Brian Hiatt | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 12/07/2013, às 11h08 - Atualizado em 02/08/2013, às 15h28
Às vezes, talvez tarde da noite, depois de largar a guitarra ou um dos quatro ou cinco livros que lê ao mesmo tempo, ou desligar o “programa de TV mais trash imaginável” (ele é fã do reality show Here Comes Honey Boo Boo), Johnny Depp começa a se fazer perguntas. Ele ama o que faz da vida, já teve trabalhos piores, e ganha cada vez mais dinheiro com isso – do tipo que compra ilhas, constrói estúdios de gravação em casa e faz com que filhos e netos jamais precisem se preocupar. No entanto, há algo mais que ele queira fazer? Seria bom simplesmente ir a algum lugar, sentar, pensar e escrever – não necessariamente histórias, simplesmente escrever? Hoje, no escritório dele em Los Angeles, em uma pausa nas filmagens de um longa de ficção científica chamado Transcendence, no dia seguinte à festa de aniversário de 14 anos da filha, Depp está pensando que “talvez”. “Estou chutando a bunda dos 50”, ele diz, poucas semanas antes do final de sua 40ª década, fumando um cigarro gordo e marrom, enrolado com maestria por ele mesmo. “Não dá para dizer que quero fazer isso por mais dez anos.”
Pensamentos sobre aposentadoria surgem “todo dia”, Depp conta, mas nada iminente. “Acho que, enquanto tenho a oportunidade, o desejo e a chama criativa de fazer o que posso agora, devo fazer”, ele afirma, com uma voz de barítono regada a tabaco, um tanto hipnotizante, embora murmurante. “Depois, em algum ponto, vou fazer o mínimo possível e me concentrar, acho, em viver a vida. Realmente viver, e ir a algum lugar onde você não tenha de ficar correndo, ou entrar escondido pela cozinha ou pelo labirinto subterrâneo do hotel. Em algum momento, quando você fica velho o suficiente para ter alguns neurônios de volta no cérebro, percebe que, de certa forma, teve uma vida de fugitivo.”
Só que ficar mais velho abre as portas para alguns papéis interessantes – veja o falecido companheiro de bebedeiras dele, Marlon Brando – e Depp não é muito bom nesse negócio de descansar. “Não sei se consigo relaxar”, diz. “Não dá. Meu cérebro, quando ocioso, é algo ruim. Fico estranho. Quer dizer, não estranho, fico inquieto.” Ele joga a ponta do cigarro no cinzeiro sobre uma mesa de canto de madeira com uma roda de roleta embutida no tampo.
Quando Depp deixa a mente divagar, ela pode ficar assim: “Há uma grande parte de mim que tem preocupações profundas com, digamos, o mundo, como todos. Se você é, de alguma forma, sensível a essas coisas e fica absorvendo, absorvendo, absorvendo, você enlouquece. Começa a se envolver em coisas como – as pessoas brigam porque uma diz que seu deus é melhor do que o da outra, e zilhões de pessoas morrem. De forma selvagem. Horrível. Pessoas inocentes. Quer dizer, não há como – você não pode absorver isso como uma máquina e, depois, cuspir como dados que fazem sentido. Não dá. Então, você tem de se proteger, não sei. Proteger a si mesmo de certa forma, como...”
Ele faz uma pausa, olha através dos óculos de lentes azuis e ri, reconhecendo o beco sem saída mental em que acabou de chegar. Fica claro que Johnny Depp é uma boa companhia. Não demora muito para ver por que os heróis dele – Brando, Keith Richards, Hunter S. Thompson, Bob Dylan – tendem a se tornar seus amigos. “Johnny é tão interessante quanto Dylan ou Brando – ou eu”, diz Richards, que deu horas de entrevistas a Depp para um documentário que ele está filmando sobre a vida e a música do guitarrista dos Stones. Richards também foi pai de Depp nos filmes da franquia Piratas do Caribe. “Ele tem muitos interesses e um grande senso de humor. Você fica atraído por pessoas assim. Ele é basicamente igual a mim – um garoto tímido de quem se aprende muito. Além disso, sabemos que temos algo a fazer... e não sabemos o que é.”
