Pop, country e cinema em disco no limite da normalidade
Minha maneira de pensar música vem muito do cinema. Durante toda a minha vida, achei que seria cineasta. Talvez por isso eu seja tão ligado a artistas como Serge Gainsbourg, um músico que conta histórias."
Foi assim, fazendo filmes imaginários, que o carioca Jonas Sá compôs seu trabalho de estréia, recém-lançado pelo Som Livre Apresenta, selo da gravadora dedicado a novos artistas. Compositor de todas as 13 faixas (somente duas delas em parceria), ele considera Anormal um "álbum conceitual". "O disco fala da convivência dos vários 'vocês' que vivem dentro de você, das diferentes maneiras de se relacionar consigo mesmo e com as pessoas à sua volta, e nota que certos papéis que as pessoas desempenham na vida são de pura normalidade. Por isso o 'anormal'. Parece complicado, mas quem ouve vai percebendo isso instintivamente."
Jonas conta que sua música passa necessariamente pelas brincadeiras de infância em uma fazenda. "É por isso que sou tão ligado ao country. Mas é um country misturado com ficção científica", define. "Não sei se é porque as pessoas à minha volta fumavam muita maconha e eu sentia aquele cheiro o tempo todo, mas eu imaginava que estava em um planeta rural e tinha que voltar para casa. Lembro de passar as tardes com uma pistola de ruído na mão, lutando contra um estrume gigante. E eu conversava com uma Playboy da Cristiane Torloni como se a revista fosse um portal que me ajudaria a voltar pra casa. Essa personagem era minha chefa e me ajudaria a retornar para o planeta Terra."
Irmão mais novo de Pedro Sá (o guitarrista-xodó de Caetano Veloso) e amigo de infância de Moreno Veloso, Jonas está sempre às voltas com a Orquestra Imperial. Vários dos músicos da big band estão presentes na execução do disco, co-produzido com Bartolo e Moreno. "Toco com eles desde meus 13, 14 anos. Moreno é um irmão mais velho, ele ajudou a me criar. Ele e Pedro me ensinaram a pensar o processo da gravação, concepção de um disco", diz.
E o processo foi longo. Anormal começou a ser produzido em 2001 e custou a Jonas seis anos. Ele explica o longo período de gestação: "Não abri mão de usar certos sintetizadores - os quais, aliás, eu não tinha. Conforme ia conseguindo, passava semanas com [o tecladista] Ricardo [Dias Gomes] decifrando esses instrumentos. Fui aprendendo a tocar as paradas, a gravar disco, a microfonar cada instrumento, a entender quais amplificadores usar". Moreno ajudou Jonas a escolher 13 canções entre as 30 que nasceram nesse período. "Gravei 22 delas. Lancei 13 e tenho um EP que deve sair com mais umas nove ou dez", conta, indicando que logo vai lançar essas sobras. Mas a ansiedade causada por essa espera fez com que ele não parasse de compor durante o processo - o que acabou gerando um outro disco, todo em inglês. "Gravei no meu quarto, com microfone de internet, no meu PCzinho fodido", confessa. "Mas tenho muitos outros chegando. Entre coisas começadas, músicas prontas e conceitos montados na minha cabeça, já tenho quatro discos. É ótimo, porque vou ter muito o que fazer", conclui.