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A Festa Nunca Termina

Como surgiram e de que forma estão se desenrolando a turnê e o disco que marcam os 30 anos do Legião Urbana

Carlos Sartori Publicado em 23/10/2015, às 11h39 - Atualizado às 11h48

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Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá fazem questão de frisar: não é uma volta definitiva do Legião - FERNANDO SCHLAEPFER/I HATE FLASH
Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá fazem questão de frisar: não é uma volta definitiva do Legião - FERNANDO SCHLAEPFER/I HATE FLASH

“Projeto novo no caminho”, “Outubro é logo ali” e “Estamos aprontando”. Esses foram os primeiros sinais dos legionários Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, nas redes sociais, para divulgar uma das notícias mais importantes para o rock nacional nos últimos tempos: o “retorno” da banda Legião Urbana para comemorar 30 anos do primeiro disco. Porém, sem dar tempo para possíveis especulações, o anúncio de turnê e álbum veio acompanhado do aviso de que não existe volta definitiva sem Renato Russo, e que esta é apenas uma celebração.

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Os dois integrantes originais passaram o mês de setembro a mil por hora, divididos entre garimpagens de material na gravadora e ensaios, no Rio de Janeiro, para a turnê. No estúdio, reuniram cinco artistas “camaradas” e de confiança: o produtor Liminha, diretor do espetáculo, os músicos Lucas Vasconcellos, Mauro Berman e Roberto Pollo, e o cantor e ator André Frateschi, que pega emprestado o microfone que foi de Renato Russo. Frateschi, que ficou mais conhecido com o show que manteve por anos, fazendo cover de David Bowie, deixa clara sua função na empreitada: “Não existe Legião sem Renato. Assim como não existe sem Dado e Bonfá”. O vocalista está afinado com o comunicado oficial dos integrantes remanescentes, que explica o motivo do retorno. “Depois de termos nossos direitos reconhecidos pela Justiça, recebemos da EMI – hoje parte da Universal Music – a proposta de lançar uma edição especial do nosso primeiro disco, também chamado de Legião Urbana, e originalmente lançado em 1985.” Surgia o projeto Legião Urbana – 30 Anos.

Dado Villa-Lobos enaltece as qualidades de André Frateschi. O reencontro dos dois ocorreu há dois anos. “Ele chegou e falou: ‘Dado, você não vai se lembrar de mim, eu sou filho da [atriz] Denise Del Vecchio’. Ela fazia a mãe do Marcelo Rubens Paiva na peça Feliz Ano Velho, que ficou em cartaz entre 1984 e 1985. Como éramos muito amigos do Marcelo, em algumas cidades nós nos apresentamos nos teatros logo depois da peça. O André acompanhou essa excursão toda quando ele tinha 11 anos, andava na van, ficava no camarim”, relembra o guitarrista, emocionado. “O mundo dá voltas e ele virou o cara que vai cantar com a gente. Tudo se encaixa.”

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Sem falsa modéstia, Villa-Lobos destaca a importância do primeiro disco do Legião. “Ele tem lugar reservado no universo do rock brasileiro. É inegável. É o tiro de largada do Legião Urbana, é o que era Brasília, está tudo ali naquele disco. Tem músicas populares, diferentes, uma série de canções simbólicas e marcantes de uma forma que eu nunca vi. Não consigo identificar um rótulo pra isso.” O titã Paulo Miklos, um dos amigos convidados para os shows-tributo, também comenta a relevância do debute da banda de Brasília. “Foi de um impacto tremendo na cena musical no momento do lançamento”, vibra. “Foi a partir daí que o Brasil conheceu o Legião. Vai ser uma grande honra participar desta festa e encontrar e cantar com os fãs do grupo.”

O primeiro show anunciado pelos remanescentes da banda será em Santos, no dia 23 de outubro. É uma singela homenagem à cidade do litoral paulista, palco do último show do Legião. “A ideia é excursionar de outubro até dezembro, todos os fins de semana. E ir a lugares a que nunca conseguimos chegar”, projeta Villa-Lobos.

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Ele está feliz com os ensaios e antecipa que o projeto vai contar com a participação de muita gente que faz parte do círculo de amizades da banda. “O clima está ótimo, passamos o primeiro disco na ordem, direto e reto, e ficou incrível. A pegada da banda está superfiel, pulsando. O André está cantando essa primeira parte do disco, eu vou cantar uma, o Bonfá outra. Na segunda metade do show vai ter um intervalo com vídeos, depois entramos com um set de 12 grandes sucessos”, ele revela, animado. O presente para os fãs terá um complemento especial em cada cidade visitada. “Vamos misturar os convidados em função dos lugares, das datas. Em Porto Alegre, por exemplo, podemos convidar o Humberto Gessinger, do Engenheiros do Hawaii. E uma rapaziada nova, o Jonnata Doll, que é de Fortaleza. Chamar a Karina Buhr, o Catatau, o pessoal da Plebe Rude, a turma do Paralamas do Sucesso, Rogério Flausino [do Jota Quest], Projota, Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, enfim, as pessoas que fazem parte dessa história.” O ator Wagner Moura, que virou vocalista na última apresentação comemorativa dos integrantes do Legião Urbana, em 2012, também está cotado para subir ao palco. “Já falei com ele e, quando estiver liberado da série Narcos, ele estará com a gente, mesmo barrigudo e com bigode [risos].”

A motivação ao rever e escutar as primeiras gravações do Legião foi o grande impulso para comemorar três décadas de história. “A gravadora teve a ideia. Eu tinha esquecido como a gente era [naquele tempo], a real é essa. Vimos todo o processo de como chegamos ali para gravar o primeiro disco, com a fita cassete para tocar no programa de rádio do Mauricio Valladares, fazer show no Circo Voador para a gravadora assinar com a gente”, relembra Villa-Lobos. Ele também critica e alfineta um produtor musical que rejeitou o Legião Urbana no começo da carreira. “Lembrei e ouvi a fita demo que gravamos com o Marcelo Sussekind [do Herva Doce]. Ele abandonou a gente, pois achava a banda uma merda. Toda essa história com o primeiro disco e mais 19 músicas estarão na edição de 30 anos. Coisas da nossa essência.”

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O guitarrista ainda manda um recado para os que acham que a comemoração é uma decisão oportunista, para fazer dinheiro com diversos produtos: livros, discos, DVD. “Eu quero que se fodam! É muito fácil falar, criticar. Eu sou mais eu, e nós, e a música, e a festa, e tudo isso. Não tem ‘exumação de cadáver’. Tem vibração positiva, estamos celebrando a memória em um país sem memória. Essa banda existiu e a força do repertório continua.”