Morto em 1991, Serge Gainsbourg coleciona fãs ilustres e ganha releituras de sua obra
Se estivesse vivo, o músico, ator e cineasta francês Serge Gainsbourg completaria 80 anos em 2 de abril. Também faria 50 anos de lançamento de seu primeiro disco, Du Chant a la Une! E, provavelmente, comemoraria o fato de sua música continuar influenciando bandas ao redor do mundo. A lista de fãs ilustres inclui Franz Ferdinand, Placebo, o duo belga Vive La Fête e mais um sem-número de nomes do rock. Jane Birkin, ex-companheira, atriz e cantora inglesa, é uma das que mantêm viva a chama da música de Gainsbourg. Em março, ela fez shows no Brasil em que não só cantava músicas do falecido amante, como também relatava histórias da rotina com o célebre compositor, com quem gravou o hit "Je t'aime, Moi Non Plus", e álbuns emblemáticos como Histoire de Melody Nelson. "Serge reinventou a língua francesa. Ninguém soa como ele, mas todos são influenciados por sua música", diz Jane. "Ele estava 20 anos à frente de seu tempo. Mas, graças a Deus, foi entendido, não totalmente, mas muito amado pela França." A filha do casal, Charlotte, segue o canto de qualidade sussurrante: o álbum 5:55, gravado com o Air, dialoga intensamente com o trabalho do pai.
Compositor prolífico, Serge (falecido em 1991, de parada cardíaca) experimentou todos os estilos: jazz, rock, música africana e até reg-gae serviram como moldura para seus versos repletos de aliterações e trocadilhos. Seu modo de cantar, mais declamado e rítmico do que melódico, algo cínico, realçava os fonemas da língua francesa de uma forma onomatopéica.Elegante e cerebral, sua música ecoa no Brasil. Um admirador confesso é Edgard Scandurra, que gravou uma versão em português para "La Decadense", de Gainsbourg, no álbum solo Amor Incondicional (2008). Há um ano, o líder do Ira! abriu o bistrô Le Petit Trou, parafraseando a canção "Le Poinçonneur des Lilas", do primeiro álbum de Gainsbourg. Na trilha do restaurante, somente música francesa, e nas paredes fotos de Serge e suas musas. Durante abril, Scandurra faz shows com versões acústicas das músicas do francês junto a convidados como Arnaldo Antunes. "Ele sempre fez música em sincronia com as tendências de cada década", justifica o guitarrista. "Antes de sua morte, já estava criando quase um tecno-pop, usando samplers. Sempre teve essa meta de apontar um caminho, não vivia do passado."
Outra ligação com a obra de Gainsbourg, esta menos divulgada, acontece através do músico parisiense Erwan Pottier. Morador de Porto Alegre, ele é vocalista da banda Les Responsables, que toca uma versão de "En Melody", do citado álbum Histoire de Melody Nelson. Fã do ídolo conterrâneo, Pottier quer montar um grupo com brasileiros para tocar apenas Gainsbourg e sair em turnê pelo país. Para isso, procura apoio de parceiros interessados. "Gainsbourg é a procura do melhor som das letras e da música, através de todos os estilos. Na França, a figura dele é especial, uma mistura de provocação e grande talento", opina. "Ele vai além do clichê. É um mestre da canção, um pintor surrealista da música."