Fumaça Salvadora

Poderão os “super-heróis” da música socorrer o rock?

MIGUEL SOKOL

Publicado em 22/10/2015, às 18h44 - Atualizado às 18h48
Johnny Depp e Joe Perry com o Hollywood Vampires, no Rock in Rio - DIEGO PADILHA (HOLLYWOOD VAMPIRES)
Johnny Depp e Joe Perry com o Hollywood Vampires, no Rock in Rio - DIEGO PADILHA (HOLLYWOOD VAMPIRES)

Setembro de 2015, o sertanejo daniel em entrevista de algum lugar do Brasil: “Sinto falta do rock nacional. Ouço muita rádio e queria ouvir mais rock brasileiro”. Corta. Agosto de 2015, Billie Joe Armstrong, via Twitter, de algum lugar dos Estados Unidos: “Acabo de assistir ao VMA. Nenhuma nova banda de rock? Há ótimas bandas despontando em festivais e nas redes sociais. Que porra é essa?” Corta. De volta ao presente: eu não esperava um comentário diferente vindo do vocalista do Green Day, mas, quando o Daniel que é o Daniel sente falta do rock, nós podemos afirmar que, na roda-gigante dos modismos, ele, o famigerado rock, está mais por baixo que voo de marreca choca. E a prova é o surgimento quase simultâneo de não um, mas dois raros supergrupos. O primeiro, Teenage Time Killers, formado por Mick Murphy (My Ruin), Reed Mullin (Corrosion of Conformity), Corey Taylor (Slipknot) e Dave Grohl (Foo Fighters), entre outros, fez o primeiro show no mês passado enquanto o outro supergrupo, Hollywood Vampires, formado por Alice Cooper, Joe Perry (Aerosmith) e Johnny Depp (o maior arroz de festa da atualidade), lançou o disco de estreia. Supergrupos são como super-heróis: quando um estilo musical está vulnerável, ameaçado e entregue à própria sorte em um beco escuro, surge um supergrupo para salvá- lo. Por que eu digo isso? Corta. Começo dos anos 1990, meio-oeste dos Estados Unidos: surgiam diversas bandas que misturavam country e rock de uma forma como ainda não haviam misturado. Mas naquele momento tudo que não fosse grunge estava por baixo na roda-gigante dos modismos, então alguns integrantes daquelas bandas, entre eles Gary Louris e Marc Perlman (Jayhawks), Dan Murphy e Dave Pirner (Soul Asylum), Kraig Johnson (Run Westy Run) e Jeff Tweedy (Wilco), decidiram que juntos eram mais fortes e fundaram um supergrupo de nome muitíssimo apropriado, o Golden Smog, algo como Fumaça Dourada, mostrando ao mundo que ali havia fogo. Corta. De volta ao presente: eu sou obrigado a duvidar que tanto Teenage Time Killers quanto Hollywood Vampires tenham forças para girar a roda-gigante dos modismos, como o Golden Smog girou, pois não há nesses supergrupos a novidade que havia no Golden Smog; pelo contrário, ambos são fogo de palha. Corta. Futuro próximo: você pode supor que, sem um supergrupo salvador, a minha conclusão seja a morte do rock. Errado. Sempre teremos bandas boas surgindo, mas às vezes é preciso fuçar um pouco mais para descobri- las. Nessa fogueira, com ou sem supergrupos, sempre há lenha. Habemus rock.

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