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Integrante do Odd Future, Earl Sweatshirt deixa de lado as fantasias escatológicas e cai na real

Jonah Weiner | Tradução: J.M. Trevisan Publicado em 27/09/2013, às 12h38 - Atualizado às 12h39

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<b>BONZINHO</b> Earl parou de cantar sobre baixarias - Sagan Lockhart
<b>BONZINHO</b> Earl parou de cantar sobre baixarias - Sagan Lockhart

Earl Sweatshirt está sentado no quarto de hotel dele, em Nova York, assistindo via streaming a um documentário sobre o Insane Clown Posse. No laptop, um fã enorme está rimando sobre canibalismo e ataques sexuais; Sweatshirt assiste com prazer. “Esse cara tem a manha!”, exclama. Ele está na cidade para algumas apresentações que funcionarão como prévia de Doris, primeiro disco dele por uma gravadora grande. O integrante mais talentoso do infame Odd Future chegou de Los Angeles pela manhã, mas o quarto já está uma bagunça: embalagens de comida para viagem espalhadas, lençóis no chão, um skate encostado na mesinha ao lado da cama. O músico fecha o laptop, sorrindo. “Essa merda é muito boa”, diz.

Sweatshirt entende de rimas sobre temas sombrios. Em 2010, lançou o álbum independente Earl, cheio de versos escatológicos e batidas soturnas produzidas por Tyler, the Creator, companheiro dele no Odd Future. Earl Sweatshirt – nascido Thebe Kgositsile – tinha só 16 anos, mas a voz dele era forte, sonora e segura, e ele já exibia um estilo de rima estonteantemente sagaz. “Minha primeira intenção na época foi dizer as coisas mais zoadas possíveis”, ele diz, de um modo reflexivo e com um sorriso tímido. “Eu e o Tyler competíamos.” Na estreia, jogos de palavra acrobáticos e emoções bem observadas se fundiam desconcertantemente ao tipo de fantasia sexual típico dos filmes baratos, o que logo ajudou a atrair protestos contra o Odd Future.

Mas Sweatshirt nem estava nessas apresentações ao vivo. Bem quando o grupo estourou, a mãe dele, uma professora de direito da Universidade da Califórnia, mandou-o para a Coral Reef Academy, uma escola para garotos problemáticos nas Ilhas Samoa. Ela estava preocupada: o filho estava usando drogas e se comportando mal na escola (o pai do rapper, um poeta sul-africano, abandonou a família quando o garoto ainda era pequeno). O jovem experimentou cocaína “umas poucas vezes”, mas, na maior parte do tempo, diz que só “fumava maconha e bebia”. Fãs, alheios ao real motivo da ausência dele, vestiram camisetas com o slogan “Libertem o Earl”. Enquanto isso, nas Ilhas Samoa, ele entrou em acordo com a própria cabeça. “Passei muito tempo isolado, por arrumar confusão, por isso tive tempo de ler, escrever, ouvir música”, explica. “Chegava a ouvir a mesma faixa por 12 horas. Li [Kurt] Vonnegut, li Ardil 22 várias vezes – e li alguns livros bem estúpidos também, tipo Tom Clancy, só para me ocupar.”

Quando voltou a Los Angeles, Earl terminou o ensino médio e reconstruiu relações antes abaladas. “Eu e Tyler voltamos ao normal”, conta. “Eu e minha mãe estamos bem melhores – a relação mudou. Me tornei um homem adulto.” Ele alugou um apartamento em Hollywood, assinou um contrato de distribuição com a Columbia e começou a gravar um novo álbum.

O MC se levanta da cama. Hoje ele vai fazer um show secreto em uma oficina para promover Doris. O trabalho contém alguns versos sobre o período em que esteve ausente e a relação com a mãe – o que não existe mais é todo aquele papo de estupro, que ele hoje chama de “muleta”. Ele acredita que as faixas novas ainda atrairão os fãs do Odd Future. “Sinto que o que atraía os filhos da puta era mais a energia do que alguns versos específicos. Toda aquela porra de angústia berrada...” Ele abre um sorriso. “Essa energia ainda existe.”