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Lenine

Em novo projeto, Lenine reflete sobre o caos do país enquanto reitera a importância da família

Bruna Veloso Publicado em 21/06/2018, às 19h53 - Atualizado às 19h55

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Lenine - Flora Pimentel/Divulgação
Lenine - Flora Pimentel/Divulgação

Se, por um lado, Em Trânsito ecoa sonoramente a bagunça pela qual passa a sociedade brasileira, por outro é uma reafirmação de o quanto a família é importante para Lenine. O filho Bruno Giorgi, que atua com o pai desde Chão (2011), cuida da direção musical do projeto, que inclui show, disco e DVD, mesclando inéditas e canções de outros álbuns; o filho João Cavalcanti é parceiro na nova “Bicho Saudade” e assina o release enviado à imprensa; a esposa, Anna Barroso, ajudou na concepção do espetáculo. É mais um trabalho inovador do músico, que, além de preocupado com questões ambientais e políticas, está sempre em busca de novas referências musicais. Não escapou a ele, por exemplo, o burburinho em torno do clipe de “This Is America”, de Childish Gambino: “Fazia muitos anos que eu não ficava tão arrebatado com uma coisa assim”, afirma.

Em Trânsito nasce “ ao contrário”: primeiro veio a concepção e gravação do show, depois os produtos físicos. Qual foi a faísca para criar algo assim?

Fui exorcizando mecânicas. Sabia que não queria ficar seis meses dentro de um estúdio para fazer um disco. A gente vivendo neste mundo caótico, sem expectativa e sem nenhuma perspectiva de mudança, vendo a dissimulação enraizada em todos os setores da sociedade… Eu estava realmente sofrendo de desassossego. Em Trânsito surge dessa constatação de que não se tem ideia para onde se vai.

Em 2014, você apoiou a candidatura à presidência da Marina Silva. Seu voto será dela novamente?

Não. Adoro a Marina, mas tenho restrições quando se põe Deus na equação. A equação do homem é a equação do homem, tire Deus daí. Questiono qualquer político que coloque Deus no jogo, pelo fato de usar Deus como bandeira.

Você consegue vislumbrar um processo eleitoral idôneo em 2018?

Realmente não vejo perspectiva de mudança a curto prazo, e isso me dói. Olhe, o Rio de Janeiro está sob intervenção do Exército. Meus filhos estão pensando em sair do Rio (e isso é uma grande merda para mim, que sou um dependente químico da família). Não posso generalizar a classe política, porque tem algumas pessoas em quem eu acredito muito – sigo votando no Chico Alencar, no Jean Wyllys, em alguns outros nomes do PSOL. Mas é uma minoria ínfima dentro desse contexto escatológico que é a política brasileira.

Quais são seus medos como ambientalista?

Não me considero ambientalista. Ou melhor, eu me considero alguém que, sensibilizado pelo trabalho de muita gente, divide com essas pessoas a exposição que a música proporciona. Tem muita coisa no social também, mas não fico divulgando. Acho que faço mais atividades relacionadas às questões indígenas. É um massacre, e agora em nome do agronegócio. O agro não é pop, o agro é tóxico. Indico um livro que é uma bíblia para entendermos essa aculturação que acontece com os povos indígenas desde o descobrimento: A Queda do Céu – Palavras de um Xamã Yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert.

Você está casado há quase 40 anos, e participou recentemente do programa Encontro com Fátima Bernardes, em um dia em que o tema era relacionamentos. Em um mundo onde tudo é efêmero, é difícil manter o propósito?

Rapaz, não é não. A questão é: as pessoas estão querendo esse tipo de relação? Acho que viver a dois tem muito a ver com dividir tudo, e você tem de querer isso. Uma vez, vendo meu pai o tempo todo agarrado com a minha mãe, eu disse: “Bicho, tu é um puta ator, né?” [risos] E ele, muito sério, respondeu: “Enquanto você não entender que casar é uma variação de morrer, não case, porque não estará pronto”.

Você tem uma neta, a Luna, de 7 anos, que tem síndrome de Down. A família sofreu um baque quando soube?

É um baque, mas por causa da falta de conhecimento. Só soubemos quando ela nasceu, e de cara descobrimos que não faltava nada, e sim que ela tem [um cromossomo] a mais. Olha que coisa linda: a pessoa com síndrome de Down não tem a capacidade de dissimular. Ou seja, não mente. Você tem noção de o quanto a humanidade carece desse cromossomo?