Existe apenas uma regra para se virar lenda na música: você precisa morrer
O status de uma pessoa pública pode mudar de “simples celebridade” para “ídolo cultuado” da noite para o dia. Você saberia dizer quando isso acontece? Eu arrisco: quando o sujeito vira estampa de camiseta.
Kate Moss, por exemplo, era só uma modelo famosa até a noite em que foi flagrada consumindo quantidades industriais de guloseimas ilegais. No dia seguinte, ela perdeu contratos publicitários, mas ganhou algo muito mais valioso, uma camiseta que é moda até hoje: “Kate Rocks”. Os contratos não só voltaram como se supervalorizaram, pois, daquela camiseta em diante, ela não era apenas mais uma top model – ela era cultuada.
A atriz Winona Rider ganhou a camiseta “Free Winona” depois de roubar uma loja e ser processada. Mais recentemente, o mesmo “Free” estampou a camiseta do Pussy Riot, grupo que foi aprisionado depois de invadir a catedral de Moscou para criticar o presidente Vladimir Putin cantando uma oração punk. Seja lá isso o que for, até o vocalista do Red Hot Chili Peppers usou a camiseta das três integrantes da banda, até então ilustres desconhecidas.
Drogas, roubo, enfrentamento: é quase impossível prever o que faz uma celebridade se transformar em camiseta. Quase. Porque a morte não costuma falhar. Bob Marley, Amy Winehouse, Raul Seixas, Renato Russo... Os exemplos na música são muitos e acabamos de ganhar mais um.
No começo do mês passado, à exceção daquele canal de TV que continuou leiloando tapetes persas, todo veículo brasileiro de comunicação parecia um tenebroso rabecão, nome do carro escuro e alongado responsável pelo translado de caixões. O veículo (midiático) que não estivesse enterrando o presidente da Venezuela, enterrava o vocalista do Charlie Brown Jr.
O corpo do Chorão mal fora encontrado quando fãs e colegas músicos começaram a viabilização da futura camiseta com depoimentos e mensagens que faziam do rock star errático que o Chorão sempre foi, um herói generoso e amigo. Até poeta eu vi gente dizer que ele era, esquecendo que, enquanto letrista, Chorão arrepiava os entusiastas da língua portuguesa com frases como “tirou a roupa, entrou no mar, pensei meu Deus que bom que fosse”.
Àquela altura, o histórico de encrencas, desavenças e erros de concordância já não importavam mais, pois, como diz Jorge Ben Jor, “morre o Burro, fica o homem”. O líder do Charlie Brown já virou uma camiseta.
Getúlio Vargas escreveu em sua carta de suicídio que deixava a vida para entrar na história. Porque era político. Se fosse músico, ele teria escrito que deixava a vida para secar no varal alheio.