Os óculos de Depp são receitados e ele precisa muito deles, embora não ajudem com o olho esquerdo. Desde que nasceu, ele é “basicamente cego como um morcego” daquele lado, de uma forma impossível de corrigir. “Tudo fica muito, muito embaçado”, conta. “Nunca tive visão boa.” O olho direito é simplesmente míope (e, ultimamente, hipermetrope). Então, quando está atuando – a não ser que tenha a sorte de estar em uma cena em que seu personagem usa óculos escuros –, Johnny Depp só consegue enxergar a alguns centímetros de distância do rosto.
Na sala em que ocupa na produtora que comanda, uma caverna elegante onde cortinas de cor carmim estão fechadas, escondendo o sol de final de tarde, Johnny Depp toma uma cerveja visivelmente sem álcool. O ator não bebe há um ano e meio, embora não use a palavra “parei”. “Só decidi que tinha extraído tudo o que podia daquilo”, conta. “Investiguei vinho e bebidas fortes a fundo, e com certeza eles me investigaram também, e descobrimos que nos damos muito bem, talvez até demais.”
Depp nunca se considerou um alcoólatra. “Não”, afirma. “Não tenho a necessidade física da droga álcool. Não, é mais como uma medicação, minha automedicação ao longo dos anos só para acalmar o circo. Quando ele começa a pegar fogo, as festividades no cérebro, pode ser implacável.” Ele determinava regras para si mesmo – por um tempo, bebia vinho, mas nenhuma bebida forte. Era realmente bom nisso, não tinha problema algum em acompanhar, digamos, Hunter S. Thompson. “Talvez seja por isso que Hunter e eu nos demos tão bem”, diz. “Consigo continuar por muito tempo, estranhamente. Por semanas. Não há nenhum grande objetivo nisso, no final das contas. Você percebe que não trataria seu próprio carro dessa forma.”
Como Keith Richards observa, Depp pode ser tímido, à maneira dele – há um motivo para ele sempre querer ter sido o coadjuvante, nunca o vocalista, em suas bandas antigas. “Sou meio desajeitado socialmente”, Depp afirma, rindo. “E essa sempre foi uma ótima muleta. Socializar em festas e coisas assim nunca foi uma boa experiência para mim. Não é confortável. Ou ir aos programas de entrevista no começo. Então, percebi que precisava beber nessas situações. Tomava uns dois drinques e pensava: ‘Ok, consigo ter uma conversa boba suficiente para passar por isso e chegar ao outro lado ileso’.”
Ele também parou de fumar por dois anos e meio, até que Bruce Robinson, diretor de Diário de um Jornalista Bêbado, deu a ele uma tragada em uma cigarrilha quando concluíram o filme “Literalmente, a nicotina te acerta e você volta. Se você fuma cigarro pra valer, é um junkie. É viciado nessa droga.” Ele fuma menos do que antes – talvez tenha fumado uns seis cigarros ao longo de três horas e meia de entrevista.
“Eles mostram um homem com três dentes e meio e um negócio vermelho pendurado na boca”, ele diz, sobre as embalagens de cigarros. “Então, um fumante olhar para isso, ok, tudo bem. Ele coloca o maço na mesa e oito crianças veem. Isso é legal? Jesus. Quer dizer, o que há de errado com essas pessoas? Sabemos que isso não é bom. A vida não é boa! Ela mata! Entendeu o que quero dizer? Caramba! Essas são as mesmas pessoas que enfatizam tanto não fumar e não ficar perto de fumantes. Não, você não pode fumar na Sunset Strip quando está comendo na área externa – no entanto, pode inalar toda essa fumaça de diesel e cada pedacinho de sujeira, podridão, poeira e doença e tudo o que emana das ruas.”
A maior mudança recente na vida de Depp é uma questão delicada: a separação dele e Vanessa Paradis, namorada por 14 anos e mãe de seus dois filhos. “Os últimos anos foram um pouco acidentados”, ele afirma, lentamente. “Em alguns momentos, com certeza desagradáveis, mas essa é a natureza das separações, acho, especialmente quando há crianças envolvidas.”
“Relacionamentos são muito difíceis”, ele fala, em outro momento. “Especialmente na área em que estou, porque você está constantemente longe ou a outra pessoa está longe, então é complicado. Não foi fácil para ela, nem para mim, nem para as crianças, então... A trajetória desse relacionamento – você vai tocando em frente, uma coisa leva a outra. Independentemente do motivo para o fim, isso não impede o fato de que você se importa com aquela pessoa, e ela é a mãe dos seus filhos e vocês sempre se conhecerão, sempre estarão na vida um do outro por causa das crianças. Você tem de fazer o melhor com isso.”
