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Inventivo e imprevisível, o controverso Lou Reed pavimentou o caminho para a provocação no rock

Jon Dolan | Tradução: J.M. Trevisan Publicado em 20/11/2013, às 13h03 - Atualizado às 13h07

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Lou Reed - GREG BAKER/AP
Lou Reed - GREG BAKER/AP

Lou Reed, um dos mais influentes guitarristas e compositores, que ajudou a construir quase 50 anos de rock and roll, morreu aos 71 anos em Long Island, nos Estados Unidos, em 27 de outubro. Até o fechamento desta edição a causa da morte não havia sido divulgada oficialmente, mas o músico passou por um transplante de fígado em maio deste ano.

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Com o Velvet Underground no fim dos anos 60, Reed fundiu o sentimento de urgência das ruas com elementos da música avant-garde europeia, casando beleza com distorção e trazendo toda uma nova honestidade lírica à poesia do rock. Como artista solo inventivo e incansável, dos anos 70 até 2010, foi camaleônico, controverso e imprevisível, desafiando os fãs a cada passo. Gêneros como glam, punk e o rock alternativo seriam impensáveis sem o exemplo revelador de Lou Reed. “Um acorde já está bom”, disse ele certa vez, se referindo ao estilo cru que tinha ao tocar guitarra. “Dois acordes é o limite. Com três, já vira jazz.”

Lewis Allan “Lou” Reed nasceu no Brooklyn (Nova York), em 1942. Fã de doo-wop e dos primórdios do rock and roll, ele também foi inspirado pelo poeta Delmore Schwartz quando estudava na Syracuse University. Depois da faculdade, trabalhou como compositor contratado no selo Pickwick Records. No meio dos anos 60, ficou amigo do violista clássico galês John Cale. Juntos formaram uma banda chamada The Primitives, posteriormente renomeada The Warlocks. Depois de conhecerem o guitarrista Sterling Morrison e a baterista Maureen Tucker, tornaram-se o Velvet Underground. Com um som simples e visual sombrio, a banda chamou a atenção de Andy Warhol, que a incorporou ao show experimental dele, o Exploding Plastic Inevitable. “Andy projetava os filmes dele na gente”, contou Reed. “Nós vestíamos preto para que os outros pudessem ver o filme. Mas andávamos sempre de preto de qualquer modo.”

“Produzido” por Warhol e recebido com total indiferença quando lançado no começo de 1967, o disco de estreia da banda, The Velvet Underground & Nico permanece como um marco musical no mesmo nível de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (dos Beatles) e Blonde On Blonde (de Bob Dylan). As descrições prosaicas do submundo boêmio nova-iorquino feitas por Reed, cheias de alusões a drogas e S&M, foram além até dos momentos mais sinistros dos Rolling Stones, enquanto as altas doses de distorção e ruídos gratuitos revolucionaram a guitarra roqueira. Os três álbuns subsequentes – o ainda mais corrosivo White Light/White Heat (1968), o frágil e folk The Velvet Underground (1969) e Loaded (1970), que, apesar de ter sido gravado quando Reed estava deixando a banda, contém dois de seus maiores clássicos, “Rock & Roll” e “Sweet Jane”– foram igualmente ignorados. Mas eles seriam adotados pelas gerações futuras, consolidando o status do Velvet Underground como uma das bandas de rock mais influentes de todos os tempos.

Depois de sair do grupo em 1970, Reed viajou para a Inglaterra e, em uma atitude caracteristicamente paradoxal, gravou o primeiro álbum solo acompanhado por membros da banda de rock progressivo Yes. Mas foi o disco seguinte, Transformer (1972), produzido pelo discípulo David Bowie, que o levou além do status cult e o transformou genuinamente em astro do rock. “Walk on the Wild Side”, uma adorável ainda que fria evocação da cena do estúdio Factory de Andy Warhol, virou sucesso nas rádios. Reed passou os anos 70 desafiando todas as expectativas como se fosse o esporte favorito dele. Berlin (1973) era um bombardeio literário, enquanto Sally Can’t Dance (1974) tinha metais de soul e guitarras exuberantes. Em 1975, lançou Metal Machine Music, um efervescente experimento contendo apenas ruído que a gravadora RCA divulgou como música clássica avant-garde, enquanto o ao vivo Take No Prisoners tinha divagações e ataques aos críticos de rock. Ao explicar a trajetória nada acomodada da carreira dele, Lou Reed disse ao jornalista Lester Bangs: “As merdas que faço valem mais que os diamantes dos outros”.

A persona sexualmente ambígua de Reed e o uso excessivo de drogas durante os anos 70 tornaram-no lendário entre os mitos do rock underground. Mas nos anos 80 ele começou a sossegar. Casou-se com Sylvia Morales e abriu a todos sua vida de recém-casado no excelente The Blue Mask (1982), melhor trabalho dele desde Transformer. Em New Sensations (1984), tomou um rumo mais comercial e New York (1989) encerrou a década com um conjunto de faixas engraçadas e de viés político, que recebeu aclamação geral da crítica. Em 1991, ele colaborou com John Cale em Songs for Drella, um tributo a Warhol. Três anos mais tarde, o Velvet Underground se reuniu para uma série bem-sucedida de shows na Europa.

Reed e Sylvia separaram-se no começo dos anos 90. Poucos anos depois, ele começou uma relação com a musicista e performer Laurie Anderson. Os dois tornaram-se inseparáveis em Nova York, fazendo parcerias e apresentando-se ao vivo juntos, enquanto engajavam-se no ativismo civil e ambiental. Casaram-se em 2008.

Reed continuou a seguir seus impulsos artísticos durante os anos 00. O outrora decadente roqueiro tornou-se um estudante ávido de tai chi, chegando até a levar o instrutor dele ao palco durante shows em 2003. Em 2005, lançou um CD duplo chamado The Raven, baseado na obra de Edgar Allan Poe. Em 2007, lançou um álbum de ambient music chamado Hudson River Wind Meditations. Em 2011, Reed voltou ao rock comercial com Lulu, gravado em parceria com o Metallica.

“Depois de passar por tudo isso, sempre pensei que se você olhasse todas essas coisas como se fosse um livro, você teria em mãos o ‘Grande Romance Americano’, cada disco um capítulo”, disse ele à Rolling Stone em 1989. “Estão todos em ordem cronológica. Se você pegar todos eles, empilhar e ouvir na ordem, terá o meu ‘Grande Romance Americano’.”