Livro Aberto
Richard Linklater conta a história da própria vida no filme Boyhood
Nicholas Dawidoff
Publicado em 16/10/2014, às 18h14 - Atualizado em 17/10/2014, às 11h37Lmemórias da infância são sempre próximas e misteriosas para a maior parte de nós, mas poucos se lembram dos momentos cotidianos com a intensidade de Richard Linklater. “Vejo gente que não via há 20 anos e sou capaz de conversar sobre o que conversávamos na frente da escola”, afirma o cineasta texano de 54 anos.
Linklater tem aproveitado as partículas de sua juventude no Texas desde os viajantes sem destino que retratou em Slacker e os adolescentes de cidade pequena que povoam o cultuado Jovens, Loucos e Rebeldes. O mais recente trabalho, Boyhood: Da Infância à Juventude, é o 18º filme de Linklater, juntando-se a um corpo de obra eclético que vai do romance Antes do Amanhecer à comédia musical Escola do Rock. O longa relata a infância e adolescência de um menino chamado Mason, dos 7 aos 18 anos. Linklater fez Boyhood reunindo o mesmo elenco para filmar todos os anos.
O diretor conta que o filme é sobre “adultos que se deparam de supetão com a realidade de ter que criar filhos”. Um dos padrastos dele era agente correcional, parecido com um personagem de Boyhood, apesar de o filme ser mais simpático ao Zé Mané do que Linklater diz ter sido: “Meu eu júnior ensimesmado ressentia a presença dele. Hoje vejo que estava tentando sustentar a família que de repente assumiu”.
Assim como muitos artistas que usam a própria biografia no trabalho, Linklater parece acreditar que fazer material criativo com as dificuldades da vida as transforma e enobrece. Ele cria filmes porque acredita que seu mundo alternativo é capaz de compensar um pouco pelas decepções do mundo real. “Uma vez, recebi uma carta de um grande fã de Jovens, Loucos e Rebeldes”, conta. “Ele tinha sofrido uma lesão na cabeça e esqueceu o passado. Me agradeceu por passar a ele uma ideia boa de como o período do ensino médio pode ter sido. Se você traz a público algo relacionado à sua memória e experiência, as pessoas sentem isso.”