Tabloides e sites de fofocas do tipo TMZ (ou TLC, como Depp acha que chama) fizeram muito barulho sobre o fato de o ator passar tempo com o amigo e igualmente fã de maquiagem Marilyn Manson depois da separação – como se ele tivesse saído do seio da família para adorar Satã. “Johnny e eu nunca fomos amigos de bebedeira”, afirma Manson. “Embora ele tenha me apresentado ao absinto, eu o culpo por isso... Acho que foi uma espécie de destino que nos reuniu recentemente. Estávamos passando por alguns problemas em áreas estranhas de nossas mentes e nossas vidas, e estar com ele me fazia mais feliz, e parecia fazê-lo mais feliz.”
Depp (que atualmente está namorando a atriz Amber Heard, de 27 anos), também está passando tempo com um amigo que só há pouco tempo conseguiu conhecer em pessoa: Damien Echols, que ficou 18 anos preso por assassinatos que as provas sugerem que ele não cometeu. Identificando-se com outro pária de cidade pequena, Depp financiou e apoiou o caso de Echols durante anos, até ele enfim ser libertado, em 2011. “Venha aqui, maldito”, Depp disse ao novo amigo, o convidando para um almoço em casa (Depp explica: “Pensei que, se fosse eu saindo da cadeia após 18 anos, iria querer umas batatas fritas, cara. Alguns tacos. Comida incrivelmente trash”). Desde então, fizeram juntos cinco ou seis tatuagens iguais, incluindo uma do corvo que Depp usa na cabeça no filme O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger, que estreia neste mês no Brasil) “Sempre que nos encontramos”, Echols conta, “não é como se você estivesse com um astro de cinema, é como se eu estivesse em casa. Ele me lembra minha casa.”
Embora um Depp mais jovem tenha ficado conhecido por surtos de libertinagem e detonações de quartos de hotel depois de separações no passado (Kate Moss, Winona Ryder), ele insiste que este não é o caso desta vez. “Em termos de separação, definitivamente eu não iria me apoiar na bebida para facilitar as coisas ou amortecer o golpe ou a situação”, afirma. “Porque poderia ter sido fatal. Senti que era meu dever ser realmente claro durante tudo isso. Tinha algo muito sério em que me focar, realmente, que era garantir que meus filhos ficassem bem.”
Os pais dele se separaram quando ele tinha 15 anos e Depp sofreu muito. Então, quando discute a própria separação, sempre menciona os filhos. “Eles têm sido incrivelmente compreensivos, incrivelmente fortes durante todo esse tormento”, conta. “E é difícil de todos os lados. O lado da Vanessa com certeza não é fácil. Meu lado não é fácil. As crianças são o mais complicado. Só que os filhos vêm em primeiro lugar. Não dá para blindá-los, porque daí você estaria mentindo. Então, é preciso pelo menos ser honesto com seus filhos e dizer a verdade absoluta a eles – era muito importante não ficar pisando em ovos.” Ficar sem beber o ajudou nisso, permitindo que “lidasse com a vida real, com clareza”.
Exceto pela sala de Depp, a sede da produtora Infinitum Nihil (significa “infinito nada”, uma referência a uma frase de Tolstoi) é iluminada, bem ventilada e moderna como uma startup de internet. No escritório dele está um dos quadros que pintou, um retrato levemente assustador de um homem sem rosto em um uniforme branco não identificado (hilariamente, descubro mais tarde que o nome do quadro é “Phil Collins”). Há um violão centenário no canto e lustres em estilo art déco vintage no teto. Nas estantes estão vários prêmios, fotos dos filhos quando bebês, livros de autores que vão de William Blake a Nathanael West, de Neil Gaiman a Anne Rice. Tem até uma cópia rara de Bare-Faced Messiah, uma biografia dos anos 80 de L. Ron Hubbard, fundador da Igreja da Cientologia, que seria um tema interessante de conversa se Tom Cruise passasse por aqui.
