"Ninguém pode exagerar a relevância do que está acontecendo com este filme, com Pantera Negra, Mulher-Maravilha. É importante - e até que enfim", diz Evangeline Lilly
Paul Rudd se pega pensando no que de fato ocorreria se infringisse o Primeiro Mandamento da Marvel: “Não revelarás nada sobre o filme em que trabalhou”. “Vamos ver o que acontece?”, brinca em conversa com a Rolling Stone em Los Angeles, durante um evento com a imprensa para promover Homem-Formiga e a Vespa. Esta é a segunda produção focada em um dos mais obscuros super-heróis da empresa, o Homem-Formiga, e Rudd compara sua tarefa à de um funcionário da Casa Branca. “Eu também não poderia contar nenhum segredo se trabalhasse lá – a não ser que fosse no atual governo”, ri, referindo-se à administração de Donald Trump e sua interminável sucessão de informações confidenciais vazadas. A partir daí, foi um tal de “Não posso dizer”. O filme se passa depois de Capitão América: Guerra Civil (para quem não se lembra, Homem-Formiga participou de uma batalha homérica no aeroporto) e antes de Vingadores: Guerra Infinita (em que Homem-Formiga não apareceu)? Como Scott Lang (o nome civil de seu personagem) se sente com a transformação de Hope (Evangeline Lilly) na super-heroína Vespa? Tudo secreto. Mas, no fim, deu para desvendar uma informação ou outra sobre a nova aventura.
Homem-Formiga (2015) foi um risco para os estúdios Marvel. “A empresa tem sido muito boa em apostar em personagens bizarros”, disse Peyton Reed, diretor da produção original, que volta para a sequência. “Guardiões da Galáxia era relativamente desconhecido até para fãs de quadrinhos. Homem-Formiga sempre foi um personagem menor – desculpe o trocadilho. Os desafios eram saber se conseguiríamos fazer dele um filme bacana e divertido, se o público ia comprar o Homem-Formiga como herói e o Paul Rudd como super-herói.” Quase US$ 520 milhões depois, pode-se dizer que deu certo – tanto que a continuação foi aprovada poucos meses depois da estreia de Homem-Formiga.
Estava na cara que este segundo capítulo teria Hope van Dyne como destaque – no fim do longa anterior, ela era apresentada ao uniforme criado por seu pai, Hank Pym (Michael Douglas), que permite ao usuário ficar gigante ou minúsculo, e dizia: “Até que enfim”. Pois é. Homem-Formiga e a Vespa representa também um “até que enfim”, um “Time’s Up”, para a Marvel: pela primeira vez na história do universo cinematográfico Marvel, o título de um filme contém o nome de uma super-heroína. “Quando eu era pequena, não existiam muitas super-heroínas. Lógico que eu gostava da Mulher-Maravilha, era a única que havia!”, disse a atriz, famosa por seu papel em Lost e na cinessérie O Hobbit. Ela subia as escadas de casa e saltava do alto, fingindo ser sua heroína favorita – a irmã dela chegou a quebrar o braço em um dos “voos” das meninas-maravilha. “Mas eu também fantasiava ser um dos meninos, como o Homem-Aranha.” Enquanto rodava Homem-Formiga e a Vespa, levou os filhos para o set e ficou feliz quando seu menino mais velho, com 6 anos na época, disse: “Olha, sou a Vespa!” “Achei incrível porque meninos vão dizer que são a Vespa, em vez de sempre as meninas dizendo que querem ser o Homem-Aranha. Acho que ninguém pode exagerar a relevância do que está acontecendo agora com este filme, Pantera Negra, Capitã Marvel, Mulher-Maravilha. É importante – e até que enfim.”
Hope/Vespa não está sozinha. A vilã do filme, Ghost (Hannah John-Kamen), foi transformada em uma mulher – tradicionalmente, era um homem na HQ. “Tinha sentido por uma série de razões”, explicou Peyton Reed. Tanto o primeiro longa quanto este falam do relacionamento de pai e filha: Hank e Hope, que tinham uma relação complicada, mas agora são parceiros, e Scott e Cassie (Abby Ryder Fortson), que ficaram afastados quando ele esteve na cadeia. Agora, ele está em prisão domiciliar, depois de ter fugido do cárcere, mas faz de tudo para ser um bom pai para a menina. No caso de Ghost, há um relacionamento crucial metaforicamente, segundo o diretor. “E gosto da ideia. Por que os homens precisam dominar o mercado de super-heróis e vilões? Acho que os filmes têm de representar melhor o mundo.”
Outra personagem feminina fundamental é Janet van Dyne, a mãe de Hope, vivida por Michelle Pfeiffer. Ela desapareceu muitos anos atrás e era a Vespa original. Sobre isso não teve jeito: ninguém quis dar qualquer detalhe. “Eu invoco a Quinta Emenda”, diz Evangeline, referindo-se ao item da Constituição Americana que assegura o direito de permanecer calado para não se autoincriminar. Paul Rudd foi na mesma linha: “Posso dizer que ela está no filme”. O diretor foi só elogios para a atriz, mas manteve a boca fechada sobre o papel.
A transformação de Hope em Vespa não é mostrada: quando o filme inicia, ela já é uma heroína formada, com todas as habilidades e autoconfiante. Scott, por sua vez, quer distância de confusão, mas recebe aquela proposta que não pode recusar. “Nos quadrinhos, Homem-Formiga e Vespa sempre foram uma dupla, eles sempre foram apresentados juntos”, explica Paul Rudd. Evangeline Lilly revela que os dois tiveram um relacionamento romântico, mas acabaram se separando – “por motivos que não posso revelar” – e se afastando. Mas a dupla continua naquele vai não vai e trocando diálogos afiados. Por causa disso surgiram boatos de que Homem-Formiga e a Vespa seria uma comédia romântica, o que Peyton Reed nega, mais ou menos. “Definitivamente é uma comédia. É verdade que há um componente romântico, que a química entre os dois é inegável. Mas não é fofinho, tem muita ação também e uma coisa meio Elmore Leonard”, afirma, referindo-se ao autor de romances policiais.
No fim, o grande diferencial de Homem-Formiga e a Vespa é que nele não há deuses como Thor, monstros como Hulk, mágicos como Dr. Estranho ou alienígenas como em Guardiões da Galáxia. “Eles não têm superpoderes, são pessoas de verdade tentando entender como ser super-herói se encaixa na realidade”, diz Reed. Evangeline acha que esta franquia foi feita sob medida para ela. “Eu sou nerd e acho que somos os nerds da Marvel”, ri. “Os outros são rockstars: Chris Hemsworth, Chris Pratt, Chris Evans. Daí tem o Paul e eu.”