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Maria Rita

A cantora lança o disco Amor e Música, no qual destaca a esperança nos tempos difíceis

Igor Brunaldi Publicado em 24/02/2018, às 12h20 - Atualizado às 12h40

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<b>Sem sinais de cansaço</b><br>
Maria Rita chega aos 15 anos de carreira ainda mais dedicada ao samba

 - Divulgação
<b>Sem sinais de cansaço</b><br> Maria Rita chega aos 15 anos de carreira ainda mais dedicada ao samba - Divulgação

Como é possível cantar tristeza sem transmitir tristeza?

Isso é uma característica do samba. A gente tem a ideia de que o samba é só alegria, mas ele é uma tristeza, a história dele é de resistência. É um ritmo muito alegre, mas fala quase exclusivamente de tristeza e dores.

Você acha possível cantar sobre qualquer tema em cima da sonoridade do samba?

Sim. Por exemplo, o Bezerra da Silva falava de tudo. Você olha para o universo do samba e tem amores, desamores, sociedade. O Zeca Pagodinho é outro exemplo. Inclusive, a música dele que gravei no disco fala de dor, tem uma história de traição e decepção que ele viveu, mas que se transforma em vontade de viver, em esperança e batalha contra os próprios demônios. No samba cabe tudo isso, cabe a história do Brasil.

É nítido que a luta das mulheres vem ganhando cada vez mais força, apesar de ainda existir tanta resistência. Por diversas vezes, você canta sobre esperança e perseverança. O necessário, acima de tudo, é ter esperança? Quais vozes femininas mais te inspiram?

Elza Soares com certeza é uma inspiração, ela tem um espírito Frida Khalo. Admiro a cabeça da Gaby Amarantos, uma mulher que se impõe, que começou a carreira abraçando as raízes sem medo. Vivemos em um país de muita diversidade, mas absolutamente preconceituoso. Admiro Astrid Fontenelle, adoro ouvir e ler o que ela tem a dizer. A Rita Lee, claro! Apesar de ela não lançar música há um tempo, sempre teve seu discurso. São espíritos guerreiros, almas atemporais. Minha mãe [Elis Regina] há mais de 40 anos já cantava sobre esses assuntos e ainda estamos aqui, vivemos essas mesmas questões. Sem que eu percebesse, esse disco acabou transmitindo isso de esperança e união. Durante a produção, me peguei pensando que, no fim, o álbum ficou quase algo introspectivo, em termos das mensagens que transmite. Acabei cantando para mim mesma, cantando mensagens de união e força que eu mesma precisava ouvir. Isso tudo é reflexo do que vivemos nestes tempos estranhos, no Brasil e no mundo. O artista tem essa função de ser uma antena, eu sempre admirei quem está na frente, falando e estabelecendo o diálogo. Eu venho dessa escola, minha mãe era assim. Com o microfone na mão, o poder é meu.

Você acha que sofrimento e dor são necessários para a criação artística?

Eu acho que sim, mas tanto quanto a alegria. A vivência como um todo é importante.

Falando em vivência, você completou 15 anos de carreira musical. Já é tempo suficiente pra começar a sentir um cansaço criativo?

Não sinto cansaço criativo, não. O que está me cansando ultimamente é a indústria, as modificações estão acontecendo muito rápido, deixa todo mundo louco. Isso está me cansando um pouco. Mas criativamente não. Se você soubesse o que eu tenho de projeto na cabeça... estou firme e forte!

Podemos dizer que sua voz encontrou moradia no samba. No meio desses tantos projetos que você mencionou, algum é fora desse gênero?

É, sim! Eu sou um bicho muito inquieto. Acabei de fazer um show no Rock in Rio cantando Ella Fitzgerald. Quando me sinto muito parada, vou pouco ao cinema, saio pouco de casa. Em qualquer situação que seja aquém das minhas expectativas eu não fico legal. Parece que estou me enganando e não vou ter material pra cantar. Tenho muita coisa na cabeça, muitos projetos, projetos enormes, pequenos, humildes, exibidos... E sou um terror!