Há ainda um manequim sem cabeça, vestido com a roupa original de couro negro e metal que Depp usou como o trágico personagem-título, metade menino, metade ser mecânico, em Edward Mãos de Tesoura, de 1990. É uma aquisição nova. “Vi isso recentemente pela primeira vez”, conta. “Entrei aqui outro dia e pensei: ‘Não via essa roupa desde que a vesti há muitos anos’. Foi interessante, rapaz. Estar coberto nisso. Foi em Tampa, Flórida. Fazia uns 35, 40 graus. Umidade a milhão. Meu cabelo estava esculpido em uma árvore horrível, graças a spray de cabelo, e meu rosto estava coberto com uma tinta gordurosa para a máscara de borracha. Perdi muito peso em água naquele filme. Foi intenso.”
A trajetória sinuosa da carreira de Depp – a recusa dele em ser o mocinho, “portar a arma e transar com a garota” – levou a muitas grandes atuações nos anos 90, de Ed Wood a Medo e Delírio, mas não o tornou um superastro comercial. “Poderia ter saído dessa há muito tempo, cara. Tive uma série de... aos olhos da indústria, filmes semifracassados, que não eram grandes blockbusters. Então, fiquei impressionado por simplesmente continuar ganhando papéis.”
Por seu desempenho como o afetado capitão Jack Sparrow em Piratas do Caribe, Depp abraçou as possibilidades mais amplas de atuação que viu nos desenhos animados a que assistia com a filha (sem falar nos filmes de Buster Keaton e na vida cotidiana de Keith Richards). Então, como diz, “a coisa enlouqueceu” – e sua carreira agora parece um dos jogos mais bem jogados na história de Hollywood. Ele é um dos poucos astros com três filmes no currículo que arrecadaram quantias na casa dos bilhões de dólares no mundo inteiro (dois dos filmes Piratas e Alice no País das Maravilhas) e vale a pena destacar que ele é um ator de personagens loucamente peculiares e o maior astro do cinema no planeta. “Há 20 anos”, diz Gore Verbinski, diretor de Piratas, “não acho que Johnny Depp garantiria aprovação para um filme de US$ 100 milhões com robôs gigantes nele ou o que quer que fosse. Agora, parece que não dá para fazer um filme sem ele!”
“Quando fico coberto por maquiagem, é mais fácil olhar para outra pessoa”, diz Depp. “É mais fácil olhar para o rosto do outro do que para o próprio. Acho que é assim com todo mundo. Você acorda de manhã, escova os dentes e pensa: ‘Argh, este cara de novo? Você ainda está aqui? O que quer?’. Esconder: acho isso importante. É importante para... para o que quer que tenha sobrado de sua sanidade, acho.”
Outra medida de preservação da sanidade: há anos, Depp não assiste a nenhum de seus filmes (exceto sua atuação em 2004 como o Conde de Rochester em O Libertino, que o diretor lhe pediu pessoalmente para ver – “Este eu realmente recomendaria”). “Prefiro ir embora com a experiência. Meu trabalho, como ator, é dar opções ao diretor. Só dá para esperar que as tomadas que você achou melhores tenham sido as escolhidas. Só que, se não assisto, nunca vou saber. É melhor assim.”
O Johnny Depp aprovado pela Disney não tem tanto tempo para os filmes menores que favoreceu nos anos 90 – mas os filmes grandes têm suas próprias vantagens. O Cavaleiro Solitário, de Verbinski, é impressionantemente subversivo, retratando a Cavalaria dos Estados Unidos como os vilões e os índios comanches como os heróis condenados, com o Cavaleiro Solitário de Armie Hammer essencialmente sendo um coadjuvante para Tonto. “Queria que ele não fosse de brincadeira”, conta Depp, que ficou substancialmente mais musculoso para o papel. “Em primeiro lugar, eu não mexeria com alguém que tem uma ave morta na cabeça. Segundo, ele pinta o rosto, o que me assusta.” Depp tem sangue indígena – o único filme que dirigiu, O Bravo, passa-se em uma reserva retratada sombriamente. O Cavaleiro Solitário atingirá um público maior. “Dá para fazer muito estrago”, diz Verbinski, “de dentro para fora.”
