Com Hugh Jackman, filme conta a história do polêmico P.T. Barnum: “Ele era um agitador, irritava muita gente. Muitos o odiavam. E não dá para contar a história dele sem passar por esse aspecto”, diz Jackman
Antes mesmo de La La Land: Cantando Estações estrear, os compositores Benj Pasek e Justin Paul já estavam escalados para escrever canções para O Rei do Show, que estreia no final de dezembro. “La La Land explodiu em 2016, mas sete anos atrás, quando começamos esse projeto, fazia umas duas décadas que não havia um musical hollywoodiano com trilha completamente original”, conta o protagonista, Hugh Jackman, em um hotel de Londres, em junho de 2017. É ele quem dá vida a P.T. Barnum, o chamado “rei do show” (também fazem parte do elenco Zac Efron, Zendaya, Rebecca Ferguson e Michelle Williams). Se Pasek e Paul estão hoje com as credenciais em alta, após terem levado o Oscar de Melhor Canção Original por La La Land, no início dos anos 2010 o cenário era bem diferente. O diretor, Michael Gracey, contou uma “mentira branca, bem ao estilo de Barnum”, como diz Jackman, para fazer com que os estúdios Fox se reunissem com a dupla: Gracey disse que os dois haviam ganhado um prêmio Tony (a dupla foi indicada pelo musical da Broadway Christmas Story: The Musical em 2013, mas não levou o troféu).
A “mentirinha à la Barnum” exemplifica, de certa forma, um dos modus operandi do personagem central de O Rei do Show. Barnum foi, em meados de 1800, um homem que se fez sozinho em inúmeros ramos de negócio, mas que de fato ganhou notoriedade com histórias mirabolantes de personagens que mostrava em seus museus e circos de variedades. Um exemplo do começo da carreira dele como showman: Barnum exibia a ex-escrava Joice Heth como sendo uma mulher de 161 anos, supostamente ex-babá de George Washington, presidente dos Estados Unidos. Ele inclusive promoveu, após a morte dela, uma autópsia pública para “provar” a idade (Joice, na verdade, tinha por volta de 79 anos quando morreu).
O Rei do Show promete ares de história de superação, mas, segundo Jackman, esse lado controverso de Barnum também é explorado no filme. “Ele era um agitador, irritava muita gente. Muitos o odiavam. E não dá para contar a história dele sem passar por esse aspecto”, revela. Apesar do lado “showman que expande os limites da verdade”, Barnum tinha uma qualidade inegável: foi um dos maiores marqueteiros da indústria do showbusiness. “A primeira crítica que escreveram sobre o espetáculo dizia que era um show criminoso, degradante. No dia seguinte, ele mandou reimprimir a resenha em diversos jornais, com o anúncio de que quem levasse o texto teria 50% de desconto no valor do ingresso.”
Entre as atrações reunidas no show de “curiosidades” de Barnum estavam pessoas que eram consideradas aberrações pela sociedade. Depois de contratadas por Barnum, muitas delas se tornaram sucesso internacional, caso do anão General Tom Thumb. Também faziam parte da trupe animais vivos. O aprisionamento de animais para entretenimento humano é cada vez mais condenado, mas, naquele tempo, tal questionamento sequer tocava as bordas do status quo. “Sou contra animais em circos. Mas acho que, na mentalidade de 1850, não passava pela cabeça das pessoas que isso poderia ser um problema moral. Fizemos quase tudo em CGI, usamos apenas alguns cavalos.”
Além dos animais, a história de Barnum nos cinemas será mostrada com muita dança. “Foram dez semanas de ensaio com todo o elenco e os câmeras, cantando e dançando todos os dias. Os câmeras estudaram a coreografia como se fossem dançarinos. Eu acredito na teoria de Gene Kelly, de que você tem que praticar uma dança por oito semanas para que ela pareça natural”, crava Jackman.
“O filme carrega algo que acredito ter uma conexão com muita gente, especialmente os mais jovens: aquilo que faz de você alguém diferente é aquilo que te torna uma pessoa especial. Meio como é nos X-Men [risos]”, conclui o eterno Wolverine.