O músico fala sobre tocar no Brasil e a (remota) chance de um retorno ao Sepultura
Atualmente, Max Cavalera só lida com aquilo que consegue controlar: a banda Cavalera Conspiracy, com o irmão Iggor, que acabou de lançar o álbum Blunt Force Trauma; um novo projeto ("meio Ministry, meio Nailbomb", como ele mesmo define); e o crescimento dos filhos, Zyon e Igor, que seguem o caminho do pai. "Eles têm um vídeo no ensaio em que quebram os instrumentos, bem punk rock mesmo", conta Max, orgulhoso, dias antes de se apresentar no Brasil pela segunda vez em menos de seis meses - desta vez, abrindo o show do Iron Maiden em São Paulo. Certas coisas, porém, estão além de seus desejos - como a alardeada reunião com a formação original do Sepultura. "Tá na mão de Deus", decreta.
O Cavalera Conspiracy já é uma banda ou ainda apenas um projeto entre irmãos, menos musical e mais família?
Agora, neste segundo disco, a formação é a mesma que a gente vai em turnê - eu, o Iggor, o Marc [Rizzo, guitarrista] e o Johny [Chow] no baixo. A gente fez o disco inteiro e saiu com um som que parece de banda mesmo.
O projeto não traz referências à música brasileira. Já não há mais o que explorar na mistura ou perdeu-se o interesse?
Quando eu voltei a tocar com o Iggor, a gente sentiu que a galera queria ver os irmãos tocando metal igual nos anos 80 - com garra, violência, agressividade, que a gente tinha na época em que eu e ele éramos do Sepultura. Voltamos para um lance mais thrash, e os discos ficaram mais agressivos. Mas eu ainda tenho vontade de cantar em português. Acho que no próximo [disco do] Cavalera vai dar para introduzir isso.
Em 2010, você se apresentou no festival SWU. Foi seu primeiro show aqui em 12 anos. Como foi voltar depois de tanto tempo?
Foi um lance de excitação, mas eu estava nervoso, vou falar a verdade. Rolou um nervosismo legal entre eu e o Iggor no camarim, uns cinco minutos antes de entrar, um clima de tensão mesmo. Mas na hora em que a gente subiu no palco, viu a galera e rolou o primeiro acorde da "Warlord", o lugar foi pra baixo. Acho que foi um dos melhores [shows] do Cavalera e da minha carreira com o Iggor.
Andreas Kisser e Paulo Jr. (ex-colegas de Sepultura) assistiram a esse show. Houve um encontro?
Não. Eu vi isso na internet. Teve gente que me mostrou uma foto dos dois assistindo ao show, mas eu não me encontrei com eles, não. Acho que o Iggor encontrou com o vocalista deles, o Derrick, que eu nem conheço pessoalmente. O tempo que eu fiquei lá em Campinas foi dividido entre o lance do show e depois, no domingo, quando fui numa churrascaria com o Iggor. Entrei lá com a camisa do Palmeiras e comi carne até sair pra baixo [risos].
O Iggor disse que a filha dele (Joanna, 14) o provoca, dizendo que acha que o som do Cavalera Conspiracy é "metal bundão". O que dizem os seus filhos?
Os meus filhos gostam. O Igor [15] é guitarrista, o Zyon [17] é baterista. A banda deles se chama Mold Breaker e já estão fazendo shows. Eles curtem o som, principalmente o Igor, que é mais ligado em thrash e death metal e gosta de coisa mais agressiva. Eu estou em um projeto novo, com o vocalista do The Dillinger Escape Plan [Greg Puciato]. A gente escreveu as primeiras 15 músicas na semana passada e eu mostrei pro meu filho. Ele falou: "Pô, muito legal, gostei, pai, tá fazendo bonito" [risos]. A Joanna é mais black metal, ela gosta de umas bandas da Noruega, Suécia, dos caras que queimam igrejas, comem o cérebro dos outros... [risos]
Tem planos de voltar a morar no Brasil?
Tenho vontade de comprar uma casa no Brasil. Minha mulher [Gloria] adora essa ideia. Ela gosta muito do Norte do país. Mas, por hora, nada concreto.
Você demonstra vontade de reunir o Sepultura. Quando diz algo, os membros da atual formação desmentem. Quando vocês vão se encontrar pessoalmente para resolver a situação?
Acho que agora vai depender deles, porque tentei muito. Semana passada liguei e tentei falar com eles, mas não rolou. Agora meio que deixei de lado. E respeito o lance do Iggor, que não curte essa ideia de voltar a tocar com eles - não é algo que ele quer. Então, acho que é uma coisa que tem que dar um tempo, esperar o que acontece no futuro. Essa história da reunião já tem 12, 13 anos. Se eles sentirem que querem, se a gente sentir que quer também, aí vai rolar. Se não rolar, é porque não era pra ser.
Você teve algum contato com eles?
Eu vi o Andreas em Portugal, no ano passado, num show do Cavalera. A gente assistiu ao Megadeth do palco e conversamos um pouquinho. Levamos uma ideia e foi bem amigável. Por isso que me surpreende às vezes quando vejo ele falando mal de mim. Não entendo muito qual que é a ideia dele. Na minha cara ele é amigo, e, quando não estou perto, fala mal de mim. Não é uma coisa muito legal, mas fazer o quê? Não posso falar por ele. Por mim não tem nada de mau, nenhuma vibração ruim.