Com seu jeito barroco, "Sunday Morning" poderia até ter sido gravado por bandas pop da época, como The Monkees ou The Left Banke. Nela, Lou Reed reportava que o domingo de manhã era o momento de redenção depois dos excessos cometidos durante toda a semana. Mas a canção também tem um lado paranoico. “Preste atenção no mundo atrás de você/Tem sempre alguém do seu lado”, ele canta.
O “cara” do título é um traficante. Lou Reed fala que tem U$ 26 na mão para fazer o negócio e levar um pouco de heroína para casa. “Lá vem ele, com sapatos gastos e chapéu de palha, nunca chega na hora, está sempre atrasado”, ele descreve o dealer. Mesmo com um tema tão polêmico, "I'm Waiting for the Man” se tornou popular e hoje é presença constante na programação de rádios de classic rock. O Yardbirds tocou a música em suas última apresentações. David Bowie também a executava em seus shows.
Nico entra em cena de forma memorável em "Femme Fatale", canção com sonoridade mais tranquila e com uma batida de pseudo bossa nova. A faixa versa sobre Edie Sedgwick, modelo, socialite e atriz que era um das musas de Andy Warhol. Ela morreu em 1971, aos 28 anos, depois de uma overdose de barbitúricos. O mais irônico aqui é que Nico parece estar cantando sobre ela própria, já que no futuro ela também se tornaria outra musa trágica que conviveu com a turma Warhol.
Lou Reed escreveu a faixa definitiva sobre bondage, dominação e sadomasoquismo baseando-se no livro A Vênus das Peles, de Leopold von Sacher-Masoch, o escritor e jornalista austríaco que ficou mais conhecido como Marquês de Sade. O homem que inspirou os termos sadismo e masoquismo ficaria orgulhoso desta faixa com sonoridade oriental e hipnótica. Ao cantar “Beije as botas brilhante de couro/Sinta o gosto do chicote, agora sangre para mim”, Reed não deixava dúvidas sobre o que rolava no ambiente barra-pesada de Nova York.
Usando imagens religiosas na letra, "Run Run Run" mostra a saga de tipos pitorescos do submundo de Nova York como Teenage Mary, Margarita Passion e Seasick Sarah na correria atrás de drogas. É um rock de garagem com um ritmo insistente e também uma das faixas mais acessíveis e grudentas do álbum.
https://www.youtube.com/watch?v=CGqwy_DQnS4
O quartel-general e estúdio de Andy Warhol era o Factory. Lá conviviam democraticamente artistas, músicos, famosos, anônimos, bicões, malucos e todas as figuras exóticas de Nova York. Naquele ambiente, a festa nunca parecia ter fim. Lou Reed não fez parte da elite cultural chic da cidade, então olhava a turma de Warhol com distanciamento e isenção. “Eu ficava lá e ouvia as pessoas falarem e fazerem as coisas mais loucas, mais estranhas e mais tristes, também”, disse o compositor. "All Tomorrow's Parties" é sobre a Factory e a atmosfera reinante lá. Nico canta de forma épica, entoando a letra de Reed com autoridade e melancolia.
Em Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (junho de 1967), John Lennon cantava sobre o LSD em “Lucy In The Sky With Diamonds”. O Beatle, entretanto, sempre negou que a faixa fosse sobre drogas. Lou Reed não precisou de eufemismos ou desculpas em “Heroin” – a gravação é bem explicita. O andamento tenta simular o efeito da droga no organismo humano. As guitarras emulam guinchos desesperados. “A heroína é minha esposa, é minha vida”, ele canta. Mas Reed não condena ou exalta a substância: é o relato honesto de uma sensação particular e nada mais. A heroína se tornou sombra sinistra no núcleo do Velvet Undergound: Reed e Nico foram viciados na droga por muito tempo.
Apesar de o som do Velvet Underground ser uma mistura vanguardista de rock de garagem com música atonal, o primeiro LP também revela o interesse de Lou Reed e do resto da banda pelo rhythm and blues. "There She Goes Again" tem a introdução e a melodia decalcadas em “Hitch Hike”, de Marvin Gaye. A canção do soulman da Motown também foi gravada pelos Rolling Stones em seu disco de estreia homônimo em 1964, e este foi o registro que inspirou o Velvet a criar a faixa. Vinda depois do desespero eloquente de ”Heroin”, "There She Goes Again" pode até ser considerado um passeio pelo parque. Os temas aqui são prostituição e sexo oral.
Quando Andy Warhol colocou Nico no Velvet Undergound, em 1965, os outros integrantes protestaram; afinal, ela era uma pessoa estranha que aparecia do nada para fazer parte da trupe. Com o tempo, ela se integrou. Os conflitos ainda existiam, mas o resto da banda sabia que ela não era "poser". Nico era verdadeira como pessoa e em suas ambições artísticas. Lou Reed admirava a artista e escreveu especialmente para ela "I'll Be Your Mirror". É uma canção folk delicada e destoa um pouco do temas pesados do resto do álbum.
Esta canção escrita por Lou Reed e John Cale revela o lado experimental da banda. A viola elétrica de Cale cria um som agudo e penetrante. Reed e Sterling Morrison mantêm a base dissonante. Lou Reed falou que a canção "não tinha nenhum significado especial". Mas as imagens da letras são sinistras e descrevem morte, dissipação e escolhas pessoais. A faixa pode ser ouvida aqui a partir de 37:55.
O álbum encerra com esta faixa basicamente instrumental: tirando um verso cantado por Reed no começo, o resto da canção de sete minutos é constituída por feedback e dissonância criadas pelas guitarras de Reed e Morrison, já antecipando um poucos os experimentos que a banda iria fazer no segundo álbum, White Light/White Heat (1968). "European Son" é dedicada a Delmore Schwartz, escritor, poeta e mentor de Reed, que havia morrido em 1966, enquanto eles gravavam o trabalho.