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"Avatar mudou tudo", diz Louis Leterrier

Diretor de Fúria de Titãs fala sobre influência do filme de James Cameron e conta como foi a produção de seu remake, que estreia, no Brasil, próximo dia 21

Por Fernanda Catania Publicado em 07/05/2010, às 18h30

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Louis Leterrier se inspirou em <i>Senhor dos Anéis</i> para fazer o remake de <i>Fúria de Titãs</i> - AP
Louis Leterrier se inspirou em <i>Senhor dos Anéis</i> para fazer o remake de <i>Fúria de Titãs</i> - AP

"[Em Avatar 6], quando você olhar para baixo, vai estar vestido como os Nav'i e vai poder ver o mundo ao lado de Sam Worthington", fantasia, aos risos, Louis Leterrier, sobre o futuro do cinema. Mesmo em tom de brincadeira, o diretor de Fúria de Titãs acredita que o boom do 3D é só o começo da evolução do cinema. Em entrevista concedida ao site da Rolling Stone Brasil, o simpático cineasta francês também fala sobre o poder do filme mais recente de James Cameron e conta como foi o processo de produção do remake de Fúria de Titãs - originalmente lançado em 1981 -, que estreia em 21 de maio no Brasil.

Hoje, um dos grandes debates é sobre a onda dos filmes 3D e a maneira como isso pode mudar a nossa maneira de interagir com os filmes. Como você acha que o cinema será no futuro?

[Risos] Sabe como eu acho que vai ser? Não com todos os filmes mas, por exemplo, quando Avatar 6 estrear, você vai entrar no cinema com seus amigos ou família e as luzes vão apagar, alguns aparelhos vão se conectar ao seu cérebro, não haverá mais tela, você poderá andar... Não será como um videogame porque você não poderá guiar o filme, mas você vai ter o poder da ação. Quando você olhar para baixo, vai estar vestido como os Nav'i e vai poder ver o mundo ao lado do Sam Worthington. E então você vai poder sentir as coisas, o cheiro, quando tiver fogo você vai sentir, quando estiver chovendo você vai se sentir molhado. Eu mal posso esperar por esse momento! [risos] Não estou dizendo que vai ser assim em todo lugar e de maneira rápida, mas, se vc for ver, o cinema tem cerca de cento e vinte anos, então o que poderá acontecer daqui mais cento e vinte anos, sabe? É loucura.

Então você acha que Avatar foi mesmo um divisor de águas neste sentido?

Sim, com certeza. Avatar é o responsável por isso. Mesmo com o humilde e talentoso James Cameron dizendo que o filme não é um divisor de águas, ele é sim um divisor de águas, realmente mudou tudo. Tanta gente já tentou fazer criaturas, humanos e coisas extremamente realistas, mas nada funcionou até Avatar. E o 3D ajudou muito. Então é isso, James Cameron, você rendeu US$ 2 bilhões, pode parar de ser humilde, você mudou o cinema para sempre [risos].

Por que você decidiu converter Fúria de Titãs de 2D para 3D?

Não fui eu, na verdade foi o estúdio que decidiu converter. A questão é que Avatar descobriu uma nova experiência e todos amaram. Então, pensamos em tentar dar ao público o mesmo prazer que eles tiveram com o filme de James Cameron. O legal de todos esses filmes, como Fúria, Avatar, Alice no País das Maravilhas e até mesmo os da Pixar e os da Dreamworks, são que eles convidam você a entrar em outro mundo, um mundo que você não está acostumado a ver. O 3D ajuda a entrar neste outro espaço, porque há um conjunto de formas, cores, criaturas, que você não está acostumado a ver. Quero dizer que, quanto mais profunda, melhor é a experiência.

Você usou muito do roteiro original de Fúria de Titãs para a criação do remake?

Sim, claro. O original foi um dos filmes que colocou fogo no meu cérebro e que me fez começar a pensar em um novo mundo. Eu assisti quando tinha oito anos, então foi uma grande inspiração para mim. Aí assisti de novo e vi que posso assistir hoje, 30 anos depois, e ainda gostar, e também percebi que faria alguns aspectos de maneira diferente, começando com o ponto de partida, que é o motivo que faz Perseus entrar na missão principal da trama. Lembro que, quando era criança, nunca entendi esssa coisa do príncipe charmoso lutando e enfrentando tudo aquilo pela princesa, então tentei encontrar um jeito de justificar o porquê do herói mergulhar naquela missão. Não existe uma pessoa que se apaixona imediatamente e decide enfrentar isso tudo de repente, sabe? Essa foi a única coisa que decidi mudar, mas mudando o começo você acaba modificando muitas outras coisas.

É, na nova versão, o desejo de Perseus é mais vingar a morte de seu pai do que salvar a princesa...

Sim, ele quer salvar a princesa porque ela é uma das únicas que pode não ser morta pelos deuses. Ele salva a princesa não porque ela é bonita, mas porque é importante.

O que você fez questão que ficasse do roteiro original?

Tiveram três coisas que eu sabia que queria manter, mas são fatores que estão na mitologia grega, bem antes do filme original: as três bruxas, a medusa e o Kraken. Claro que os deuses, mas isso é obrigatório. O que eu fiz questão de deixar de fora foi a coruja dourada.

Eu percebi que na nova versão a relação entre humanos e os deuses está mais próxima. É isso mesmo?

É, essa questão se assemelha com o que acontece na mitologia grega, porque há muito dessa coisa, da relação próxima entre deuses e humanos, de eles descerem e falarem com os humanos, etc.

A versão original é um clássico cult dos anos 80. Hoje é considerado tosco, mas o filme original tem muitos fãs. Você não teme que muita gente possa não gostar da nova versão?

[Risos] Acho que todos os filmes de hoje são uma renovação dos filmes trash, são o novo trash [risos]. O original é engraçado e retrô, nós tentamos fazê-lo mais pop. Mas acho que essa rejeição sempre acontece. Tipo com Senhor dos Anéis, que os fãs viram e falaram "ah, não acredito que você não colocou tal coisa do livro". Você sempre será criticado quando fizer uma adaptação. Então prefiro fazer alguma coisa diferente e ser criticado, do que não fazer nada e deixar igual.

Você recomendou que o elenco estudasse a performance dos antigos personagens?

Não, não. Eu não fiquei falando para os atores verem e estudarem o filme original, porque eu queria encontrar a nossa própria maneira de fazer. Nunca pedi para ninguém assistir à performance de outra pessoa, isso não é bom para um ator.

Qual foi sua impressão quando estava tudo pronto?

Eu fico como uma criança! Não tem jeito, quando você realiza alguma coisa que sempre sonhou, você só pode sentir felicidade. E se for pensar, começaram a falar comigo sobre isso apenas um ano e meio atrás , então foi bastante cansativo escrever, filmar e fazer tudo tão rápido, mas foi muito gratificante.

A History Channel começou a passar uma série chamada Clash of the Gods, bem próximo à estreia de Fúria de Titãs. O que você acha disso? Como é para você ver como seu trabalho pode movimentar uma indústria?

Ah! Eu acho maravilhoso! Eu fiz Fúria de Titãs porque amo a mitologia grega e sou uma das pessoas mais defensoras de filmes beaseados nisso. Vários filmes assim estão aparecendo, então quanto mais produções e programas de TV inspirados na mitologia grega, melhor. Acho fantástico! Estou muito feliz e animado, falando como um fã da mitologia.

Quais são os cineastas que mais o inspiram?

Depende de cada trabalho. Em Fúria, além do original, claro, os principais foram Peter Jackson, principalmente com Senhor dos Anéis, David Lynch e Steven Spilberg.