Quando o cineasta contou a executivos sobre o interesse de Depp no novo projeto, eles ficaram animadíssimos. “Todos, por um minuto, pensaram ‘Johnny Depp como o Cavaleiro Solitário? Ótimo! Vamos fazer este filme!’ Depois, dava para ver o desânimo quando perguntavam ‘O quê? Ele quer ser o Tonto? Mas é o coadjuvante!’”
O ator tinha seus motivos. “Queria talvez dar alguma esperança às crianças nas reservas [indígenas]”, afirma Depp, que usa no pescoço um cordão com um símbolo comanche. “Elas vivem sem água corrente e presenciam problemas com drogas e bebida, mas eu queria ser capaz de mostrar a essas crianças: ‘Foda-se! Vocês ainda são guerreiros’.”
Depp parece um roqueiro, mas fala como um escritor, voltando em suas frases como se procurasse pela tecla “apagar”, revisando enquanto conversa. É um autodidata dedicado cuja vida foi mudada pelo livro Na Estrada, de Jack Kerouac, e sempre traz consigo um exemplar de Finnegans Wake (James Joyce), que está lendo há anos. Escreve um diário desde os 20 e poucos anos, que é como ele resolve os próprios quebra-cabeças – as tentativas de terapia nunca funcionaram.
Por um tempo, a fama interferiu até nesse exercício privado. “Você tenta ser o mais honesto possível nos diários, mas há um lado seu que se protege até de você mesmo, estranhamente, porque sabe que alguém vai ler aquilo depois da sua morte”, diz. “Então, fiz um esforço muito consciente agora, nos últimos anos, de escrever com honestidade. Podem ser oito, nove páginas de uma vez, pode ser uma frase ou duas, mas escrevo honestamente.”
Depp até consegue visualizar a publicação de alguns desses diários. Não tem certeza sobre escrever outras coisas ou mesmo dirigir outro filme além do documentário sobre Keith Richards. Ficou tão magoado pela reação a O Bravo, que tirou o filme de circulação no Estados Unidos; até hoje é impossível conseguir uma cópia por lá. “Fiquei ofendido com a maneira como a imprensa ficava [dizendo]: ‘Como se atreve, atorzinho, a pensar que tem um cérebro?’ [O cineasta] Terry Gilliam me disse: ‘O negócio é que O Bravo é como você’. Não sabe o que quer ser. Achei isso bem preciso. O filme não sabia o que queria ser, porque eu não sabia o que queria ser – e ainda não sei.”
Depp não acredita em Deus, nem em fantasmas – e costumava procurar por eles. “Acho que estamos aqui e meio que é isso”, afirma. “Depois, é terra e vermes.” Por um tempo, achou que seria legal ter o corpo atirado de um penhasco depois que morresse. “Simplesmente jogado de uma montanha para que as pessoas pudessem vê-lo quicar”, conta. “Elas podem se divertir. Ou simplesmente guardar as tatuagens. Porque isso poderia revolucionar o que acontece após a morte. Tirar a tatuagem de alguém, fazer molduras com formol onde ela é preservada, esticada e tal – não soa nada nojento, soa? Não. Não é nem um pouco uma coisa de assassino em série. É totalmente legal. Dá para imaginar? ‘O que é isso?’ ‘Ah, são as tatuagens do meu pai na parede. É meu pai espalhado pela parede’.”
Quanto à carreira e à possibilidade de se aposentar, diminuir o ritmo ou desaparecer, considere isto: Marilyn Manson conta a história de uma noite de bebedeira em Hollywood, quando ele e Depp caminharam até a estrela do ator na Calçada da Fama – posicionada entre a de Wesley Snipes e a de Sonny e Cher. “Queríamos fazer xixi nela”, diz Manson. “Pensamos nisso. Não posso confirmar nem negar que fizemos.”
Além disso, há a voz que Johnny Depp escuta na cabeça às vezes – o tempo todo, na verdade. É o grunhido de Marlon Brando, que diz: “Foda-se. Foda-se. Você não precisa desta merda. Foda-se”. Depp ri muito contando isso, como se Brando estivesse gritando em seu ouvido. “Marlon chegou a um ponto em sua vida no qual simplesmente disse: ‘Não estou nem aí’”, fala Depp, sorrindo como um fugitivo que finalmente consegue ver o fim da estrada. “E isso deve ser uma espécie de nirvana. Tem de ser. É a liberdade.”