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George Clinton

A lenda do Parliament-Funkadelic fala sobre a essência do funk, a morte do doo-wop e como encontrar ótimos músicos

Brian Hiatt Publicado em 02/04/2018, às 08h10

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George Clinton - Ilustração: Mark Summers
George Clinton - Ilustração: Mark Summers

Quem são as pessoas mais funk que já existiram?

São a turma do The Staple Singers, cara – e Pops Staples. E Ray Charles. Ray podia pegar “Eleanor Rigby” e deixá-la bem funk. Ele acabava fazendo isso com qualquer coisa – para mim, é funk em estado bruto. E também o [baixista de gravações da Motown] James Jamerson – aquilo sim era ser um músico de verdade.

E quem é a pessoa menos funk viva?

Ai, meu Deus! [risos] Provavelmente o Donald Trump. Não dá para o Trump ser funk! [Faz uma pausa] Ele não vai gostar disso.

De onde vem a ideia de “liberte sua mente e seu corpo seguirá”? Você defende esse conselho?

Acho que eu só falei isso como um fluxo de consciência, sabe? À medida que fico mais velho, vejo isso como sendo igual a “Desapegue e use a Força, Luke”. Se sua cabeça não está boa, tudo o que tentar consertar vai dar errado, porque é seu cérebro que precisa de conserto.

É a mesma ideia de “Maggot Brain”.

Sim, igual! Igual. Se você tem larvas no cérebro, tudo o que pensar será podre.

Que conselho daria a si mesmo na juventude?

Pare de achar que qualquer outra coisa será LSD. Se soubesse que nunca seria como na primeira vez, você poderia ter parado há muito tempo.

Você nunca se arrependeu do LSD?

Assim que Woodstock aconteceu, o LSD acabou. Virou comercial, US$ 5 cada. Então, aquela coisa de manipulação de mente que ele fazia se tornou perigosa porque qualquer um poderia te programar enquanto você usava.

O que acha de artistas brancos que fazem música negra?

É um mundo só, um planeta só, um groove. Temos que aprender uns com os outros e nos misturarmos e a coisa se move assim. Viu aquele lançamento de foguete outro dia? Talvez possamos sair deste planeta. Vamos lidar com alienígenas. Acha que branco e negro serão um problema? Espere até começar a encontrar putos com três ou quatro paus! Com olhos de inseto! Eles podem estar prontos para a balada ou para nos comer. Não sabemos, mas precisamos superar esta merda de não nos darmos bem uns com os outros.

Você e Bootsy Collins tiveram um encontro alienígena, certo?

Certo, e não estávamos doidões. Uma luz atingiu o carro e uma substância como mercúrio de termômetro subiu rolando a lateral do carro.

Metal líquido que se movia como em O Exterminador do Futuro 2?

Parecia exatamente aquilo.

Como você conseguiu encontrar músicos tão consistentemente bons ao longo dos anos?

Eles normalmente são incomuns, mas ainda atraentes. Alguém que você não pode controlar ou que não faz as coisas do jeito normal. Aprendi que qualquer coisa que te deixar irritado – os pais não gostam, velhos músicos não gostam e a garotada parece gostar – normalmente é o máximo. Só que você tem de aprender a equilibrar isso.

O Parliament veio de seu quarteto de doo-wop, The Parliaments. Você disse que, quando o doo-wop estava morrendo, ficou triste, mas empolgado para ver o que viria, certo?

Embora amasse o doo-wop dos anos 1950, não dava para se agarrar nisso. Você tinha de mudar ou ficaria ultrapassado muito rapidamente, como os Ink Spots. Então, estávamos na Motown e havia os Rolling Stones, o rock simples se tornou a novidade. Aumentamos o volume e conseguimos músicos sofisticados, quase de jazz – Maceo Parker, Fred Wesley, Bootsy tocando coisas simples, mas as deixando suaves e novas em folha.

Você acharia legal ter um holograma seu em turnês depois que não estiver mais aqui?

Já fiz um holograma. Fiz com toda a banda. Talvez possam colocar isso para se apresentar em Las Vegas ou alguma merda dessa. Quis dar algo à minha família.

O que quer que digam sobre você quando partir?

Ele me deixou doente, mas me deu o antídoto.