Entre baladas e groove, Hyldon recorre a poetas – e a Chico Buarque – para disco com enfoque na construção das palavras
Queria fazer um disco de música bonita”, revela singelamente Hyldon, que aos 65 anos complementa o cancioneiro de mais de quatro décadas com o álbum As Coisas Simples da Vida, eleito pelo júri da Rolling Stone Brasil um dos melhores de 2016. “As pessoas falam para mim que hoje em dia a qualidade das músicas é muito ruim. As canções não têm mais introdução, são muito rápidas.” Apesar da postura crítica, ele lista nomes como Frank Ocean, The Weeknd e Liniker e Os Caramelows entre os artistas contemporâneos que tem ouvido com frequência recentemente.
O álbum anterior de inéditas de Hyldon foi Romances Urbanos (2013), no qual ele expandiu o leque de parcerias ao dividir composições com Mano Brown, Arnaldo Antunes, Céu e outros artistas. Já para As Coisas Simples da Vida o baiano radicado no Rio de Janeiro optou por limitar as colaborações. “Compor com outra pessoa é difícil”, afirma. “A parceria é como um casal: um cede aqui, outro ali; um puxa para cá, outro para lá. É todo um jogo de liderança, então, você tem que ser bem flexível. Cada compositor me levava para um lugar.”
Segundo o artista, outra diferença crucial entre As Coisas Simples da Vida e o restante do repertório dele surge no aprimoramento lírico das canções. Para este trabalho, Hyldon revela ter buscado inspiração em medalhões da literatura brasileira, como Manoel de Barros, Carlos Drummond de Andrade e Ferreira Gullar – com direito ainda à consultoria de ninguém menos que Chico Buarque.
“Li muito os poemas deles, me ajudaram demais”, explica Hyldon, referindo-se aos poetas mencionados. “O Chico também me ajudou bastante. A gente joga bola junto, então todas as dúvidas de gramática que tive durante esse processo, eu perguntava para ele. Chico é um cara de bom coração, mas ainda não consegui ler
os livros dele [risos]”, brinca.
Com dez faixas, As Coisas Simples da Vida se divide entre baladas harmoniosas e grooves sacolejados, com letras que flertam com questões recorrentes no imaginário criativo do cantor: o amor, a amizade e a natureza. “O que eu quis fazer foi tipo um cinema em que a pessoa fechasse os olhos e vivesse aquilo como se fosse uma viagem. Foi um trabalho árduo, mas fiquei muito feliz com o resultado.”