“Um grande riff é algo que você sabe instintivamente. Ele tem energia, atitude, sexo”
Cada música que você tocou no show de reunião do Led Zeppelin em 2008 começava com ou se baseava em um riff mortal. O que compõe um grande riff do Zeppelin?
É algo que você sabe instintivamente. Tem energia e atitude. Também tem sexo nele. Definitivamente, era meu conceito ter uma banda baseada em riffs. Minhas influências eram o blues baseado de riffs de Chicago nos anos 50 - discos de Muddy Waters, Howlin' Wolf e Billy Boy Arnold. "Boogie Chillen'", do John Lee Hooker - isso sim é um riff. Mas você o pega, absorve e aplica sua própria personalidade, então ele sai de outro jeito.
O que aconteceu naquela noite. Sua interação guitarra-vocal com Robert Plant, especialmente em "In My Time of Dying" e "Nobody's Fault But Mine", soou novíssima, nascida no ato.
Nos shows do Led Zeppelin nos anos 60 e 70, eram as mesmas músicas todas as noites, mas elas estavam constantemente em um estado de fluxo. Se eu tocasse algo bom, realmente substancial, tocaria novamente. Mas o Led Zeppelin era uma banda trabalhadora no sentido mais verdadeiro. Mesmo nos ensaios, na preparação para aquela noite em Londres, fomos drasticamente diferentes, em conteúdo e drama, do show, que tinha sua própria personalidade.
Era muito difícil escutar discos de blues e rock & roll americanos na Grã-Bretanha quando você estava crescendo, nos anos 50?
Para ouvir os lançamentos, você sintonizava a AFN, a Rede das Forças Armadas na Europa, e esperava conseguir pegar o título de alguma coisa depois que eles a tocavam. Nunca conseguimos ver o Elvis Presley até assistirmos a seus filmes, mas as pessoas que foram sugadas pelo rock & roll colecionavam discos, estudando o que estava vindo da América. Tinha um amigo que não ficava interessado por um disco se ele não fosse de um artista negro. Havia algum blues no skiffle [tipo de jazz, popular nos anos 50]. Você tem as canções, mas a atitude e o jeito de tocar ainda não estavam ali. Foi uma experiência de aprendizado, rastrear esses álbuns e encontrar as fontes originais - a versão de Sleepy John Estes para "Milk Cow Blues", Arthur "Big Boy" Crudup fazendo "That's All Right."
Você simplesmente tocava junto com os discos?
É o que a maioria dos guitarristas britânicos daquela época fazia. Você escutava o solo, levantava o braço do toca-discos e o abaixava para ouvir novamente. Quando consegui ter uma boa guitarra, minha capacidade de trabalhar o que estava sendo tocado naqueles discos cresceu imensamente.
Como suas experiências como guitarrista de estúdio nos anos 60 - tocando atrás de tantos cantores diferentes - influenciou sua composição e a forma de tocar para o Zeppelin?
Fui muito inspirado pelos grupos [vocais] dos anos 50. Amava como eles trabalhavam, a perspectiva da guitarra dentro daquele som. O blues foi uma coisa crucial no primeiro álbum do Zeppelin, mas eu tocava violão e guitarra elétrica nas sessões, e estava interessado em pessoas como o [guitarrista americano de estúdio] James Burton. Não gostava tanto de jazz - preferia as coisas cruas.
Por pouco tempo, você e Jeff Beck tocaram guitarra juntos no Yardbirds. Você pensou em ter um segundo guitarrista no Led Zeppelin?
No Yardbirds, quando Jeff estava lá, tocávamos os riffs em harmonia. A abordagem era quase como uma big band com metais - o poder daquilo aplicado às guitarras. No Led Zeppelin, nunca pensei em ter nada duplicado, porque éramos uma unidade tão completa, sentíamos que podíamos fazer qualquer coisa entre nós, certamente nos álbuns. Quando uma música botava o pé na estrada, essas partes mudavam, especialmente onde havia muitas partes de guitarra no disco. Tocávamos "Ten Years Gone" [do Physical Graffiti], e ela tem muitas guitarras. Fizemos uma versão muito boa, mas só quando a toquei com o Black Crowes [em 1999] é que ouvi todas aquelas partes ao vivo. Foi emocionante.
Como você descreveria seu tom - ou aquele do qual você gosta mais?
Varia. Usei pedais em toda a extensão, antes do Yardbirds. Usava um fuzzbox em sessões, mas os engenheiros não conseguiam entender. Não conseguiam lidar com nada radical. No Yardbirds, tentei o arco de violino e o wah-wah, usando distorção e eco. Tive pedais de fases e pedais chorus ao longo do tempo.
O que lhe atraiu no arco? É o som característico de "Dazed and Confused".
Recebi a proposta quando estava fazendo trabalho em estúdio. Um dos violinistas da sessão era pai do David McCallum, ator da série de TV O Agente da U.N.C.L.E. Quem toca instrumentos de cordas normalmente é bastante reservado, mas ele era bastante simpático. Um dia, ele me perguntou - tínhamos acabado uma sessão - "Você já tentou tocar guitarra com o arco?" Respondi que não funcionaria, as cordas não são arqueadas na guitarra como são no violino. Ele retrucou: "Tente", e me deu um arco. Tentei e percebi que havia algo ali. Não lembro se usei em alguma sessão, mas com certeza usei no minuto em que entrei no Yardbirds [notavelmente no single "Little Games", de 1967].
Provavelmente seu solo mais famoso é o no final de "Stairway to Heaven". Quanto disso você compôs antes de gravar?
Não foi nada estruturado [risos]. Eu tinha um começo, sabia onde e como iria começar, e simplesmente fiz. Havia um amplificador [no estúdio] que eu estava testando. Soou bom, então pensei "OK, respire fundo e toque". Gravei três takes e escolhi um deles. Eram totalmente diferentes. O solo soa construído - e é, mais ou menos, mas totalmente do momento. Para mim, um solo é algo em que você simplesmente voa, mas dentro do contexto da música.
Há muita coisa que posso e deveria estar fazendo. O principal é a qualidade. Sempre fui muito exigente em tudo o que toco, e isso não mudará. O importante é se comprometer com tocar. Você tem que dar muito para receber muito. O melhor da guitarra, quando eu tinha 12 anos, é que ela era portátil. Ela tornou a música acessível para mim o tempo todo. Eu podia me encontrar com os amigos e, sem perceber, havia o espírito da música ali - mesmo garotos tocando alguns acordes. Agora dá para fazer isso com computadores e teclados, mas estou interessado em como você pega esse espírito na guitarra, porque este é meu instrumento escolhido.