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Legado Essencial

O cantor e pianista Fats Domino foi um dos pioneiros mais importantes do rock

Paulo Cavalcanti Publicado em 17/11/2017, às 11h53 - Atualizado às 11h54

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<b>Inovador</b>
O músico nos dias de glória, na metade da década de 1950
 - AP Photo
<b>Inovador</b> O músico nos dias de glória, na metade da década de 1950 - AP Photo

Sempre modesto e amistoso, Fats Domino falava com naturalidade quando alguém lembrava que ele havia sido um dos criadores do rock. Domino dizia: “Todos comentam que eu ajudei a inventar o rock and roll. Mas eu já vinha tocando esse tipo de música em Nova Orleans desde a década de 1940 e a gente chamava apenas de rhythm and blues.” O cantor, compositor e pianista, que era um dos últimos pioneiros do rock, morreu aos 89 anos, no dia 24 de outubro, em Harvey (Louisiana), na região de Nova Orleans, cidade natal dele. Há muitos anos Domino enfrentava inúmeras enfermidades.

Antoine Dominique Domino Jr. nasceu no dia 26 de fevereiro de 1928. A família dele tinha um passado musical e o futuro astro se interessou pelo piano. Quando se apresentava em clubes locais, o adolescente recebeu o apelido de Fats em homenagem a outros pianistas de jazz e R&B, como Fats Waller e Fats Pichon. Domino estabeleceu uma parceria com o bandleader, produtor e compositor Dave Bartholomew e este ajudou a criar a sonoridade marcante do pianista.

O nascimento do rock and roll é algo que sempre desperta polêmicas. Em 1955, quando estourou com “Rock Around the Clock”, Bill Haley colocou a novidade musical na consciência mundial. Mas em termos sonoros o estilo já vinha sendo tramado antes por muitos outros, como Ike Turner e Jackie Brenston – não podemos esquecer que “Rocket 88”, que é considerado pelos pesquisadores como o primeiro disco autêntico de rock, foi lançado por eles em 1951. Mas um pouco antes disso, em 1949, Fats Domino havia gravado pela Imperial Records o hit “The Fat Man”. Essa canção já trazia várias características que definiram a sonoridade básica do rock: harmonia de blues, batida bem marcada, piano martelado de maneira agressiva e vocal ligeiramente insinuante.

Com “The Fat Man”, o artista se estabeleceu nas paradas de R&B. Em 1955, com as portas abertas por Bill Haley, Domino também chegava às listas de música pop, saindo do gueto da black music e conquistando um amplo público branco e adolescente. Domino se tornou um superastro, um dos maiores hitmakers daquele período, vendendo com enorme regularidade até meados da década de 1960. Dos muitos sucessos que ele teve, os mais lembrados são “Ain’t That a Shame”, “Blueberry Hill”, “I’m Walking”, “Walking to New Orleans” e “Blue Monday”.

Em 1963, Domino trocou a Imperial pela ABC Records e os hits diminuíram. Naquela época, a música popular também mudava de foco. Mas Fats Domino seguiu guiando musicalmente a geração que chegava. Mick Jagger contou que a maior influência vocal dele era o músico de Nova Orleans: “Fats uma vez falou em uma entrevista que o grande trunfo dele era cantar de forma ‘embolada’, para que o público não entendesse muito bem a letra. É o que faço”. Os Beatles resgataram o pioneiro de forma explícita em 1968 no hit “Lady Madonna”. Paul McCartney cantou a faixa e tocou piano no mesmo estilo de Domino. Este retribuiu e a gravou no mesmo ano, em uma rara ocasião em que o homenageado prestou tributo aos que o homenagearam.

A partir da década de 1970, Fats Domino era um dos grandes embaixadores do rock e tocava para enormes plateias ao redor do mundo os inúmeros hits que teve em sua fase de ouro. Em 1986, ele esteve na primeira turma de músicos que entraram para o Hall da Fama do Rock and Roll. O furacão Katrina, que em 2005 devastou Nova Orleans, destruiu a casa de Fats Domino. Por muitos dias, o músico ficou desaparecido e as autoridades achavam que ele havia morrido durante a tragédia. Felizmente ele tinha conseguido escapar em um barco junto à esposa, Rosemary. Depois do ocorrido, Domino, que naquela época já estava praticamente aposentado, diminuiu ainda mais suas atividades artísticas.