Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Subvertendo a Canção

Lucas Santtana passa por texturas sonoras ao rever dez anos de carreira

Por José Julio do Espirito Santo Publicado em 13/01/2011, às 16h04

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
"O barato é achar timbres", diz Lucas Santtana, sobre sua música - DIVULGAÇÃO
"O barato é achar timbres", diz Lucas Santtana, sobre sua música - DIVULGAÇÃO

"O que me formou como músico foi ouvir discos", afirma Lucas Santtana com a confiança de já ter integrado a Orquestra Sinfônica Jovem e a Banda Sinfônica, como flautista, no início de sua carreira musical, na Bahia. Nunca se arrependeu do aprendizado erudito de harmonia, percepção e arranjo, mas foi especialmente dos sulcos do vinil que ele tirou seu estilo. "Meu barato em música é a textura musical", diz. "Não penso muito em música em termos de harmonia, ritmo ou melodia. Claro que isso está presente e sou um cara que faz canções, mas meu barato é transformá-las em camadas sonoras."

Uma bela amostra de tais transformações são as faixas de Collector's Choice, coletânea de seus quatro discos, lançada apenas em vinil pelo selo anglo-brasileiro Vinyl Land. Ela celebra a primeira década do lançamento do álbum de estreia, Eletro Bem Dodô. "Todos são bem diferentes entre si", comenta sobre seus trabalhos. "Em Eletro Bem Dodô, todos os instrumentos soam percussivos, até a guitarra e o baixo. Parada de Lucas [2003] tem muita eletrônica porque eu estava ligado nos bailes funk do Rio. 3 Sessions in a Greenhouse [2006] tem banda e foi gravado ao vivo, totalmente influenciado por dub." Esse disco é assinado por Lucas Santtana & Seleção Natural, grupo que foi ganhando uma formação flutuante ao longo do tempo, com uma base, no Rio, com músicos da banda Do Amor e, em São Paulo, com os integrantes do Guizado, além de muita gente da nova cena. "Sem Nostalgia [2009] é todo em voz e violão, embora não pareça", ele completa. Foi quando Santtana conseguiu experimentar mais, alterando o timbre do violão, gravando faixas com o som ambiente em primeiro plano ou até registrando sons da mata carioca para sampleálos nas faixas. "O barato é achar timbres", explica. Essas e outras experiências foram contadas durante uma conferência em um hotel flutuante na Amazônia, no mês passado, no TED (Technology Entertainment Design) e agora sua palestra pode ser acessada online. Um dos pontos mais importantes dessa história foi ter transformado seu selo Diginóis em blog, tornando direto o contato com seu público. Até os convites para palestras surgiram daí. "Isso fez com que as pessoas conhecessem o que eu penso e como é minha música." Muitas faixas de seus discos podem ser ouvidas e baixadas por lá.

Morando entre Rio de Janeiro e São Paulo, Lucas Santtana mantém uma relação de afeto com a Bahia e seus artistas. É sobrinho de Tom Zé e, graças ao disco Tropicália 2, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, teve sua participação gravada pela primeira vez, na faixa "Baião Atemporal". Como o trabalho da dupla e do tio, o som que faz é cosmopolita e instigante. E bem longe do axé. Daniela Mercury, Ivete Sangalo e outros donos dessa indústria dizem admirar o trabalho dele. "Acho que elas ouvem, acho que elas gostam, mas acho que, para elas, sou tipo um louquinho, [um cara] que é talentoso, mas faz uma música meio cabeça."