Lenine sempre diz que é mais compositor do que cantor. “Se perguntarem qual é minha profissão, vou falar: compositor. Pra mim, em decorrência desse exercício é que surgiu o cantar”, ele afirma. Já Maria Gadú costumava ter o canto em primeiro lugar, mas, depois de anos se apresentando na noite paulistana, ela passou a compor frequentemente – grande parte do repertório que já gravou é de sua própria autoria. Os dois fazem parte de um grupo de artistas que nos países hispano-americanos, na Espanha e em Portugal são chamados de “cantautores”. Agora, juntos, pegaram o termo emprestado e batizaram o show Cantautores, que apresentarão no Uruguai, Argentina e Chile, em maio.
“Só no português do Brasil não tem a palavra ‘cantautor’, embora eu acredite que ela estará na próxima edição do Aurélio”, brinca Lenine. “A gente faz parte de um time de músicos que vai além do entretenimento. Temos no DNA essa coisa do ‘cancionista’, que equilibra sons com palavras e poesia com melodia, brincando com o significado e significante das coisas. Somos artesãos da canção.”
Lenine e Maria revelam que o show não terá participações de outros músicos. Serão apenas os dois no palco – para as viagens, eles levarão seus produtores, esposas e violões. “O pretexto é a gente se encontrar e se divertir, sem megaestrutura, sem banda e deixando as surpresas nos pegarem nas passagens de som”, diz Lenine.
Embora o repertório não estivesse definido até o fechamento desta edição, sabe-se que as canções já são bem conhecidas no Brasil, mas ainda são novidade para parte dos hermanos. “Eu tenho a impressão de que, por não saber a língua, o público vai se esforçar mais do que o normal para prestar atenção”, acredita a cantora, que afirma não ter medo de repetir a fórmula que já testou junto a Caetano Veloso no projeto Multishow ao Vivo. “Não tem como eu trazer essa experiência com Lenine para um lugar parecido com o de Caetano, porque os dois sempre estiveram dentro de mim de forma diferente”, ela promete. “São mundos sonoros distintos.”
“Tempos diferentes, consumidores diferentes, parceiros diferentes... a gente é um reflexo do que estamos vivendo. E o entretenimento é consequência disso”, o pernambucano complementa. Já a escolha dos países foi mero acaso, e não há previsão de shows da parceria no Brasil – nem de que o encontro dê origem a lançamentos fonográficos. “Tenho parceiros nesses lugares e o convite deles [para shows] veio num momento oportuno para esse encontro que eu e Gadú já queríamos fazer há tempos”, finaliza.