Após confessar amor homossexual, Frank Ocean lidera as paradas com novo disco
Em um estúdio de Los Angeles, no início do ano, o cantor Frank Ocean mostrou uma prévia de seu novo álbum, Channel Orange, ao presidente da Def Jam, Joe Manda. O chefe do selo ficou abismado com a música – uma mistura fascinante da emoção do R&B e da narrativa do hip-hop – e com o comportamento reservado de Ocean. “Ele ficou lá, quieto”, diz Manda. “Só se sentou e balançou a cabeça.” Ocean estava reservando a notícia bombástica para mais tarde. Em 3 de julho, apenas uma semana antes de lançar o disco no iTunes, o cantor postou uma carta aberta em seu site revelando que o primeiro grande amor de sua vida era um outro homem: “Há quatro verões, conheci alguém. Eu tinha 19 anos. Ele também”, escreveu. “Passamos aquele verão e o próximo juntos… Quando percebi, estava apaixonado. Foi maligno. Desesperador.”
Dado o modo como os artistas de hip-hop costumam falar sobre a atracão entre pessoas do mesmo sexo, o anúncio foi histórico. “Foi belamente escrito e eloquente”, diz Manda, que leu a carta pela primeira vez quando Ocean a colocou na internet. “Foi preciso muita coragem da parte dele para escrever aquilo.” As reações de companheiros artistas foram quase uniformemente positivas: Jay-Z e Beyoncé – que trabalharam com o cantor em seus álbuns mais recentes – postaram palavras de apoio em seus sites. O companheiro de Ocean no coletivo Odd Future, Tyler, the Creator, escreveu no Twitter: “Meu irmão finalmente fez essa porra. Estou orgulhoso (...) porque sei que essa merda é difícil e tudo mais”.
Ainda assim, outros que trabalharam com Ocean – como Kanye West e Justin Bieber – permaneceram em silêncio enquanto a web transbordava de comentários o insultando e até o ameaçando de morte. Foram tantos tweets difamatórios que um apoiador anônimo montou um website, HateTweetsToFrankOcean.com, onde fãs podem responder aos frequentadores da rede social que ofendem Ocean com mensagens ignorantes do tipo “você é a pura escória, sua bicha”.
Mesmo com tudo isso, a reação de apoio dentro da indústria é uma indicação de sinal dos tempos, tanto na música quanto na sociedade. “Ele fez um sacrifício pela comunidade como um todo”, diz o ex-presidente da Def Jam, Russell Simmons. “Isso é o que é inspirador. Ouvi alguém dizer: ‘Quem se importa?’ E eu disse: ‘Os gays que não têm alguém para servir de exemplo’.”
Os efeitos a longo prazo na carreira de Frank Ocean permanecem desconhecidos, mas as vendas de Channel Orange foram altas, com 131 mil cópias comercializadas na semana inicial.