Cineasta filma a história de Harvey Milk, o político que lutou pela igualdade na vida real e agora quebra preconceitos no cinema
Gus van sant está sentado em uma cadeira da suíte do hotel Beverly Willshire, em Los Angeles, com as duas mãos escondidas no meio das pernas fechadas. O diretor de Milk - A Voz da Igualdade parece quase patologicamente tímido. Fala baixo e olha alternadamente para os jornalistas, para a mesa e para o chão. Mas não esconde sua opinião e seu ponto de vista. Gay assumido, uma raridade na indústria do entretenimento de Hollywood, explica que sonhava com a chance de mostrar a luta de Harvey Milk (vivido por Sean Penn), o primeiro homossexual declarado a ser eleito para um cargo público nos Estados Unidos, na San Francisco de 1977. No ano seguinte, ele foi assassinado a sangue frio por um ex-colega. Três décadas depois, sua história virou um longa-metragem nas mãos de Gus Van Sant, o cineasta por trás de Drugstore Cowboy (1989), Um Gênio Indomável (1997), Elefante (2003), Últimos Dias (2005) e Paranoid Park (2007).
Muita gente não acreditava que os Estados Unidos pudessem eleger Barack Obama, um líder negro. Acredita que o país ainda possa escolher um chefe de Estado homossexual?
Espero que sim. O Harvey Milk, por exemplo, seria um ótimo presidente.
O assassinato (uma maldição que acompanha os grandes líderes na história da política norte-americana) fez Milk tornar-se uma figura pública mais importante do que ele seria se estivesse vivo?
Acho que sim. O fato de ele ter sido morto fez seu nome ficar mais evidente. E eu sei que a morte é um tema presente no meu trabalho, mas, neste caso, a vida do Harvey era muito mais importante para mim. Adoraria que ele estivesse vivo, adoraria saber como iria envelhecer, o que ia pensar sobre o mundo de hoje, como faria sua carreira política se desenvolver.
Por que escolheu apenas atores heterossexuais para os papéis principais?
Porque não existem muitos abertamente homossexuais no cinema. Fora o Rupert Everett, o Alan Cumming e a Anne Heche por um tempo [risos], quem são os grandes astros gays? Por que os atores homossexuais não se sentem à vontade para sair do armário? O Alan Cumming poderia ser meu Harvey Milk, mas aí o projeto não teria tanto dinheiro. É um grande ator, porém, ninguém investe US$ 20 milhões em um filme com o Cumming simplesmente porque ele ainda não fez um grande blockbuster.
Você lê esta entrevista na íntegra na edição 29, fevereiro/2009