Com semideuses do cinema, Despedida em Grande Estilo é um retrato das dificuldades práticas de envelhecer
O pedido de “evitar política” antecede a rodada de entrevistas que acontece em um quarto de hotel em Nova York, onde estão prestes a entrar o diretor, Zach Braff, e algumas lendas do cinema norte-americano: os eternamente versáteis Morgan Freeman, Alan Arkin e Michael Caine. A temperatura política na cidade de Donald Trump se eleva sempre que qualquer assunto entra na periferia do polêmico e a ideia ali é debater a ternura presente no filme teoricamente bastante amargo comandado pelo protagonista da série Scrubs e também diretor de Hora de Voltar (aviso: não espere nada remotamente parecido). Na trama, três amigos que trabalharam a vida toda juntos recebem a notícia de que o plano de pensão da empresa não existe mais e eles não receberão mais aposentadoria (fosse no Brasil, provavelmente não teria sido possível pedir para que a entrevista não tomasse rumos políticos com um tema como aposentadoria ao centro da trama). Os três, cada um à sua maneira, já sofriam com problemas financeiros antes de receber a notícia bombástica. Quando Joe (Caine) presencia um assalto a banco, tem a ideia de que ele e os amigos devem se libertar da exploração financeira dessa entidade que ele odeia e também assaltar um banco. É aí que a amizade deles será testada de verdade.
Trata-se de um remake menos azedo e menos trágico de um filme de 1979, no qual a miséria que toma conta da vida dos protagonistas faz tudo pender para o lado do riso nervoso em vez de para uma risada sincera, como acontece na nova versão.
Braff tinha intenção de que fosse assim e o roteiro ditava isso, mas parte da graça leve do filme está na interação dos três atores, companheiros de longa data e que têm toda uma dinâmica particular. Mas mesmo com a atitude brincalhona os três senhores ficam muito sérios quando refletem a respeito da temática do longa. “As pessoas acham que porque eu sou ator sou rico e não sei como é. Sei tudo sobre privação, vim de uma realidade simples. Nasci no meio da Depressão”, crava Caine. “Eu também, meu pai passou 15 anos desempregado, a gente tinha que se virar”, complementa Arkin. Freeman encarou as mesmas dificuldades, mas com o agravante de ter sofrido racismo (“uma vez não me deixaram entrar no teatro onde eu estava encenando uma peça”, lembra).
Nos 20 minutos que o trio passou com os jornalistas foi desafiador dirigir para onde ia a fala de cada um deles; e a experiência de set que o diretor relata não foi muito diferente. “Acho que teria feito um desserviço ao filme se os intimidasse demais”, conta. “Tinha que ficar fazendo discurso motivacional para mim mesmo antes de começar, porque eles estavam em maior número [Braff refere-se também a Ann-Margret, que vive o interesse romântico do personagem de Arkin, e ao hilário Christopher Lloyd, que também integra o elenco. Eles ajudaram o trio principal a instaurar o caos durante as filmagens]. Mas se eu não tivesse tido a coragem de dirigi-los estaria fazendo um desserviço a eles.”