, uma tragicomédia. Na TV, grava nova temporada de Tudo pela Audiência (Multishow). Há ainda um programa de viagens para a internet e, claro, o teatro, onde lota todas as sessões de Fora do Normal, seu número de stand-up, e Meu Passado Me Condena.

Você é ator, roteirista e apresentador. Algumas dessas funções é a preferida?

O que eu consigo me ver fazendo pelo resto da vida é teatro, atuando para uma plateia ao vivo. A reação imediata das pessoas me atrai muito e faz tudo ter sentido. Porque o teatro é a origem de tudo, e lá não tem nada que me impeça de dizer o que quero.

Você vê as atuais comédias nacionais brasileiras?

Vejo, sim. Acho o [Leandro] Hassum um gênio. Tudo o que ele toca é engraçado. A Tatá Werneck é outra que é engraçada, genial. Não tem como não rir do Paulo Gustavo. É uma geração muito poderosa.

Estamos no meio da eterna discussão sobre os limites do humor, até por causa dos recentes ataques terroristas em Paris. Como estamos caminhando com o humor no Brasil?

Essa nova geração que já se estabeleceu, como Danilo Gentili, Dani Calabresa, Porta dos Fundos, Marcelo Adnet, é uma geração que escreve, cria seu material, tem suas opiniões. É um pouco diferente do que tinha acontecido anteriormente. Mas precisamos dar um segundo passo no stand-up. Nos Estados Unidos, os comediantes falam sobre política, racismo, se posicionam. Está começando a acontecer aqui também.

Você se sente cerceado e acaba não fazendo algum tipo de piada para não provocar polêmica?

Tento não pensar nisso. Tento ver se a piada é engraçada ou não. Eu escrevi um esquete para o Porta dos Fundos do médico que vê a imagem de Jesus na vagina da mulher. Eu achava muito engraçado. Mas imediatamente percebi que daria algum tipo de repercussão. Quero que se dane. Acho engraçado, não acho ofensivo. Estou só falando do fanatismo,

de alguém que vê a imagem de Jesus no pão de forma. Tem gente que vê a imagem de Jesus no ânus de um cachorro. Acho que tem assuntos que podem gerar alguma polêmica, mas o principal não é causar rebuliço, é causar o riso. E a gente pode rir da minoria, pode rir da maioria, pode rir de tudo. O importante é que a piada seja o elemento principal da coisa e não humilhe a pessoa, nem o mendigo, nem o presidente, nem o cantor de axé. Não pode humilhar ninguém, isso é premissa básica.

O autor inglês Will Self escreveu que pensa na sátira seguindo um princípio: tem que “afligir os confortáveis e confortar os aflitos”. Como é para você?

Tudo pode. O que pode como comediante é pensar assim: por que eu quero tocar na mulher estuprada? Por que eu quero tocar no cearense? Pode tocar, pode ser muito engraçado. Existe graça no humor racista, no humor negro, na anedota, na piada de salão, tudo pode ser engraçado. Basta saber se é aquilo mesmo que você quer dizer e se você está preparado para enfrentar o que as pessoas vão falar.

Mas você não tem uma lista de coisas proibidas, que procura não transformar em piada?

Fiz um esquete sobre burca, um comercial “Venha para o Irã você também”. A questão não é essa. Eu acho um perigo a gente entrar na onda “Puxa, eles não querem que desenhe o profeta”. Aí é complicado. Se for pra respeitar o que cada um acha que é sagrado, aí a gente não sai mais de casa, porque a vaca é sagrada pra um, a maconha é sagrada pra

outro; não vou poder desenhar, não vou poder comer presunto. Cada um faz uma maluquice que acha que vai reconfortar a vida de alguma forma. O que não pode é a sua maluquice me impedir de fazer as minhas coisas.