O Postal Service – dupla formada por Ben Gibbard, do Death Cab For Cutie, e Jimmy Tamborello, de Dntel – pegou essa balada de Phil Collins de 1983 e transformou-a em algo muito mais intimista. Normalmente, quando bandas indie fazem versões de hits que foram sucesso durante a infância dos integrantes, há certo grau de ironia embutido. Mas quando Gibbard canta com uma reverência real - mesmo de forma mais contida e falada, sem os efeitos que Collins costumava usar -, as gélidas batidas eletrônicas, adicionadas ao timbre tocante dele, parecem tornar a música novinha em folha.
Toda a carreira de Jack White tem sido um estudo pela história das raízes do rock e seria possível facilmente selecionar dez covers excelentes que ele fez ao longo dos anos – da versão de “John the Revelator”, com o White Stripes, até “I’m Shakin’”, da carreira solo, chegando a “Love Is Blindness”, do U2, criada para a trilha sonora do remake de O Grande Gatsby. Mas há algo especialmente cativante nesta versão de White para esta pérola pop pegajosa da dupla canadense de indie-pop Tegan & Tara. White raramente faz covers de músicas contemporâneas, e a versão do White Stripes é respeitosa e mutante, com guitarras sujas, as batidas constantes de Meg na bateria e o timbre despojado e inconfundível de Jack.
“Crazy”, de Gnalrs Barkley, tornou-se um hit gigantesco quase instantaneamente. Inspirou covers de todos os lados – a lista passa por Nelly Furtado, Raconteurs, Paris Hilton e Cat Power. É uma música ideal para se mergulhar de cabeça: elegante, bem estruturada e divertida de cantar, com a eficiente união de hip hop, R&B e pop clássico. Greg Dulli, do Twilight Singers, é um cara do rock alternativo que fez algumas covers de R&B clássicos e contemporâneos com o Afghan Wings nos anos 90. Então, a versão dele ao piano não foi exatamente uma desconstrução inadequada de um hit pop. Dulli aperfeiçoou a desolação que apenas permeia a versão cantada brilhantemente por Cee-Lo Green, transformando esta ode aos esquisitos em um grito de amor direto do abismo.
Este épico dançante e tragicamente nostálgico do LCD Soundsystem é sem dúvidas um dos clássicos indie dos anos 2000. Os lados B das diferentes versões do single eram compostos de covers, o que já mostrava como a faixa havia se tornado um clássico desde o momento em que foi lançada. Os roqueiros escoceses do Franz Ferdinand, que já haviam conseguido um bom espaço nas pistas de dança e nas paradas, parecem ter nascido para fazer essa versão de “All My Friends”. Musicalmente, eles realizam o esperto truque de criar uma versão que reverencia bandas post-punk como New Order e Gang of Four – grupos que notoriamente influenciaram tanto o Franz Ferdinand quanto o LCD Soundsystem.
A dupla de indie-folk da Suécia ganhou o mundo quando lançou uma versão cover de “Tiger Mountain Peasant Song”, do Fleet Foxes, publicada diretamente no YouTube. A versão original era um devaneio hippie soturno com ecos folk e o falseto do vocalista Robin Pecknold envolvido por doces violões. É até possível imaginar a banda compondo a canção em um vale medieval encoberto de névoa. Se você não imaginou a situação, o Fist Aid Kit o fez. E, quando reapareceram no YouTube tocando uma versão bela e crua de "Tiger Mountain" em uma floresta bucólica, o fator fofura foi quase arrasador.
O Flaming Lips muitas vezes se destacou por fazer música psicodélica com toques de ternura pop. E eles também se sobressaíram pelo experimentalismo louco que costumam praticar. Esta cover do primeiro hit de Madonna na MTV tem um pouquinho de cada caso. O groove original da música é colocado de lado em um lento processo de reconstrução, no qual a melodia é transformada em algo distante enquanto Wayne Coyne canta as letras de maneira suave, como uma reza. Na metade do caminho, a versão explode em ruídos, uma bateria poderosa e guitarras viajantes e heróicas. Com o dobro de duração da música original, é uma terna homenagem que ficou a cara do Lips.
Elisabeth Maurus (também conhecida como Lissie) é uma promissora cantora e compositora de indie-folk, mas ela não é exatamente o tipo de pessoa que você esperaria que flertasse com o hip-hop. E é isso que torna essa versão dela da música de Kid Cudi tão impressionante. Lissie canta com agressividade embriagada e arrogância tão convincentes quanto adoravelmente improváveis. A banda dela acrescenta peso dramático, enquanto ela manuseia o rap com habilidade e solta frases como: “People tell me slow my roll/I'm screaming out fuck that!”.
Bandas que tentaram fazer covers muito fiéis do todo-poderoso Led Zeppelin normalmente falham feio. A versão de Trent Reznor e Karen O da clássica ode aos guerreiros vikings – que foi lançada na trilha sonora do filme Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres - é um rock industrial poderoso que rivaliza com o original e ainda acrescenta um toque extra de terror. Reznor cria uma base tempestuosa enquanto a cantora do Yeah Yeah Yeahs faz surgir um sol da meia-noite com uma voz que parece emular uma sacerdotisa guerreira. Ela mal soa humana na abertura, o que é adequado, já que a instrumentação eletrônica de Reznor também não soa como música.
Em que mundo veríamos um artista fazendo um cover da própria música? O cantor australiano Gotye criou uma versão para o próprio hit dele, “Somebody That I Used To Know”, reunindo pacientemente diversas covers da música encontradas no YouTube. Músicos escondidos nos confins da internet revisitaram a canção por vários ângulos sonoros – com violões, xilofones, banjos e saxofones – derrubando a hierarquia tradicional entre a um músico famoso e os fãs. Na atual era digital, todo mundo é estrela.
Por trás do atual hit country de Darius Rucker há uma rica história. “Wagon Wheel” começou como uma canção inacabada das sessões de criação de Bob Dylan para a trilha sonora do filme Pat Garrett & Billy the Kid (1973). Em 2004, o grupo de raiz Old Crow Medicine Show, de Nashville, gravou a canção e escreveu versos para substituir aqueles balbuciados por Dylan na versão original. Neste ano, Rucker, ex-vocalista do Hootie & the Blowfish, entrou para a lista de artistas que fizeram um cover desta canção, conseguindo chegar ao topo da parada Country norte-americana. A versão cheia de chiados de 40 anos atrás foi substituída por um balanço descontraído que é, ao mesmo tempo, atual e antigo, nostálgico e moderno. E prova que, nos dias de hoje, qualquer música pode ir parar em qualquer lugar.